Etiópia/UA denuncia
crimes de guerra em curso no Sudão
Bissau, 19 Fev 25 (ANG) - A União Africana denunciou
hoje "crimes de guerra e contra a humanidade em curso" no
Sudão, em guerra civil desde abril de 2023, e a nação africana acusou Nairobi
de apoiar o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido.
A UA está "preocupada com a escalada contínua do
conflito" entre os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na
sigla em inglês) de Mohamed Hamdane Daglo e o exército do general Abdel Fattah
al-Burhane, e, "em particular, com a continuação da prática de crimes de
guerra e crimes contra a humanidade", escreveu hoje a organização
pan-africana num comunicado.
Vários países, incluindo os Emirados Árabes Unidos e a Etiópia,
apelaram a uma trégua humanitária durante o Ramadão, que começa no final de
fevereiro.
Na semana passada, a UA descreveu o atual conflito no Sudão como
"a pior crise humanitária do mundo", com centenas de milhares de
crianças a sofrer de desnutrição aguda grave.
A fome já está a afetar cinco regiões sudanesas, incluindo três
no Darfur do Norte, e prevê-se que se estenda a cinco outros distritos do
estado até maio, segundo as agências da ONU, com base num relatório recente do
Sistema de Classificação da Segurança Alimentar (IPC).
Por sua vez, a nação africana acusou hoje o Quénia de apoiar as
RSF, após os paramilitares terem anunciado a sua intenção de estabelecer
um Governo paralelo ao atual Governo sudanês, na sequência de uma reunião
com vários grupos civis em Nairobi.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) sudanês lamentou,
em comunicado, que o Governo queniano tenha "desrespeitado as suas
obrigações ao abrigo do direito internacional ao acolher a assinatura de um
chamado 'acordo político' entre a milícia terrorista Janjaweed (RSF) -
responsável por atos de genocídio em curso no Sudão - e os indivíduos e grupos
a ela associados".
"Uma vez que o objetivo declarado deste acordo é
estabelecer um Governo paralelo em parte do território sudanês, esta medida
promove o desmembramento dos Estados africanos, viola a sua soberania e
interfere nos seus assuntos internos", reiterou o MNE sudanês na
nota.
Tudo isto representa, segundo o Governo sudanês, uma
"clara violação da Carta das Nações Unidas, do Ato Constitutivo da
União Africana e dos princípios estabelecidos da ordem internacional
contemporânea".
Para o executivo sudanês, "acolher os líderes da
milícia terrorista das RSF e permitir-lhes levar a cabo atividades
políticas e de propaganda - enquanto continuam a perpetrar genocídio, a massacrar
civis por motivos étnicos, a atacar campos de deslocados e a cometer violações
- constitui aprovação e cumplicidade nestes crimes hediondos", afirmou.
De igual modo, o MNE sudanês salientou que esta ação do
Governo queniano não só viola os princípios de boa vizinhança, como também é
contrária aos compromissos assumidos pelo Quénia ao mais alto nível no sentido
de não permitir a realização de atividades hostis contra o Sudão no seu
território.
Por conseguinte, "equivale a um ato de hostilidade contra
todo o povo sudanês", indicou.
O MNE do Sudão apelou, por fim, à comunidade internacional
para que condenasse este "ato hostil do Governo queniano", afirmando
ainda que vai tomar "todas as medidas necessárias para restabelecer o
equilíbrio".
O anúncio das RSF foi feito após o exército sudanês ter
dito, segunda-feira, que as suas tropas estão a avançar para norte de Cartum,
apertando o cerco às RSF em torno da capital sudanesa, depois de
terem tomado o controlo, no início de janeiro, da cidade estratégica de Wad
Madani, no estado de Al-Jazira.ANG/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário