Uganda/Autoridades detêm ilegalmente e torturam centenas de opositores – ONG
Bissau, 22 Mar 22(ANG) – A organização Human Rights Watch (HRW) acusou hoje as autoridades do Uganda de deterem ilegalmente e torturarem centenas de opositores e manifestantes pacíficos e responsabilizou o Governo por não ter punido os autores dos abusos.
“O
Governo do Uganda tolerou as detenções ilegais e o abuso de detidos por parte
dos seus oficiais (…). Medidas urgentes são necessárias para ajudar as vítimas,
para responsabilizar os agentes e para pôr fim a este espectro de impunidade e
injustiça”, disse o investigador da HRW Oryem Nyeko, citado num comunicado da
organização.
Num
relatório de 98 páginas, intitulado “Só preciso de justiça: Detenção ilegal e
abuso em locais de detenção não autorizados no Uganda”, a HRW documenta
desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias, prisões ilegais e outros
maus-tratos por parte da polícia, do exército, dos serviços secretos militares
e da agência nacional de informações, a Organização de Segurança Interna (ISO,
na sigla em inglês).
Na
maioria dos casos, escreve a organização de defesa dos direitos humanos, estes
abusos foram cometidos em locais de detenção ilegais em 2018, 2019 e nos meses
antes das eleições gerais de Janeiro de 2021.
Segundo
os autores do relatório, embora as autoridades tenham por vezes reconhecido a
existência destes abusos, pouco fizeram para lhes pôr fim ou para proporcionar
justiça para as vítimas e as suas famílias.
As
vítimas, acrescenta a HRW, enfrentam problemas físicos, mentais e económicos
persistentes durante e após a sua detenção, assim como obstáculos para obter
justiça.
As
conclusões do relatório resultam de entrevistas a 51 pessoas, incluindo
ex-detidos, testemunhas de raptos e detenções, responsáveis do Governo,
deputados, membros de partidos da oposição, diplomatas, activistas dos direitos
humanos e jornalistas, realizadas em Kampala entre Abril de 2019 e Novembro de
2021.
Os
ex-detidos descreveram como as forças de segurança desprezam procedimentos
judiciais durante as detenções e enquanto mantêm os detidos sob custódia.
Os
agentes das forças de segurança detêm as vítimas nos seus locais de trabalho,
em casa ou na rua e forçam-nos, às vezes com uma arma apontada, a entrar em
veículos descaracterizados, normalmente furgonetas, localmente chamadas de
‘drones’.
As
vítimas ficam detidas numa variedade de locais não autorizados, nomeadamente em
esconderijos supostamente destinados a proteger testemunhas, mas usados como
centros de detenção improvisados.
Em
alguns casos, os detidos foram levados para uma ilha no Lago Victoria, detidos
em veículos, numa sala subterrânea do parlamento ou em casernas militares.
Em
Fevereiro de 2020, a comissão parlamentar de direitos humanos divulgou um
relatório sobre uma investigação que tinha aberto no ano anterior sobre
alegações de que o ISO tinha raptado e detido ilegalmente mais de 400 pessoas.
O
relatório confirmou que as forças de segurança detinham ilegalmente pessoas em
locais de detenção ilegais e recomendou que as agências governamentais
aprofundassem a investigação, mas o Governo não tomou qualquer medida nesse
sentido nem com o objectivo de parar estas práticas abusivas, acusa a HRW.
Os
casos de abusos atingiram um recorde nos dois meses antes das eleições de
Janeiro de 2021, tendo as forças de segurança detido ou feito desaparecer
críticos do Governo, líderes e apoiantes de partidos opositores e alegados
manifestantes. Embora alguns tenham sido libertados ao longo do ano passado,
muitos ainda permanecem desaparecidos.
Ex-detidos
contam que foram impedidos de falar com os seus advogados ou familiares, foram
torturados, espancados, acorrentados, os seus captores deram-lhes choques
eléctricos e injecções com substâncias não identificadas.
Alguns
detidos, tanto homens como mulheres, foram violados e vítimas de tortura sexual
durante a sua detenção.
Tanto
a lei do Uganda como a lei internacional proíbem absolutamente detenções
arbitrárias, desaparecimentos forçados e tortura, sublinha a HRW, que apela às
autoridades do Uganda para que fechem todos os centros de detenção ilegais e
investiguem todos os relatos de abusos.
ANG/Inforpress/Lusa
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