Sudão do Sul/Censura força jornalistas a deixar a profissão
Por GARANG A. MALAK
Bissau, 01 Set 22 )ANG) - Desde 1992, pelo menos dez jornalistas sul-sudaneses morreram enquanto trabalhavam, a maioria assassinados, de acordo com o Comité de Proteção a Jornalistas.
"Se você quer morrer cedo no Sudão do Sul, trabalhe na mídia",
disse a jornalista Adia Jildo durante uma cerimônia do MDI Meda
Award, em Juba.
O Sudão do Sul ocupa a posição 128 dentre 180 países no ranking do
Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, com jornalistas enfrentando censura,
ameaças, intimidação, prisões ilegais e morte. Além disso, jornalistas passam
por traumas devido ao trabalho sob violência constante, e frequentemente
não têm condições de arcar com ajuda psicológica devido aos baixos salários.
Como resultado, muitos jornalistas passaram a trabalhar para ONGs e o
setor privado em busca de melhores salários e ambiente de trabalho mais seguro,
esvaziando o setor de mídia no país, que já passa por dificuldades. As ameaças
contra os jornalistas da Eye Rádio, uma estação independente financiada
pela USAID e fonte de notícias em Juba, é um caso emblemático dos obstáculos
impostos à liberdade de imprensa no Sudão do Sul.
Oliver Modi, jornalista e ex-chefe do Sindicato dos Jornalistas do
Sudão do Sul, diz que a situação dos profissionais de mídia no país é
dura. Ele destaca um episódio de jaNEIRO DE 2015, quando "cinco
jornalistas foram baleados, feridos com facões e tiveram seus corpos queimados
em uma emboscada no estado de Bahr al-Ghazal Ocidental. "Em março de 2022,
o ex-editor da Eye Radio,woja Emmanuel Wani, foi sequestrado na capital Juba,
torturado e envenenado antes de conseguir escapar", acrescenta.
"Eu fui ameaçado com uma arma e forçado a entrar no carro", diz
Wani. "Eles me levaram para um lugar desconhecido onde me questionaram
sobre questões políticas e me drogaram." Emmanuel ainda não sabe a
identidade dos sequestradores.
As ameaças também incluem prisões e detenções pela segurança estatal. O
premiado jornalista Charles Wote Jordan, produtor do "Dawn Show" da
Eye Radio, descreve o setor de mídia no Sudão do Sul como
"assustador". Enquanto ele fazia uma reportagem sobre o Acordo
Revitalizado para Resolução de Conflitos no Sudão do Sul (R-ARCSS), a
principal ferramenta de governo do país, Jordan foi preso junto com outros
jornalistas no Parlamento Nacional.
"O ambiente não é justo quando se trata de cobrir questões [relativas]
ao [R-ARCSS]", diz. "Mesmo quando a mídia foi convidada, a segurança
do parlamento disse que a gente não deveria estar lá. Eles detiveram sete
jornalistas por horas e depois fomos liberados sem nenhuma explicação para a
detenção."
Além das ameaças diretas contra seus repórteres, a Eye Radio também
enfrenta ameaças de encerramento das operações e censura.
"Devido às ameaças e outros desafios maiores, existe censura. Nós
mesmos nos censuramos, principalmente porque estamos criando uma base no Sudão
do Sul", diz Koang Pal Chang, gerente da Wye Rádio, se referindo à
relativamente nova presença do jornalismo independente no país. "Além da
censura, outros obstáculos são a falta de acesso à informação e a necessidade
de profissionalização do trabalho jornalístico", diz Chang.
Em 2016, a Eye Radio foi temporariamente fechada pelo Serviço de
Segurança Nacional do Sudão do Sul por transmitir o trecho de um áudio do então
líder de oposição e atual primeiro vice-presidente Dr. Riek Machar, que na
época vivia no exílio em Cartum, capital do Sudão.
"A assessoria de imprensa da Segurança Nacional perguntou por que não
demos o crédito ao veículo do qual pegamos o áudio. Eu me lembro deles falarem:
'se vocês estivessem em uma área controlada pela oposição, vocês transmitiriam
a voz do presidente Salva Kiir?", diz Koang. Foram necessárias duas
semanas de lobby por parte da rádio e de seus dois milhões de seguidores para a
estação voltar ao ar.
Há seis meses, a Eye Radio sofreu mais censura ao ser forçada a se
desculpar por uma matéria que foi considerada crítica ao governo. O
veículo interpretou uma fala do ministro da informação Michael Makuei, que
disse que "os sul-sudaneses estão de saco cheio de nós" como "os
sul-sudaneses estão de saco cheio de seus líderes" — a Eye Radio foi
pressionada a se desculpar por essa tradução ou corria o risco de ser fechada.
"O que aconteceu recentemente vai além do jornalismo", diz Koang,
que atribuiu o pedido de desculpas forçado à aversão pessoal do ministro pela
Eye Rádio. "Alguns de nós até nos recusamos a apoiar a decisão das
desculpas, mas tivemos que [nos desculpar], pois muitos sul-sudaneses precisam
da rádio."
Chang diz que o futuro da liberdade de imprensa no país ainda é sombrio, e
mesmo que existam organizações que defendem os jornalistas, como o
Sindicato dos Jornalistas do Sudão do Sul, a Associação para o Desenvolvimento de
Media no Sudão do Sul, o Clube de Imprensa do Sudão do Sul e o
Clube de Imprensa Nacional muito ainda precisa ser feito ao nível
governamental para melhorar a situação da mídia no país.
"Os investidores de mídia e as várias partes interessadas precisam
fazer esforços continuamente para [informar] as autoridades sobre a
importância do desenvolvimento da mídia", diz Koang. ANG/IJnet
Sem comentários:
Enviar um comentário