A Guiné-Bissau possui terra generosa e fiel para prática de agricultura (2)
“Temos condições climatéricas e campos propícios, portanto, voltemos a nossa terra, que é generosa e que não trai, para cultivar e alimentarmo-nos” Barros Bacar Banjai, Ministro da Agricultura numa das suas intervenções no périplo que efectuou recentemente as regiões do país.
José Augusto Mendonça
Bissau, ANG - A segunda etapa do périplo de Barros Bacar Banjai iniciou no dia 8, em Safim, ainda na região de Biombo, em que se fez apresentação dum armazém aonde se encontra stockado cerca de 3 mil toneladas de fertilizantes adquiridos pelo executivo ao governo do Japão, no âmbito de um acordo rubricado no ano transacto e que serão distribuídos aos agricultores nacionais na próxima época agrícola mediante um preço simbólico como forma de possibilitar mais aquisições de género no futuro.
A delegação prosseguiu até a Bolanha de Santa Helena, em Curbo Canté, onde se cultiva arroz “Bas-fond” numa área de 120 hectares, com o apoio do projecto governamental “PRESAR. Isso, depois duma breve paragem na unidade de processamento de caju e criação de suínos, propriedade do ex-ministro Alexandre Furtado.
A caravana seguiu viagem em direcção a Bamabadinca, cidade que beneficiou de armazém agrícola e cujo mercado se encontra em fase avançada de reabilitação, ambos financiados pelo PRESAR.
Já no campo agrícola chamada “Campossa”, na entrada da cidade de Bafatá, a delegação fez uma breve paragem onde recebeu informações técnicas quer dos responsáveis da Associação do mesmo nome, que reúne 630 membros, a maioria dos quais são mulheres viúvas, como também dos chineses que lá prestam assistência técnica.
De acordo com o Secretario Executivo da Associação Campossa, a referida Bolanha esta subdividida em duas zonas: A, B e C, sendo que o conjunto da extensão de todas elas perfazem a distancia de mais de 200 hectares, cujos trabalhos são assistidos técnica e materialmente pelo MADR, através dos técnicos nacionais e chineses, estes últimos vindos no quadro da cooperação com aquele país asiático no domínio da agricultura.
Almeida Ioncana informou que no ano passado, devido a carência financeira dos seus membros, a associação não conseguiu produzir toda a extensão da Bolanha, contrariamente ao que acontece todos os anos. “São mais de mil toneladas de arroz que se produz em todo o campo, e que directa ou indirectamente, beneficiam mais de 5 mil famílias.
“Somos apoiados pelo MADR, através dos projectos PRESAR e Projecto de Desenvolvimento do Sector Agrário (PDSA), que procedem a distribuição de adubos e sementes aos agricultores da Bolanha de Campossa”, afirmou Almeida Ioncana. Barros Bacar Banjai contente com a explicação pormenorizada, encorajou a associação e prometeu mais apoios do seu pelouro a organização.
No domínio de apoios, de realçar que o Ministro procederia logo a seguir, e na mesma cidade, a entrega de materiais pós-colheita, constituído por um conjunto de 8 moinhos de milhos, 7 descascadoras de arroz e uma moto-transportadora, entre outros materiais, que foram distribuídos a 15 associações agrícolas, enquadrados pelo Programa de Emergência de Apoio a Segurança Alimentar (PEASA).
É um projecto sob tutela do MADR, financiado pelo BM em 9 milhões de dólares e que abrange 5 regiões, mais o Sector Autónomo de Bissau e cuja intervenção consiste em atacar a cadeia de produção de arroz, pelo que já recuperou Bolanhas e pistas rurais numa distância total de 300 quilómetros, forneceu materiais de processamento, sementes e fertilizantes e meios de transporte para escoamento de produtos aos mercados das áreas da sua ingerência.
Na ocasião, o governante usou de palavras para lembrar que ainda que simbólico, o acto de entrega de materiais está revestido de enorme significado na vida dos nossos camponeses e do país, em geral.
Esclareceu que esta deslocação é um sinal claro de que o executivo dirigido por Carlos Gomes Júnior está apostado em apoiar a população que o instalou no poder. Barros Banjai frisou que o mundo se encontra sob efeitos de crises de diferente natureza e que se traduz em problemas ambiental e energetica, sendo que este ultimo se reflecte de forma clara nos custos na produção aos agricultores comparativamente com os tempos passados.
Recordou que o problema advém da conjuntura mundial, pois os países exportadores de arroz, por exemplo, estão a debater com dificuldades para o continuar a fazer, pelo que optam, em primeiro lugar, abastecer o mercado local, porque são também consumidores deste cereal.
