segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Namíbia/Morte aos 95 anos de Sam Nujoma, "Pai da Independência" da Namíbia

Bissau, 10 Fev 25 (ANG) -  O primeiro Presidente da Namíbia, Sam Nujoma, faleceu no sábado aos 95 anos de idade, após três semanas de hospitalização.

Considerado um herói da independência namibiana, o antigo chefe da luta armada que se tornou Presidente permaneceu no poder durante quinze anos, com a bandeira da SWAPO, partido de que foi co-fundador em 1960. Ao anunciar a sua morte, a presidência da Namíbia saudou o "pai fundador" do país.

A Namíbia perdeu no fim-de-semana a figura mais marcante da sua história recente, Sam Nujoma, considerado o artesão da independência desse país, que depois de ter estado sob tutela alemã, tinha ficado sob o controlo da África do Sul depois da Primeira Guerra Mundial, até ao ano de 1990.

Nascido A 12 de Maio de 1929 perto de Okahao, no norte do país, no seio de uma família de camponeses, Sam Nujoma foi o mais velho de onze filhos. Ele passou a sua juventude a lavrar a terra e cuidar do gado. Aos 17 anos, ele partiu da sua região e foi estabelecer-se na cidade portuária de Walvis Bay, no oeste.

Aí, ele trabalha nos caminhos-de-ferro e estuda em horário pós-laboral. Aí também ele é confrontado com a discriminação racial decorrente do sistema do Apartheid que então vigorava na Namíbia e na África do Sul, forma-se politicamente e sindicaliza-se.

Em 1960, é cofundador da SWAPO, partido cujas posições anticoloniais o obrigam a exilar-se, deixando atrás dele a esposa e os quatro filhos.

Em 1966, ele lança a luta armada. A guerra de libertação dura 23 anos e causa 20 mil mortos.

De regresso ao país depois da independência em 1990, Sam Nujoma torna-se o primeiro Presidente da Namíbia livre, cargo que ocupa até 2005.

Conhecido pelos seus posicionamentos radicais, ele envidou esforços para unir uma população de dois milhões de habitantes provenientes de uma dezena de etnias diferentes que o Apartheid tinha dividido.

Ele também recusou-se a criar uma comissão para examinar as atrocidades cometidas durante o conflito entre a Swapo e os esquadrões da morte pró-sul-africanos, acabando por integrar essas antigas unidades nas fileiras do exército e da polícia.

Activista anticolonial ferrenho, ele conservou relações diplomáticas com os aliados da luta de libertação, Cuba, o Irão, a Líbia ou ainda a Coreia do Norte. Também apoiou a reforma agrária do vizinho zimbabueano Robert Mugabe, no começo dos anos 2000, que resultou na expropriação dos camponeses brancos e numa severa crise económica.

Mais recentemente, ele tinha-se ilustrado por condenar abertamente a homossexualidade e, também, noutro domínio, por ter considerado "terrivelmente insignificante" a indemnização de um pouco mais de mil milhões de Euros que a Alemanha propôs ao país em 2021, pelo massacre de dezenas de milhares de membros das etnias Hereros e Namas, naquilo que foi o primeiro genocídio do século XX.

Apesar de se ter retirado oficialmente da vida política em 2005 nunca deixou de ser influente.

"O nosso pai fundador viveu uma vida longa e decisiva", foi deste modo que neste fim-de-semana a presidência da Namíbia anunciou a morte de quem a população chamava carinhosamente o "Velho".

Reagindo à notícia, o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, saudou quem qualificou de "combatente da liberdade (...) indissociável da nossa própria história de luta", a independência da Namíbia tendo "feito nascer a inevitabilidade da libertação" do Apartheid. O chefe de Estado queniano, William Ruto, também recordou Sam Nujoma, como um político "corajoso e visionário".

Na sua mensagem de condolências, o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, também enalteceu um "grande líder", enquanto o seu homólogo angolano recordou Sam Nujoma como alguém que usou todas as suas energias para erguer uma nação “forte” e “democrática”, com bases sólidas no caminho do progresso, da prosperidade e bem-estar do povo namibiano. ANG/RFI

 

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