Ucrânia/Rússia “isolada” na ONU após aliados avaliarem que ‘linhas vermelhas’ foram ultrapassadas
Bissau, 31 Mar (ANG) – A Rússia encontra-se isolada na Organização das Nações Unidas (ONU), tendo sido abandonada até por importantes países aliados, que consideram que foram ultrapassadas ‘linhas vermelhas’ com a guerra na Ucrânia, disse à Lusa fonte diplomática.
Contudo,
e apesar de “normalmente não se importar de ser vista sozinha em vários
processos”, desta vez a situação é diferente e a Rússia realmente está a fazer
um esforço para conseguir obter algum apoio, assegurou a mesma fonte, que falou
sob anonimato acerca dos bastidores dos intensos esforços diplomáticos
desencadeados após a invasão da Ucrânia por forças russas, a 24 de Fevereiro.
“Desta
vez, a Rússia está a importar-se com o isolamento e aí está um óbvio efeito
político das resoluções da Assembleia-Geral da ONU, que não têm efeito
jurídico, mas que têm esse impacto político. Está a importar-se e está a
notar-se não só na linguagem corporal dos diplomatas russos nessas votações,
mas também noutros processos e isso é muito importante”, disse.
Exemplo
desse isolamento foram os recentes resultados de duas resoluções na
Assembleia-Geral das Nações Unidas, que por duas vezes durante o corrente mês
obtiveram uma esmagadora maioria contra a Rússia.
A 02
de Março, por iniciativa da União Europeia, a Assembleia-Geral da ONU aprovou
um primeiro texto condenando a Rússia por ter invadido a Ucrânia em 24 de
fevereiro.
A
resolução foi descrita como “histórica”, por ter obtido 141 votos a favor, 35
abstenções e apenas cinco votos contra.
Cerca
de 20 dias depois, em 24 de Março, a mesma Assembleia-Geral aprovou, com uma esmagadora
maioria de 140 votos, uma resolução responsabilizando a Rússia pela crise
humanitária na Ucrânia devido à guerra.
Ambas
as resoluções obtiveram cinco votos contra: Rússia, Bielorrússia, Síria, Coreia
do Norte e Eritreia e as abstenções oscilaram entre 35 e 38, dos 193
Estados-membros das Nações Unidas.
A
fonte diplomática destacou que abstenções de países aliados como Irão,
Nicarágua, República Centro Africana e Mali significam que Moscovo foi
demasiado longe e ultrapassou aquilo que seriam ‘linhas vermelhas’ para esses
países.
“O
Irão é um forte exemplo de abstenção, ou a Nicarágua. A República Centro
Africana e o Mali, onde o grupo privado de segurança russo Wagner está muito
activo, abstiveram-se. Mesmo esses países abstiveram-se e a Rússia está a olhar
para isso. Mesmo os poucos países que seria naturalmente previsível que
estivessem com a Rússia, mesmo numa situação destas, não estão. Ou seja, até
mesmo para alguns países, a Rússia chegou demasiado longe, ultrapassou aquilo
que seriam ‘linhas vermelhas'”, avaliou.
Na
sede da ONU, em Nova Iorque, a Rússia, que tem “um papel tradicionalmente muito
forte” em várias esferas, tem adoptado agora uma postura mais suave noutras
discussões, como na 5ª Comissão, que cuida de assuntos orçamentais e administrativos
das Nações Unidas, e na qual Moscovo passou a adoptar um posicionamento mais
discreto, por “preocupação com o isolamento”.
“A
Rússia está preocupada com esse isolamento, pelo facto de se ter metido numa
guerra que, em termos legais e de direito internacional, ‘não tem ponta por
onde se lhe pegue’”, avaliou a fonte diplomática.
“Portanto,
até um país como a Rússia, que se aguenta bem sozinho em negociações
internacionais, sente que precisaria de algum apoio em alguma área. Seria
interessante observar que áreas vai escolher a Rússia, não só no âmbito das
Nações Unidas, mas no âmbito de outras negociações multilaterais e até relações
bilaterais, para tentar criar as pontes que neste momento vê destruídas à sua
volta”, advogou.
E
exemplo concreto do impacto desse isolamento tem sido o próprio embaixador da
Rússia junto da ONU, Vasily Nebenzya, que desde que a guerra começou e o seu
núcleo de apoio se começou a reduzir, viu também mirrar a sua postura corporal,
sendo frequente vê-lo cabisbaixo a pronunciar-se no Conselho de Segurança ou na
Assembleia-Geral ou a evitar declarações à imprensa a todo o custo, algo que no
passado não acontecia.
A
Rússia lançou em 24 de Fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo
menos 1.151 civis, incluindo 103 crianças, e feriu 1.824, entre os quais 133
crianças, segundo os dados mais recentes da ONU, que alerta para a
probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A
guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 3,8
milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados
internos.
A ONU
estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária
na Ucrânia.
A
invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que
respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas
e políticas a Moscovo. ANG/Inforpress/Lusa
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