Brasil/Rio confirma 121 mortos, Procuradoria fala em 132
Bissau, 30 Out 25 (ANG) - O governo do Rio de Janeiro confirmou, na quarta-feira, que 121 pessoas morreram no âmbito da megaoperação levada a cabo nos complexos do Alemão e da Penha, que visava combater o avanço territorial do Comando Vermelho.
Entre os mortos estão quatro polícias e 117 suspeitos, segundo o secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi. Ainda assim, a Defensoria Pública daquele estado brasileiro (o equivalente ao sistema português de apoio judiciário) disse que morreram 132 pessoas, depois de os moradores terem encontrado pelo menos 74 corpos numa mata.Os cadáveres, todos do sexo masculino, estavam na zona da Vacaria,
na S
erra da Misericórdia, onde os
confrontos entre as forças policiais e as fações criminosas se concentraram,
noticiou o g1.
Os corpos de pelo
menos 74 pessoas foram transportados pelos residentes para a Praça São Lucas,
uma das principais da região. Contudo, de acordo com Curi, foram contabilizadas
63 vítimas mortais. Este responsável revelou ainda que 113 suspeitos foram
detidos.
As autoridades vão,
agora, apurar se as mortes estão relacionadas com a operação. É que, segundo o
governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, a contabilidade "conta a
partir do momento que os corpos entram no Instituto de Medicina Legal".
"A Polícia
Civil tem a responsabilidade enorme de identificar quem eram aquelas pessoas.
Não posso fazer um balanço antes de todos entrarem", disse, justificando o
porquê de não ter comentado o número de corpos encontrados na mata.
O responsável
considerou, além disso, que a operação foi um "sucesso" e que apenas
os quatro polícias que morreram são "vítimas".
O secretário de
Segurança Pública, Victor Santos, ecoou esta posição, tendo apontado que o
"dano colateral" foi "muito pequeno". Já o secretário da
Polícia Militar, Marcelo de Menezes, deu conta de que as autoridades pretendiam
cercar os criminosos e empurrá-los para a mata, onde equipas do Batalhão de
Operações Especiais estavam posicionadas.
Felipe Curi, por
seu turno, indicou que poderá estar em causa uma situação de fraude processual,
uma vez que os moradores removeram as roupas dos cadáveres, para facilitar a
sua identificação. No entanto, o secretário da Polícia Civil argumentou que as
indumentárias foram retiradas para não haver associação com o grupo de crime
organizado. Disse, por isso, que as autoridades instauraram um inquérito.
O ministro da
Justiça do Brasil, Ricardo Lewandowski, confessou que o presidente, Lula da
Silva, ficou "estarrecido" com o
número de mortos e surpreendido "que uma operação desta envergadura fosse
desencadeada sem conhecimento do governo federal, sem nenhuma possibilidade de
o governo federal participar de alguma forma".
Lula da Silva ainda
não se manifestou publicamente sobre o caso, uma vez que, quando a operação
decorreu, estava a regressar de uma viagem oficial à Ásia.
Já o
secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres,
manifestou estar "profundamente preocupado" e pediu que seja
realizada uma "investigação imediata" à megaoperação de terça-feira.
"O
secretário-geral está profundamente preocupado com o grande número de vítimas
durante uma operação policial realizada ontem [terça-feira] no Rio de Janeiro.
[…] O secretário-geral salienta que o uso da força em operações policiais deve
respeitar as leis e normas internacionais de direitos humanos e insta as autoridades a conduzirem uma investigação imediata", disse o porta-voz Stéphane Dujarric.
Uma
megaoperação contra o Comando Vermelho acabou por se tornar na mais letal de
sempre, com a morte de mais de 100 pessoas, no Rio de Janeiro. Mas, afinal, o
que é e como se formou a maior organização criminosa do Brasil?
Recorde-se que os 2.500 agentes mobilizados apreenderam também 93 espingardas e "enormes" quantidades de droga, naquela que foi descrita por Cláudio Castro como "a maior operação das forças de segurança do Rio de Janeiro". A ação estava, de acordo com o responsável, integrada na Operação Contenção - uma iniciativa permanente do governo local contra o Comando Vermelho.
Como represália, os
criminosos barricaram vários locais da zona Norte da capital do estado,
nomeadamente a Avenida Brasil, a Linha Vermelha e a Cidade de Deus, com recurso
a pelo menos 50 autocarros e a carros roubados.
O Comando Vermelho
dedica-se maioritariamente ao tráfico de droga e de armas, tendo o seu centro
de operações no estado do Rio de Janeiro, onde controla algumas comunidades da
cidade. Ainda assim, está presente em grande parte do país, especialmente na
região da Amazónia.
A organização
existe desde a década de 1980, altura em que a ditadura militar concentrou nas
mesmas prisões delinquentes e membros de grupos de guerrilha com formação
política e militar. ANG/Lusa

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