ONU/Metade das deslocações forçadas em todo o mundo vão ocorrer em África
Bissau, 07 Mai 25 (ANG) - A Agência da ONU para os
Refugiados (ACNUR) prevê que até ao final do ano cerca de metade das
deslocações forçadas em todo o mundo ocorram em África, com grandes crises
humanitárias a contribuírem para esta realidade.
"O continente africano enfrenta uma das suas
maiores crises humanitárias em décadas, com mais de 71 milhões de pessoas
forçadas a fugir e a abandonar os seus lares até ao final de 2025",
indicou a ACNUR.
A República Democrática do Congo (RDCongo) e o Sudão são os dois
países onde a situação é mais alarmante, sendo que cerca de nove milhões de
pessoas na RDCongo e aproximadamente 13 milhões no Sudão estão "numa
situação de deslocação forçada", constatou a ACNUR.
Em Moçambique, país lusófono, a situação humanitária também é
crítica, afetada por conflitos em Cabo Delgado e desastres naturais.
Atualmente, 2,2 milhões necessitam de assistência, sendo que o ACNUR oferece
apoio em saúde e nutrição e promove esforços de paz.
"Falamos de pessoas -- na sua larga maioria mulheres e
crianças, muitas delas desacompanhadas -- que neste momento não têm qualquer
abrigo, condições de segurança ou água e alimentação para garantir a sua
sobrevivência e das suas famílias nas próximas semanas", prosseguiu a
agência, acrescentando que "nem o ACNUR nem as organizações parceiras
locais, têm reunidas todas as condições para dar resposta às necessidades
verificadas, quer devido às dificuldades de financiamento das operações, como à
incapacidade de garantir corredores humanitários e a segurança do pessoal
humanitário que luta diariamente para ajudar todas estas pessoas".
Na RDCongo, a crise humanitária agravou-se desde o final de
2024, com mais de 7,8 milhões de deslocados internos, o segundo maior número do
continente, e 1,1 milhões de refugiados, tendo o ACNUR reportado um aumento de
"450% de novas entradas" de refugiados congoleses no Burundi e Uganda
face ao ano anterior.
A chegada de "cerca de 139 mil refugiados", desde
janeiro, sobrecarrega os centros de acolhimento, levando ao aumento de casos de
cólera e desnutrição infantil, com "2,3 milhões de pessoas em quatro
províncias afetadas pelo conflito em curso a enfrentarem uma situação
potencialmente fatal nos próximos meses, a menos que sejam tomadas medidas
urgentes", alertou o parceiro nacional do ACNUR.
No Sudão, o conflito, que dura há dois anos, provocou uma
emergência humanitária sem precedentes, sendo que "um em cada 13
refugiados no mundo" é sudanês.
Cerca de 13 milhões de pessoas já foram obrigadas a fugir, com
quatro milhões a terem de procurar refúgio em países vizinhos, como o Chade,
Egito, Etiópia e África Central, alguns deles também territórios muito pobres e
vulneráveis e sem capacidade para dar resposta a todas estas pessoas.
No entanto, as consequências desta crise humanitária são ainda
mais devastadoras, com mais de 24 milhões de sudaneses -- mais de metade da população
do país -- a enfrentarem uma situação de fome extrema, incluindo 15 milhões de
crianças em necessidade urgente de assistência.
O ACNUR tem recebido relatos de graves violações dos Direitos
Humanos, incluindo violência sexual sistemática, e tem vindo a reportar
violentos ataques a campos de deslocados em Darfur, Sudão, que acolhiam mais de
700 mil pessoas, obrigando dezenas de milhares a fugir novamente.
"A escassez de alimentos, água potável e medicamentos está
a transformar uma crise humanitária numa catástrofe absoluta", afirmou a
responsável de comunicação e relações externas de Portugal com ACNUR, Joana
Feliciano, apelando para que estas crises não sejam ignoradas e para a urgência
do financiamento. ANG/Lusa

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