terça-feira, 19 de abril de 2022

                  RCA/Tribunal Penal Especial inicia primeiro julgamento

 Bissau, 19 Abr 22 (ANG) - Sete anos após a sua criação, o Tribunal Penal Especial na República Centro-Africana vai julgar o seu primeiro caso, a partir desta terça-feira.

Os acusados são antigos elementos do grupo 3R perseguidos por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Esta jurisdição híbrida, composta por magistrados locais e internacionais, tem por mandato investigar e julgar violações graves de direitos humanos cometidas no país desde 2003. 

Os primeiros acusados são antigos elementos do grupo 3R indiciados de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade.

Issa Sallet Adoum, Tahir Mahamat e Ousman Yaouba são acusados de estarem envolvidos nas atrocidades cometidas em duas localidades da província de Paoua, no nordeste do país. Em Maio de 2019, estes três homens teriam participado no massacre de 46 civis, cometido pela milícia 3R “Regresso, Reclamação e Reabilitação”, de acordo com a ONG Human Rights Watch que documentou o sucedido.

Os três homens foram entregues ao Tribunal Penal Especial (TPE) pelo seu próprio chefe, Sidiki Abbas, na altura signatário do acordo de paz de Cartum, e morto em Novembro de 2020 em confrontos, depois de ter integrado a coligação armada anti-Touadéra, que acabou por colocá-lo na lista de visados do TPE

Em Dezembro do ano passado, na primeira audiência pública, a câmara preliminar do tribunal rejeitou os recursos dos três réus e enviou o caso para julgamento. As organizações de defesa dos direitos do homem congratularam-se com este importante passo para a luta contra a impunidade na RCA e vêem neste julgamento um teste à solidez do tribunal. Todavia, lamentam a pouca cooperação por parte das autoridades. Entre as duas dezenas de presos no quadro de processos do TPE, não há nenhuma figura capital da hierarquia do país.

Foram precisos sete anos para que o TPE abrisse o seu primeiro julgamento. Um longo caminho que representa um processo complicado e único no mundo, de julgar crimes cometidos no âmbito de um conflito que continua a decorrer.

O Tribunal Penal Especial carece, também, de falta de confiança, depois da detenção, há cinco meses, de Hassan Bouba, ministro da Pecuária, acusado de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade. O ministro, com a ajuda das autoridades, conseguiu ser retirado da prisão, ver as suas funções ministeriais restabelecidas e ainda ser condecorado com ordem nacional de mérito. 

O TPE é, igualmente, criticado por falta de transparência em relação aos casos que assumiu, ao uso do orçamento anual de 12 milhões de euros financiado por doadores ocidentais e pelas detenções preventivas. Vários detidos foram libertados porque os prazos regulamentares foram ultrapassados. É questionada, também, a sua independência, devido a inúmeros mandados de prisão não aplicados.

Este primeiro julgamento é um passo decisivo para recuperar a credibilidade e determinar o fracasso ou o sucesso desta experiência inédita.ANG/RFI

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário