“Depois das eleições, ONU colocará técnicos do FMI nas
Finanças, e outros departamentos”, afirma José Ramos-Horta
Bissau, 22 Out. 13 (ANG) - O Representante Especial do Secretário-Geral e Chefe do Gabinete
Integrado das Nações Unidas de Apoio à Consolidação da Paz na
Guiné-Bissau (UNIOGBIS) anunciou sexta-feira, em Bissau, que depois de
realizadas as eleições gerais no país,as Nações Unidas irão colocar
técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI) no Ministério das
Finanças, para a gestão das finanças públicas.
De acordo com José Ramos-Horta, a medida será extensiva às Direcções
gerais das Alfândegas e Administração dos Portos da Guiné (APGB) e
citou exemplos disso que estão a ser feitos no mundo e por ser uma
iniciativa de sentimento generalizado dos organismos internacionais na
Guiné-Bissau.
“Nas finanças públicas, terá ali seis
técnicos internacionais do FMI a trabalhar com o ministro das Finanças,
as alfândegas de Bissau, o Porto de Bissau a entregar a um grupo inglês
chamado Crown , ele faz a gestão da alfândega e do porto, vocês vão ver,
o país vai começas a fazer muito mais receitas”, precisou.
“E, isso não é novo. Países maiores que a Guiné-Bissau fazem-no. Na
Indonésia, o porto de Djakarta, mil vezes maior que o da Guiné-Bissau e
foi mil vezes mais corrupto, o que é que fizeram? Touxeram uma empresa
da Suiça para gerir o porto de Djakarta”, destacou.
Foi nesse sentido que o diplomata timorense ao serviço das NU na
Guiné-Bissau anunciou que a comunidade internacional disponibizará o
número de técnicos necessário para negociar com o executivo que sairá
das urnas.
“A minha receita – recomendação para a Guiné-Bissau é esta: depois
das eleições, assinar acordos com a ONU, com o Banco Mundial, o FMI, a
União Africana, a CEDEAO e países amigos para colocarem técnicos
internacionais em número que fôr necessário – negociações com o governo
desde A a Z”, recomendou.
Ramos-Horta avisou que, se isso não fôr feito, depois das eleições tudo continuará na mesma.
“Tudo isso tem que ser pensado. Por que senão, vai haver eleições,
vai haver um novo governo, nada vai mudar. Os professores continuam a
não ser pagos, as alfândegas vão continuar a produzir dinheiro, mas não
vai para os cofres do Estado, ficará – não sei, com o ministro ou com a
esposa do ministro ou a tia do ministro, os primos.
Muitos portos
americanos estão nas mãos de singapurenses a gerir os portos. Mas não é
uma questão de vergonha não. Faz-se assim mesmo. No meu país, em
Timor-Leste, o nosso porto é dos que mais mal funciona.
Não é por
corrupção, é por preguiça. O pessoal entra as oito da manhã e sai às
cinco da tarde, enquanto há trinta barcos a espera lá fora”, referiu.
Para se sair desta situação, de forma definitiva, Ramos-Horta propôs
que os guineenses abandonem práticas do passado, onde quem ganhava,
ganhava tudo e aquele que perdia, perdia tudo passando a ser tratado
como cidadão de segunda classe.
“As vossas excelências têm uma oportunidade única – uma janela aberta
para realizarmos as eleições , formar um novo governo, mas um governo
abrangente. Os irmãos da Guiné-Bissau têm que abandonar aquela cultura
prática do passado – quem ganha, ganha tudo e quem perde é tratado como
cidadão da segunda classe”, lamentou Ramos-Horta.
“O partido que ganhar, convida o segundo, o terceiro, o quarto e o
Presidente da República e o primeiro-ministro têm que colaborar”,
recomendou.
Em relação aos militares, José Ramos-Horta disse que estes se tornam vulneráveis logo que eles estiverem metidos na política.
“Militares, se é militar, ele está no quartel, trata da saúde dos
seus homens e das suas mulheres nos quarteis, e não estão metidos na
política ninguém os critica. Quando nós nos metemos na política, somos
vulneráveis.
Se as forças armadas estão mesmo neutrais, estão nos
quartéis cumprindo a constituição que é a defesa das fronteiras, da
soberania do país, da integridade territorial, e o povo estará todo
atrás, porque o povo, o consenso que existe no povo é isso – a nossa
independência é intocável, sagrada, as forças armadas estão para isso”,
defendeu.