Comércio/Brasil quer ocupar espaço de Kiev na produção de milho
Bissau, 24 Mar 22 (ANG) - O Brasil quer ocupar o espaço que a Ucrânia pode deixar no mercado internacional de milho e acredita que tem capacidade para isso, apesar dos muitos desafios que a sua produção ainda enfrenta.
A forte procura e a
invasão russa da Ucrânia levaram os preços internacionais do milho ao maior
patamar desde 2012, o que está a chamar a atenção dos exportadores brasileiros,
segundo fontes do sector ouvidas pela agência espanhola Efe.
A Ucrânia e a Rússia
juntas representam entre 16 e 18 por cento do mercado mundial de exportação de
milho.
Quanto à Ucrânia, há
muitas dúvidas sobre a viabilidade de sua colheita devido à falta de mão de
obra, ocupada na defesa ou a fugir de ataques russos, e de suprimentos, como
combustível, e também por causa do bloqueio dos seus principais pontos de
exportação.
No caso da Rússia, o
cerco económico internacional coloca as suas operações comerciais no exterior
em sérias dificuldades.
Com esses dois países
fora da equação, o mercado olha para a Argentina e o Brasil, segundo e terceiro
maiores exportadores de milho do mundo, respectivamente, atrás apenas dos
Estados Unidos.
A Ucrânia é a quarto
maior produtor de milho, segundo dados do Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos.
As previsões no Brasil
para a segunda safra de milho da temporada são boas, depois de uma primeira que
foi afectada por uma seca severa.
A Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab) do Brasil estima que a produção total do cereal crescerá
29 por cento na safra 2021/22, atingindo 112,3 milhões de toneladas,
impulsionada por essa segunda colheita.
"Temos condições de
produzir um pouco mais e já estamos a plantar mais do que no ano passado",
explicou à Efe o presidente institucional da Associação Brasileira dos
Produtores de Milho (Abramilho), Cesário Ramalho.
"O Brasil tem um
potencial de crescimento muito bom e estamos face a uma grande oportunidade.
Temos mercado, compradores e área para isso", acrescentou.
No entanto, existem
vários factores que podem arruinar toda essa expectativa.
Para começar, as
previsões meteorológicas não são as melhores e existe a possibilidade de que o
fenómeno La Niña dure até junho ou Julho.
Nesse contexto, Felippe
Serigati, investigador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas
(FGV Agro), considera que se a segunda safra de milho for boa, servirá
principalmente para cobrir os danos da primeira.
Além disso, segundo
Ramalho, o Brasil consome 70 por cento da sua produção, pois é o maior
exportador mundial de carne e boa parte do seu milho é destinada ao fabrico de
ração para suínos e aves.
Mas com os preços e a
procura internacional em alta, os produtores locais podem começar a olhar mais
para o mercado de exportação, movimento que pode ter impacto no cenário
nacional.
"O Brasil tem que
estar atento porque precisa muito do milho e há um certo pânico. Essa corrida
pelo milho preocupa-me", disse Ramalho.
Além disso, há um
problema de altos custos e dúvidas sobre o fornecimento de fertilizantes, ramo
em que a Rússia é um grande produtor mundial.
"O sector de milho
vai iniciar o próximo ciclo com custos muito altos e a incerteza de ter acesso
a esses insumos de produção", acrescentou o especialista.
No entanto, Ramalho
minimizou a possível falta de fertilizantes devido às sanções contra a Rússia e
que mobilizou o governo brasileiro em busca de novos fornecedores.
"Temos terras muito
bem adubadas. Podemos plantar um ano com menos e nas terras mais férteis mesmo
sem elas", concluiu.ANG/Angop
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