“Os problemas de falta de água e boas terras para a agricultura verificam-se em toda a parte do mundo, pelo que a Guiné-Bissau não podia constituir excepção”, indicou o Ministro que sublinhou que tais factos ocorreram justamente na altura em que a equipa dirigido por Carlos Gomes Júnior foi instalado no poder e imediatamente foram formulados vários pedidos de socorro a diferentes parceiros, a favor do povo guineense.
Os materiais ora entregues, constituem parte de resposta dos referidos pedidos que, imediatamente, o governo esta a distribuir a massa camponesa como forma de incentivar a produção agrícola nacional, esclareceu.
Barros Bacar Banjai indicou que existem excelentes condições para tal, mas, por mais paradoxo que possa constituir, o arroz, como principal dieta alimentar, continua a ser o produto alimentar mais importado pelo país. Aliás esclareceu que a importação deste cereal vem logo a seguir a de combustível que lidera o ranking dos produtos mais importados na Guiné-Bissau.
“Ora, temos capacidade de produzir o necessário para o nosso consumo. Temos um bom clima e terras aráveis”, incentivou o ministro que elogiou a população rural por estarem a acatar as orientações emanadas do governo no sentido de voltarem para a terra que é “generosa e não trai”, comparativamente a outros lados.
A entrega destes materiais aos agricultores demonstra que estes produziram o suficiente para exigirem tais meios de trabalho, o que para Barros Bacar Banjai é sinal de que o governo deve continuar a apoia-los, para além da necessidade de aliviar os esforços das mulheres nos trabalhos da lavoura. “São cerca de 90 dias que as mulheres guineenses levam nos trabalhos de processamento de arroz, coisa que, com materiais necessários, não ultrapassaria 2 horas”, calculou, lembrando que o tempo aludido pode dobrar se se tratar de produção de milhos.
“É mais uma resposta a vossa demanda, população minha, de apoiar-vos na produção e, ao mesmo tempo, aliviar as mulheres do fardo pesado que constitui seus trabalhos na lavoura”, exclamou emocionado o governante que voltou a lembrar a todos que esta deslocação é para constatar o resultado da presente campanha agrícola, face a queda precoce e irregular da chuva.
Disse que Bafatá é uma região de grande produção cerealífera e não é por acaso que o governo começou a mecanização agrícola a partir de lá, com fornecimento de tractores para o alivio da sua população nos trabalhos da lavoura e prometeu colocar mais tractores e outros investimentos similares naquela localidade assim como em todas as zonas necessitadas.
Informou que a encosta do Rio de Geba, na região de Bafatá possui cerca de 20 mil hectares, suficiente para produzir o que consumir e, inclusive, vender, pois existem condições para tal, por isso o executivo se encontra empenhado na criação da fileira de arroz, através de fornecimento de materiais de produção, geração de meios de transporte e local de condicionamento dos produtos, e fornecimento de moinhos e descascadoras.
Lamentou a perda física de cerca de 40 por cento do arroz produzido em cada colheita, derivado pela falta de meios de trabalhos, pelo que o envolvimento do executivo em termos de fornecimento de equipamentos necessários visa, justamente, esbater este nível de perda.
“É um dos importantes contributos que o governo conclui dever fornecer aos nossos produtores”, precisou Barros Banjai aludindo a necessidade de diversificação da cultura como um dos aspectos bem patenteados no programa do governo. Assim lembrou aos presentes sobre a necessidade de produção de tubérculos e outros e fez referência a mandioca e batata, produtos que geralmente são produzidos em grande quantidade nas áreas de Bafatá, Bambadinca, Ganadú e outras.
Anunciou a criação de um mercado novo em Bantanjam para substituir os lumos que normalmente são realizados junto a estrada, o que impede a circulação rodoviária e acarreta perigo para os transeuntes e exortou a todos para irem procurar seus cacifos na nova estrutura comercial.
“Como disse o representante do BM, vamos criar todas as condições necessárias para escoamento de produtos ao mercado”, sublinhou tendo prometendo que pistas rurais de acesso a pólos de comercialização serão criados junto a localidades onde se produz em grande quantidade.
Por outro lado ainda, precisou o ministro, o seu pelouro se encontra empenhado na recuperação de armazéns outrora tidos como celeiros e parte de estrutura de produção agrícola implantada pelos colonialistas, ao mesmo tempo que estão sendo criados bancos de cereais em determinados centros de produção, para ajudar os agricultores.
Face a boas terras e clima propício para a produção, de acordo com o governante, com a agricultura o país jamais dependerá de esmola de outras nações, embora realçou a solidariedade que a comunidade internacional tem vindo a demonstrar para com o governo guineense que, por sua vez, é muito sensível aos problemas do seu povo.
