Camarões/ Oposição fragmentada favorece reeleição de
Paul Biya
Bissau, 13 Out 25 (ANG) - As
eleições presidenciais nos Camarões decorrem num cenário de forte desequilíbrio
político, marcado pela exclusão de Maurice Kamto, principal figura da oposição,
e pela dispersão da oposição em 11 candidaturas.
Luís Bernardino, professor de
Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Lisboa, afirma que “a
oposição está muito enfraquecida” e lembra ainda que “estes 11
candidatos da oposição concordaram inicialmente com a necessidade de se unirem,
mas depois tiveram dificuldades em chegar a um acordo e aparecem nestas
eleições completamente desarticulados”.
Esta fragmentação da oposição não é nova, mas
para Luís Bernardino, “é um erro estratégico e pouco entendível”, que “vai, de facto,
garantir ou dar uma possibilidade muito forte a Paul Biya de conseguir
novamente a reeleição”.
Maurice Kamto, que nas presidenciais de 2018
conquistou 14% dos votos contra os 70% de Paul Biya, permanece como referência
simbólica da oposição. Contudo, o seu afastamento deixou o campo aberto à
proliferação de pequenas formações políticas. “Uma nota interessante
é que tivemos para estas eleições 83 candidatos presidenciais, um número
recorde em África e talvez no mundo”, sublinha o especialista.
Depois de 43 anos à frente dos Camarões, Paul
Biya, de 92 anos, candidata-se a um novo mandato de sete anos. O Presidente
camaronês, que apenas participou num comício de campanha (em Maroua, no
extremo-norte do país), conta com a capacidade de mobilização do seu partido, o
Reagrupamento Democrático do Povo Camaronês (RDPC), presente em todo o
território.
“Paul Biya
compareceu na passada quinta-feira, no seu primeiro e único comício de
campanha”, realizado em Maroua, no extremo norte do país - “uma zona muito
pobre dos Camarões, onde há também uma presença muito grande do Boko Haram”,
explicou.
No discurso, o Presidente prometeu “reforçar a segurança da região, contrariar os
ataques extremistas” e “melhorar o desemprego dos jovens, as infra-estruturas
rodoviárias e os apoios sociais”. Biya demonstrou mais uma vez
o seu instinto político: “foi directamente ao centro da questão, no
local mais problemático falar dos problemas que ele pretende levar a efeito”.
Com cerca de 43% da população a viver na
pobreza e uma maioria de jovens em idade de votar, “Paul Biya escolheu falar essencialmente aos
jovens, porque ele sabe que se conseguir mobilizar os jovens, mobiliza grande
parte da sociedade em seu favor”, explica o professor Luís
Bernardino.
Depois de mais de quatro décadas no poder,
Biya é “o chefe de Estado mais velho do mundo em
funções, o mais antigo de África, a seguir a Teodoro Obiang, da Guiné
Equatorial”. A
sucessão é, contudo, um tema sensível e praticamente ausente do debate político. “Vai ser um problema, que vai acontecer possivelmente após as eleições,
quando ele vier a ser eleito, porque já haverá candidatos que se posicionam
para o substituir”.
A legislação prevê que, em caso de vacatura do poder, o presidente do
Parlamento assuma temporariamente a chefia do Estado, mas “não pode concorrer
a essas eleições”, o
que “vai abrir uma possível
dificuldade acrescida quando isto vier a acontecer”.
“Paul
Biya, ao longo dos seus mandatos, procurou sempre equilibrar e favorecer a sua
presença através de várias mudanças constitucionais e alterações legislativas
que agora vão criar um problema de sucessão”, conclui Luís Bernardino.ANG/RFI

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