Alemanha/Refugiados
sírios recusam regressar ao seu país
Bissau, 17 Fev 25 (ANG) - Os refugiados sírios que
chegaram à Alemanha na vaga de 2015, em plena guerra civil, não querem
regressar à Síria e "estão empenhados" em permanecer no país, disse à
Lusa um conselheiro, quando a imigração domina o debate das legislativas.
Não, não, não, não, em maiúsculas", afirmou Ibrahim Zaaboub,
quando questionado pela Lusa sobre se pretende regressar ao seu país, após a
queda do regime de Bashar al-Assad na Síria.
"E isto é a opinião de todos os sírios que conheço. O nosso
objetivo é ficar na Alemanha e ter a cidadania", garantiu o homem, um dos
centenas de milhares de sírios que chegaram à Alemanha como refugiados, numa
política de 'portas abertas' da então chanceler, Angela Merkel (CDU).
Dez anos depois, já com a mulher -- que um ano depois se lhe
juntou -- e dois filhos, Ibrahim, 42 anos, garante que a sua terra é a
Alemanha. "Aprendemos as regras daqui", comentou.
"Já não conheço a Síria, tenho dificuldade em lembrar-me.
Regressar agora seria recomeçar do zero", considerou.
Questionado sobre se os sírios pretendem regressar ao seu país e
ajudar na reconstrução, o homem negou.
"Podem ajudar a Síria a partir daqui, financeiramente. Mas
quanto a voltar, estou cético. A Síria precisa de tempo, pelo menos cinco anos,
para se reerguer", considerou.
Em Damasco, trabalhava num serviço de atendimento ao cliente, de
manhã, e como jornalista num jornal em língua inglesa, à tarde.
Quando decidiu emigrar, primeiro sozinho, sentia que "não
havia nenhuma luz ao fundo do túnel" na Síria. "Estávamos cercados
pela guerra, havia bombardeamentos em todo o lado", contou à Lusa.
Já em território alemão, ficou alojado "duas ou três
noites" num acampamento de tendas, algo que o surpreendeu, mas depois
recebeu apoios do Estado para estudar a língua, fez um curso de marketing
online e conseguiu arrendar "um pequeno apartamento, de 25 metros
quadrados".
Desde 2019 trabalha na Cruz Vermelha, como responsável pela
integração de migrantes, em Mannheim, sudoeste da Alemanha.
"É um trabalho que me deixa muito feliz, porque consigo
apoiar pessoas que estão a fazer o mesmo percurso que eu fiz, quando vim para a
Alemanha. Mas eu fiz tudo sozinho, não havia organizações a apoiar, e eu sei
que é muito difícil", descreveu.
Ibrahim sublinhou o seu "orgulho" pela comunidade
síria no país.
"Eu não quero comparar com outros refugiados, mas nós
viemos só com bilhete de ida. Não temos outra solução. Por isso, temos de nos
esforçar para nos integrarmos neste país, aprender a língua, trabalhar. Senão,
mandam-nos de volta para a Síria e ninguém quer isso, porque a situação não é
segura", defendeu.
Após a destituição de Assad, em dezembro, o Governo alemão
anunciou a intenção de verificar o estatuto de proteção dos refugiados sírios,
prevendo que aqueles que permanecem no país por motivos que não sejam trabalho
ou formação terão de regressar à Síria quando a situação estabilizar.
"A maioria dos sírios trabalham, mas os que estão
desempregados ou que não falam bem a língua, estão agora mais empenhados para
tentarem cá ficar", disse Ibrahim.
O conselheiro sírio acredita que a Alemanha conta com esta
comunidade.
"Os alemães querem-nos, mas não querem as pessoas que não
fizeram nada nestes 10 anos, e eu entendo isso. Não querem os criminosos, os
que estão aqui só a receber dinheiro e que criam os problemas", argumentou.
A chegada de mais de um milhão de sírios, há 10 anos, alimentou
os sentimentos anti-imigração, ecoados pelos partidos Alternativa para a
Alemanha (AfD, extrema-direita), em segundo lugar nas sondagens para as
eleições do próximo dia 23, e Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), partido
populista de esquerda criado há um ano e que procura entrar agora para o
Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão).
O ressentimento tem crescido com ataques perpetrados por
refugiados, alguns com ordem de expulsão, como o ocorrido na quinta-feira
passada, quando um cidadão afegão dirigiu um carro contra uma multidão, em
Munique, matando uma criança de 2 anos e a mãe e ferindo quase 40 pessoas.
A candidata a chanceler da AfD, Alice Weidel, proclamou, em
plena campanha para as legislativas, o polémico conceito da
"remigração", defendendo o encerramento total das fronteiras da
Alemanha e deportações em massa de pessoas estrangeiras.
O tema da imigração tem dominado o debate, com a CDU, favorita
nas sondagens, a propor o endurecimento das políticas de imigração, com o apoio
da AfD, numa aproximação criticada pelos adversários, que acusam o candidato a
chanceler, Friedrich Merz, de romper o 'cordão sanitário' contra a
extrema-direita.
A Alemanha acolhe a maior diáspora síria na União Europeia (UE),
com cerca de 974.136 pessoas com nacionalidade síria a viverem no país, tendo a
maioria vindo como refugiados em 2015.
Destas, 5.090 foram reconhecidas como elegíveis para asilo,
321.444 obtiveram o estatuto de refugiado e 329.242 obtiveram proteção
subsidiária, uma medida temporária, enquanto dezenas de milhares de outros
casos continuam pendentes.ANG/Lusa
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