Intervindo na cerimonia, o Representante do BM salientou que o PEASA é um programa do governo iniciado em 2008, com financiamento do sua instituição para expandir a área de produção de arroz e abrir pistas de acesso as áreas de produção. Aniceto Bila manifestou sua satisfação com os resultados das actividades do projecto, e deu exemplo que na campanha do ano passado o PEASA reabilitou um total de 5 mil hectares de Bolanhas e produziu mais de 9 mil toneladas de arroz.
“Isso demonstra que os objectivos da solicitação feito pelo governo guineense ao BM estão sendo alcançados em grande medida”, avaliou Aniceto Bila que exortou a população a saber conservar as referidas maquinas por muito tempo, sendo para isso necessário manutenção regulares através de criação de comissão de gestão.
As localidades de Sucutó e Cáfia, da mesma região, aonde opera o Projecto de Apoio a Intensificação da Produção Agrícola (PAIPA), apoiado pelo MADR e a cooperação portuguesa, receberiam também a visita da comitiva ministerial, que no final ofereceria uma maquuina descascadora a população de Cáfia.
Segundo o seu coordenador, o PAIPA não inventa nada, apenas se cinge em ajudar as populações através de intensificação das técnicas de agricultura para a obtenção de maiores rendimentos em termos de produção do arroz.
“Alem disso, temos uma parte de horticulturas e fruticulturas, para responder os problemas de carências alimentares que as populações enfrentam”, explicou Hugo Alexandre Vaz Pedro adiantando que no aspecto de produção frutícola, o projecto aposta nos citrinos, como forma de colmatar a falta de vitamina C.
Quanto a horta, a população para alem de beneficiar do consumo da produção vende ainda uma parte no mercado da região e cujo rendimento o ajuda a cobrir alguns suprimentos de que necessita.
São perto de 700 mil Euros disponibilizados pela Cooperação portuguesa na implementação deste projectos ao longo dos três anos, dinheiro esse que segundo o coordenador esta sendo utilizado na aquisição de materiais, nomeadamente kits de produção colocados em Sucutó e Djana. A concluir, Hugo Alexandre Vaz Pedro anunciou a expansão na próxima época do PAIPA para três regiões do país, nomeadamente Gabú, Oio e Biombo.
Em Gabú, etapa seguinte da visita, a delegação visitou o Projecto de Valorização da Apicultura nas regiões de Bafatá e Gabú (PVA), que começou a funcionar desde Março do ano passado e termina em Fevereiro de 2013, através do apoio do governo guineense, do Instituto Português de Apoio ao desenvolvimento (IPAD) e a União Europeia.
O projecto que procede a produção, transformação e comercialização de mel, é o resultado de parceria entre a União das Cidades Capitais da Lingua Portuguesa (UCCLA), Federaçºao de Apicuultores de Portugal e a Associiação para o Desenvolvimento Local (APRODEL), com sede em Bafatá e enquadra mais de 1700 apicultores que conseguem 60 toneladas em cada colheita deste produto nas duas regiões leste do país.
De acordo com Benvinda Correia, o MADR entrou com 10 por cento dos 500 mil Euro do custo do financiamento do referido projecto, que actua em 5 sectores de Gabú e quatro em Bafatá, e que nasceu no quadro do PASA.
A delegação descobriu que a Bolanha de Sintcham-Tombo numa extensão de 18 hectares, nos arredores de Gabú, é cultivada por uma associação que agrupa 170 membros, na sua maioria, mulheres locais. Perante o ministro da Agricultura, os membros deste conclave solicitaram apoios em termos de materiais agrícolas, sementes e adubos para a próxima época agrícola, bem como requereram redes para protecção de campos de horticulturas.
Em resposta, o governante explicou que apesar dos grandes apoios em termos de meios de produção concedidos pelo seu pelouro no decurso da presente campanha, houve fraca pluviosidade, no entanto, manifestou sua satisfação pelos resultados obtidos na produção da Bolanha de local.
Voltou a manifestar a determinação inabalável do executivo em melhor a condição de vida das populações, neste caso concreto, através de apoios aos agricultores, camponeses e criadores de gado. Disse que o resultado desta deslocação vai permitir o MADR de preparar melhor a próxima época agrícola. Avançou que as maquinas que até aqui vêm sendo distribuídas aos agricultores, são adquiridos com parte de dinheiro do executivo.
“O governo elegeu o sector agrícola como prioridade porque mais de 80 por cento da população guineense é ocupado pela agricultura”, informou Barros Banjai que advertiu ser necessário prestar atenção especial ao sector.
