Portugal/Fórum China-África será marcado pelo reforço do
"alinhamento político" - analistas
Bissau, 02 Set 23(ANG) –
Analistas contactados pela Lusa estimam que o próximo Fórum de Cooperação
China-África será marcado pelo reforço do “alinhamento político” entre Pequim e
o continente africano e por uma “maior clareza em relação à iniciativa chinesa
de segurança global”.
Cinquenta e quatro
representantes africanos, incluindo numerosos chefes de Estado e de Governo,
assim como largas centenas de ministros setoriais estarão esta semana em Pequim
para o 9.º Fórum de Cooperação China-África (FOCAC, na sigla em inglês, que se
realiza trianualmente desde outubro de 2000), numa cimeira de mais alto nível
do que a realizada em 2021 em Dacar, em plena pandemia de covid.
“Todas as embaixadas em
Pequim estão completamente ocupadas com o fórum, todos os governos africanos
estão ocupados. Há mais presidentes africanos a participar no FOCAC do que na
Assembleia Geral da ONU, que é a maior cimeira do mundo. O FOCAC é o ponto mais
importante do calendário diplomático de África”, sublinha Paul Nantulya,
investigador do Africa Center for Strategic Studies (ACSS), especialista nas
relações África-China.
Apesar das numerosas
representações de alto nível e do “reforço do prestígio” deste FOCAC em relação
ao anterior, Jana de Kluiver, investigadora do Institute for Strategic Studies
(ISS), em Pretória, prevê que esta primeira cimeira pós-covid não será marcada
pelo aumento da “dimensão do investimentos” anunciados.
Em primeiro lugar,
refere, porque a China “está consciente do problema da dívida em África e da
forma como a situação se apresenta a nível internacional”, e depois, porque se
espera este ano um maior envolvimento do setor privado, o que “coloca uma maior
ênfase na rentabilidade dos projetos, o que implica projetos mais pequenos, com
um retorno mais rápido”.
Em contrapartida,
Kluiver acredita que se irá assistir ao anúncio do investimento em projetos de
energias renováveis e no aumento de projetos relacionados com o
"Crescimento Verde", assim mais investimento tecnológico, em
alinhamento com os objetivos internos da China.
Um e outro analista
apontam também a importância que deverão assumir as três grandes iniciativas
anunciadas pelo Presidente chinês, Xi Jiping, já depois do último FOCAC de
2021, a saber, Iniciativa de Segurança Global (ISG), Iniciativa de
Desenvolvimento Global (IDG) e Iniciativa de Civilização Global (ICG).
“Um elemento importante
que sairá deste FOCAC é o alinhamento político”, sublinha Nantulya. “A China
está a procurar um alinhamento político mais forte com os países africanos,
como parte da sua estratégia para o Sul Global, que vê como uma espécie de
contrapeso ao que chama o sistema internacional dominado pelo Ocidente”,
acrescenta o investigador.
“Penso que teremos uma
maior clareza sobre a nova ISG e a IDG, em particular; Este FOCAC será marcado
pelo elemento da segurança, e na forma como Pequim tenta remodelar a ordem internacional”
através destas iniciativas, afirmou Jana de Kluiver.
Nantulya sublinha que os
países africanos têm vindo a reclamar uma reforma do sistema multilateral, que
inclua, nomeadamente, uma representação permanente no Conselho de Segurança das
Nações Unidas, mas a China “não tem sido muito clara na sua posição” sobre este
tema.
A estas exigências por
parte dos países africanos, a China tem respondido com a promessa ajudar a
“ampliar a sua influência e os seus interesses a nível internacional, por exemplo,
defendendo os pedidos de mais financiamento para o desenvolvimento”, acrescenta
o investigador.
“A China está a criar
muitas organizações internacionais, muitas das quais são paralelas a
organizações internacionais existentes, como o Banco Asiático de Investimento
em Infraestruturas, de que muitos países africanos são membros, ou o novo Banco
de Desenvolvimento, que funciona no âmbito dos BRICS, e outras organizações de
que os países africanos fazem parte”, ilustrou ainda.
Finalmente, ambos os
analistas apontam falha importante que representa a falta, mais uma vez, de uma
estratégia comum dos países africanos para negociações com um gigante como a
China.
“África não tem uma
posição comum em relação à China, nem em relação a qualquer ator externo. Há
certas orientações continentais que seriam altamente positivas, se os países e
os seus compromissos bilaterais com a China pudessem ter em mente o quadro mais
vasto do desenvolvimento do continente”, diz Kluiver.
“Mas não existe uma
agenda definida ou uma abordagem comum, o que prejudica os países africanos, em
termos do seu poder de negociação”, acrescentou.
A China dispõe de muitos
recursos, especificamente em termos de desenvolvimento da conectividade,
tecnologias de informação e comunicação, recursos humanos, bem como de
financiamento de projetos, mas, para que pudesse realmente ser aproveitado,
seria preciso que os países africanos alcançassem um “nível de coordenação”
mínimo, que lhes permitisse, por exemplo, articular de forma eficaz grandes
projetos como o Acordo de Comércio Livre Continental Africano e a iniciativa
chinesa "Uma Faixa, Uma Rota", sublinha a analista sul-africana.
É fundamental, sublinha
Kluiver, que “exista um nível de concordância” entre os países africanos, que
“garanta que estes grandes projetos estão alinhados, porque é importante
desenvolver projetos de infraestruturas regionais que, em última análise,
promovam o comércio intra-africano e não se limitem a reforçar as cadeias de
valor e as ligações com, por exemplo, a China ou qualquer potência externa”.
ANG/Inforpress/Lusa
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