terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

União Africana/Quem vai suceder a Moussa Faki Mahamat na liderança da organização?

Bissau, 11 Fev 25 (ANG) - Há três candidatos para suceder ao chadiano Moussa Faki Mahamat, que é actualmente o presidente da Comissão da União Africana.

Na cimeira desta organização que vai acontecer entre 15 e 16 de Fevereiro, os Estados africanos vão escolher entre o queniano Raila Odinga, o djibutiano Mahamoud Ali Youssouf e o malgaxe Richard Randriamandrato. Quem chegará ao topo desta organização internacional?

Numa eleição que acontece a cada quatro anos, onde o presidente pode ser eleito para dois mandatos consecutivos, em 2025 este posto estratégico deverá ser ocupado por alguém vindo da África de Leste. Quénia, Djibuti e Madagáscar apresentaram os seus candidatos.

Quem são os candidatos?

Raila Odinga

Talvez o candidato mais conhecido do grande público seja Raila Odinga, de 79 anos. Antigo primeiro-ministro queniano (2008-2013), Odinga é um eterno candidato à Presidência do seu país, tendo-se candidatado cinco vezes a este cargo. Durante os turbulentos anos 80 e início dos anos 90 no Quénia, onde havia um sistema monopartidário, Raila Odinga foi várias vezes preso por defender o multipartidarismo, acabando mesmo por se exilar na Noruega.

Conhecido como um opositor de longa data -  tal como o seu pai, Oginga Odinga -, Raila Odinga disputou pela última vez as presidenciais em 2022, tendo perdido contra William Ruto. Alegou em seguida que a eleição lhe foi "roubada" e em Março de 2024 incitou os quenianos a saírem à rua devido ao aumento dos preços no país e às más condições de vida dos jovens. Estes protestos duraram nove dias e levaram à morte de quase 40 pessoas. Os protestos terminaram com a promessa de Ruto de formar um Governo de união nacional, integrando apoiantes de Odinga.

Foi, por isso, surpreendente ver William Ruto apoiar de forma explícita e entusiasta a candidatura de Odinga à União Africana, após vários anos de duras disputas políticas. Alguns observadores consideram que este apoio visa afastar Odinga da política queniana, enquanto outros se questionam se este opositor inveterado conseguirá pôr os interesses do continente à frente dos interesses do seu país e do seu próprio interesse pessoal.

Para já é o candidato com mais apoios declarados, reunindo a confiança de países como a Namíbia, África do Sul, Angola, Guiné-Bissau ou Moçambique.

Prioridades da sua candidatura: Odinga defende o comércio livre entre países africanos, mas também a livre circulação de pessoas no continente. Quanto ao clima, o candidato quer maior aposta nas energias renováveis, mas argumenta que não cabe aos africanos sozinhos pagarem as consequência das mudanças climáticas.

Mahamoud Ali Youssouf

Diplomata de carreira e ministro dos Negócios Estrangeiros do Djibuti desde 2005, Mahamoud Ali Youssouf tem do seu lado mais de 30 anos de experiência nas relações exteriores africanas, conhecendo a fundo não só os parceiros bilaterais do seu país, mas também as organizações regionais africanas - essenciais para a paz do continente - e a própria União Africana.

Ao contrário do exuberante Raila Odinga, Ali Youssouf destaca-se pela temperança, as posições moderadas e a convicção de que a chave para a sucesso do continente está no diálogo. A sua extensa agenda e relações pessoais construídas nas últimas três décadas um pouco por todo o continente são, segundo os seus apoiantes, os seus maiores atributos.

No evento Mjadala Afrika, em que os três candidatos debateram o futuro da União Africana perante os olhares atentos de milhares de pessoas que acompanharam o evento à distância, Mahamoud Ali Youssouf distinguiu-se pela clareza das suas ideias e por ser um poliglota, falando perfeitamente inglês, francês e árabe.

Esta prestação recolheu frutos desde logo nas redes sociais, onde impressionou os africanos que acompanharam o debate, mas também nos apoios estatais. O Presidente do Egipto, Abdel Fattah al-Sisi, deu formalmente o apoio ao candidato do Djibuti - esperando provavelmente em retorno o apoio para o seu candidato a vice-presidente da Comissão, uma escolha que ficará entre os países do Norte de África.

Prioridades da sua candidatura: Continuar as reformas da Comissão da União Africana, incluindo uma melhor gestão do seu orçamento e dos sues funcionários. A situação da paz e segurança no continente, com atenção particular aos conflitos na RDC, mas também no Sudão, Sahel e ainda a Líbia. O candidato quer ainda acelerar o processo de integração económica da zona de livre comércio continental, a Zlecaf.

Richard Randriamandrato

Richard Randriamandrato é o candidato de Madagáscar. Tal como Ali Youssouf, este malgaxe tem experiência como ministro dos Negócios Estrangeiros, mas já assumiu as pastas da Economia e das Finanças do seu país - negociando directamente como instituições o Banco Mundial ou o FMI. Para além disso, e ao contrário dos outros candidatos, Randriamandrato tem experiência no sector privado e trabalhou durante vários anos com ONG.

A sua saída do Governo de Madagáscar aconteceu em 2022, devido a um polémico episódio. Na votação de uma resolução nas Nações Unidas sobre a "anexação ilegal" da Ucrânia por parte da Rússia, o então ministro decidiu votar favoralvelmente, quando o sentido de voto decidido pelo Presidente Andry Rajoelina era a abstenção, já que Madagáscar se dizia neutro neste conflito. Alguns dias mais tarde, um decreto presidencial acabou por exonerá-lo da pasta dos Negócios Estrangeiros.

Prioridades da sua candidatura: Uma União Africana menos burocracrática, mais eficaz e mais coesa. Continuar a agir em todos os domínios de intervenção da União Africana, mas com um orçamento mais reduzido. O candidato quer ainda a presença da União Africana nas decisões do Conselho das Nações Unidas que dizem respeito ao continente.

Qual é o papel do presidente da Comissão da União Africana?

Cabe a esta figura ser o chefe executivo da organização, o seu representante legal e também e o seu tesoureiro. Ou seja, o presidente da Comissão da União Africana é a cara, mas também os braços e as pernas desta instituição que reúne 55 países do continente africano. 

Com o tempo, o seu papel foi evoluindo, já que começou por coordenar apenas o secretariado da organização, mas pouco a pouco o seu papel tornou-se político. Tem uma intervenção directa na aplicação das medidas decididas pelos Estados a nível continental, pode também propor as suas próprias medidas ou ainda representar a União Africana em fóruns e negociações internacionais.

O seu papel interno também é vital, já que coordena a acção dos comissários dedicados a temáticas específicas como Segurança, Comércio ou Agricultura, assim como assegura o equilíbrio das contas da organização.

Como se passa a eleição?

A eleição vai passar-se entre o dia 15 e 16 de Fevereiro, durante a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana. Há 55 países que podem votar e a votação é secreta. Para ganhar, o candidato precisa de uma maioria de dois terços. ANG/RFI

 

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