De igual modo, o ministro visitou a Bolanha de Cumpan´hor numa extensão de 30 hectares, reabilitado no ano passado pelo PEASA e que enquadra 16 tabancas do sector de Gabú. Segundo explicações do delegado regional da agricultura local, Ansumane Djassi, devido aos apoios concedidos na presente época agrícola, através de concessão de tractores para a lavoura, sementes e adubos, a colheita rendeu mais de 100 toneladas de arroz.
Em termos de balanço geral da deslocação, o ministro esclareceu que a escolha do sector agrícola como prioridade pelo governo não foi feito de forma gratuita, mas teve em conta o facto de que a agricultura ocupa cerca de 80 por cento da população activa do país. “Portanto, esta franja da sociedade é relativamente pobre e precisa de ajuda” acrescentou, sublinhando estar a referir o nível de vulnerabilidade em que estas populações se encontram a viver.
Disse que depois desta deslocação de rotina a 5 regiões, do que viu e ouviu, a impressão é francamente positiva, ainda que se tenha sido constatado alguns problemas relativamente a produção de arroz, sobretudo na parte norte, concretamente em Biombo, onde se verificou uma grande insuficiência pluviometrica que afectou a cultura, sobretudo de arroz.
“A julgar pelas informações do grupo técnico pluridisciplinar em que trabalha o governo, agência da ONU e outros parceiros, podemos afirmar que ouve aumento de produção de cereais, raízes e tubérculos” avaliou o MADR que acrescenta que exorta as pessoas a voltarem para produção agrícola, porque o pais não dispõe de outros recursos naturais, daí a necessidade de prestar mais atenção a agricultura, onde se pode encontrar o que consumir, pelo menos.
Elogiou os produtos locais pelo elevado grau calorífico que possuem, em comparação com outros e referiu-se a medidas adoptadas pelo executivo como forma de por cobro a devastação desenfreada das florestas na Guiné-Bissau, dando como exemplo a proibição de exportação de madeira em toro. “De uma forma básica, pretende-se começar a esbater o nível de devastação das nossas florestas”, aludiu o governante lembrando que são medidas correctivas e, por isso mesmo, apelou a compreensão dos parceiros e o cumprimento destas directrizes.
Frisou que a partir desta visita, o governo tirou ilações importantes em relação a necessidade da população em ver mecanizada a agricultura e fez referencia ao campo agrícola de Cumpan´hor que foi enquadrado no ano passado, através de apoios fornecidos pelo executivo e parceiros, cuja população agora consegue produzir sem intervenção directa do MADR
Tal facto constitui motivo de satisfação para o ministro, que prometeu continuar na actual perspectiva de modernização da agricultura, passando pela introdução de novas tecnologias e formação dos agricultores.
Para a realização de todo este desiderato, conclui-se que o componente pesquisa não pode ficar de fora, dai que Barros Banjai, reconheceu isso e disse que é através do Instituto Nacional de pesquisa Agrária é que se vai poder estar a altura dos condicionalismos que se verificam no concernente a produção agrícola.
Afirmou que o INPA está a realizar muitas acções no aspecto agro-pecuária em colaboração com outros centros especializados do continente, caso concreto na produção de diferentes variedades de arroz, num total de 31.
“Estamos a tentar determinar quais as variedades que se adaptam”, revelou o ministro tendo salientando a necessidade de se determinar o nível de rendimento e de qualidade destes produtos e lembrou que é necessário acompanhar os camponeses nas suas acções, uma vez que se constatam problemas a nível de fertilidade destes cereais e perfil e estatutos do solo.
Só a partir duma pesquisa adaptativa é que se pode determinar se determinado lote de arroz pode adaptar a determinado solo, explicou o ministro, realçando a nobreza deste trabalho por parte dos técnicos do INPA, apesar de elevado custo financeiro que acarreta.
“Por isso estamos a negociar com os parceiros para ajudar nisso”, afirmou.
Entretanto, o representante da FAO felicitou o povo guineense por ter elegido o sector agrícola como área chave para o desenvolvimento da Guiné-Bissau, pois o potencial é grande; existe terra, água e recursos humanos motivados. “Portanto, estão reunidas condições para desenvolver a agricultura e promover a segurança alimentar”.
Segundo Arlindo Bragança Gomes a FAO vai associar-se a este movimento, proporcionando sua contribuição para que a segurança alimentar, desenvolvimento rural e agrícola seja uma realidade no país. A intervenção desta organização, segundo o seu máximo representante no país, vai materializar-se mais nos aspectos da assistência técnica que material, para que os agricultores e criadores de animais sejam capazes de utilizar pacotes agro-tecnicos mais adequados as potencialidades existentes em cada uma das regiões e capacidades financeiras.