Sudão do Sul/Corte dos EUA ameaça vida de infetados com VIH no Sudão do Sul e Quénia
Bissau, 18 Fev 25 (ANG) - O fim da ajuda externa
norte-americana está a colocar em risco de vida cerca de 70 mil pessoas que
vivem com VIH/SIDA no Sudão do Sul e no Quénia, onde a situação é
"devastadora", alertaram hoje responsáveis de ONG.
Na sequência da decisão do Presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, de suspender a ajuda norte-americana, canalizada sobretudo através da
Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), no
Sudão do Sul, tal como no Quénia, as pessoas infetadas com VIH/SIDA podem não
sobreviver.
"A
súbita suspensão do financiamento pelo Presidente Trump pôs em risco os
serviços básicos, ameaçando reverter anos de progresso na luta contra a
epidemia do VIH", alerta Evelyn Letio Unzi, diretora Executiva da ONG National
Empowerment of Positive Women United (NEPWU), que se dedica a ajudar pessoas
que vivem com VIH no Sudão do Sul e conta com financiamento, entre outras, da
USAID e da Organização Internacional para as Migrações (OIM, sigla em inglês).
De acordo com Unzi, desde que a administração Trump anunciou a
suspensão do financiamento e o desmantelamento da USAID até que os tribunais
norte-americanos suspenderam temporariamente a medida, "1.500 pessoas que
vivem com VIH perderam consultas, medicamentos e viram o seu tratamento
interrompido", disse.
A este respeito, Unzi apelou ao Governo do Sudão do Sul, país
mais jovem de África, para que ativasse medidas para ajudar estes doentes e
apelou, também, para que isto fosse um aviso para que não se dependesse apenas
da ajuda externa.
No Quénia, o congelamento da ajuda dos EUA já é
"devastador", também, para as pessoas seropositivas, que estão sem
acesso a medicamentos, de acordo com fontes locais ouvidas pela agência AFP.
"Se não os tomar [os medicamentos], não posso estar
bem", disse à AFP Hellen Anyango, mãe de quatro filhos, de 43 anos,
seropositiva, que vive numa aldeia do condado de Kisumu, no oeste do Quénia,
onde mais de 11% da população deste condado é seropositiva. A média nacional é
de cerca de 3%.
Tal como milhões de pessoas em todo o mundo, Anyango depende de
medicamentos caros, que limitam a multiplicação do vírus no corpo, tal como
depende do Pepfar, um programa anti-HIV/SIDA lançado por George W. Bush em
2003.
Embora o impacto da decisão dos EUA seja difícil de quantificar,
já teve um efeito "devastador", nomeadamente o fim abrupto de
numerosos programas de apoio, investigação e prevenção, bem como a perda de
pessoal de saúde formado para lidar com a sensibilidade da doença.
De acordo com números de 2023 da embaixada dos Estados Unidos no
Quénia, os Estados Unidos investiram pelo menos cerca de 7,65 mil milhões de
euros no país da África Oriental através do Pepfar, proporcionando acesso a
antirretrovirais (ARV) a 1,3 milhões de pessoas ao longo de 20 anos e salvando
"milhões" de vidas.
No final de janeiro, Trump deu ordem para congelar a ajuda
externa do seu país, canalizada principalmente através da USAID, uma
organização da qual também ordenou o despedimento da maioria dos seus
funcionários em todo o mundo.
A decisão provocou o pânico entre as organizações humanitárias
de todo o mundo que dependem dos contratos dos EUA para continuar a funcionar.
No entanto, em 13 de fevereiro, um juiz federal bloqueou
temporariamente a ordem do Presidente dos EUA, Donald Trump, de congelar a
ajuda externa dos EUA, enquanto outro tribunal suspendeu o desmantelamento da
USAID.
De acordo com a ONU, os Estados Unidos são, de longe, o maior
fornecedor de ajuda externa, com quase 68,9 mil milhões de euros investidos até
2023, representando 40% da ajuda humanitária global.ANG/Lusa
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