Irão/Nobel da Paz diz que prisão valeu a pena pela liberdade do Irão
Bissau, 07 Fev 25 (ANG) - A vencedora iraniana do Nobel da Paz,
Narges Mohammadi, que passou mais de uma década presa e não vê os filhos há 10
anos, disse hoje que tudo valeu a pena em nome da liberdade no Irão.
A pesar de ter sido detida
13 vezes, condenada nove e de ter passado meses em celas do tamanho de um
"túmulo", ativista garantiu, em entrevista à agência espanhola de
notícias Efe, que o mais importante é a "azadi" (liberdade em persa)
dos iranianos.
"Liberdade para as mulheres e para todos os iranianos,
liberdade de imposições políticas e liberdade para além das "ideias,
pensamentos, raça, etnia e língua" de cada indivíduo, explicou a ativista
de 52 anos.
"Isto é tão importante para mim que acho que estou disposta
a pagar um preço ainda mais elevado", admitiu.
A entrevista decorreu por videoconferência, a partir da sua casa
em Teerão, já que Mohammadi saiu da prisão em novembro, com uma licença de 21
dias para tratar da remoção de um tumor da sua perna.
No entanto, e embora o prazo da suspensão da pena já tenha
acabado, a ativista não voltou à prisão.
"Não acho que deva estar presa e não voltarei à
prisão", assegurou, explicando que os seus advogados pediram uma
prorrogação da sua licença, à qual o Ministério Público não respondeu.
Desde 2001 esteve presa várias vezes na temível prisão de Evin,
onde passou 10 anos e onde foi sujeita a espancamentos, além de ter passado
quatro meses em celas de confinamento solitário do tamanho de "um
túmulo".
Tem ainda mais uma década de prisão pela frente pelo seu
ativismo pela democracia e contra a repressão das mulheres e a pena de morte.
Os esforços dos 'ayatollah' para a silenciar foram, no entanto,
em vão: quando foi libertada, em dezembro, gritou "olá, liberdade" e
"mulher, vida, liberdade" -- o 'slogan' dos protestos de 2022 -- e,
desde que saiu da prisão, continua o seu ativismo com mensagens nas redes
sociais, entrevistas e participações, de forma remota, em fóruns
internacionais.
"Pode haver mais acusações contra mim por causa de tudo
isto, mas não me importo nada", garantiu.
Este ativismo "indomável", tal como definido pela
organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, valeu-lhe o
Prémio Nobel da Paz em 2023 "pela sua luta contra a opressão das mulheres
no Irão e pela promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos".
O prémio aumentou a sua visibilidade pública e a da sua causa,
mas causou mais pressão por parte das autoridades iranianas: o seu telefone foi
cortado, não foi autorizada a comparecer ao funeral do pai e foi-lhe negado
atendimento médico durante meses, referiu.
Ainda assim, Narges Mohammadi reconhece que o preço mais elevado
que pagou foi "perder" os seus filhos gémeos, de 18 anos, Ali e
Kiana, que não vê há uma década e que receberam o Prémio Nobel em seu nome, mas
acredita que "também os seus corações batem pelo seu país, pelos seus
compatriotas e para alcançar os ideais" que têm em comum e que, por isso,
compreendem a situação.
Mohammadi acredita também que não é a única disposta a pagar um
preço pela liberdade no Irão e aponta as mulheres que correm o risco de ser
alvo de multas ou de ser presas por não usarem o véu islâmico, algo que se
tornou um gesto de desobediência civil desde a morte de Mahsa Amini, em 2022,
depois de ter sido presa por não usar o 'hijab' corretamente.
Para a ativista, a imposição do véu é mais uma questão política
do que religiosa, através do qual "é mantido o domínio" de metade da
população para o estender aos restantes.
O Governo diz que já não pune as mulheres que não se cobrem, o
que a ativista vê como uma vitória para as mulheres iranianas.
"O facto de vermos mulheres na rua sem véu não é resultado
da vontade do regime, é por vontade nossa, das mulheres", sublinhou, dando
como exemplo a forma como os protestos pela "vida, mulheres,
liberdade" continuam vivos, embora já não como manifestações.
"Estamos dispostas a pagar um preço, a pagar preços mais
elevados para alcançar a liberdade", concluiu. ANG/Lusa
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