Nova Iorque/Lula diz que não se pode “naturalizar” 730 milhões de pessoas a passarem fome
Bissau,23 Set 24(ANG) - O Presidente do Brasil afirmou domingo,
nas Nações Unidas, que não se pode “naturalizar” 730 milhões de pessoas a
passarem fome em todo o mundo e que cumprir os Objectivos de Desenvolvimento
Sustentável arrisca ser o “maior fracasso coletivo”.
“Naturalizar a fome de 730 milhões de pessoas seria vergonhoso.
Voltar atrás em nossos compromissos é colocar em xeque tudo o que construímos
tão arduamente”, afirmou Lula da Silva, ao intervir na “Cimeira do Futuro”, na
sede das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, evento projectado pelo
secretário-geral da organização em 2021 e apresentado como uma “oportunidade
única” para mudar o curso da história.
“Outras ideias não saíram do papel. Temos duas grandes
responsabilidades perante aqueles que nos sucederão. A primeira é nunca
retroceder. Não podemos recuar na promoção da igualdade de género, nem na luta
contra o racismo e todas as formas de discriminação. Tão pouco podemos voltar a
conviver com ameaças nucleares, é inaceitável”, apelou o chefe de Estado
brasileiro.
Na sua intervenção na cimeira, que pretende revigorar e
restaurar a confiança no multilateralismo, Lula da Silva reconheceu que os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável “foram o maior empreendimento
diplomático dos últimos anos”.
Contudo, assumiu, a iniciativa “caminha para se tornar o maior
fracasso coletivo”: “No ritmo atual de implementação apenas diversos 17% das
metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo. Na presidência do G20, o
Brasil lançará uma aliança global contra a fome e a pobreza, para acelerar a
superação desses flagelos”.
Lula da Silva recordou que na última Cimeira do Clima (COP28) “o
mundo realizou um balanço global da implementação das metas do Acordo de
Paris”, assumindo que “os níveis actuais de redução de emissões de gases de
efeito estufa e financiamento climático são insuficientes para manter o planeta
seguro”.
“Em parceria com o secretário-geral [da ONU], como preparação
para a COP30, vamos trabalhar por um balanço ético global, reunindo diversos
setores da sociedade civil para pensar a ação climática sobre o prisma da justiça,
da equidade e da solidariedade”, garantiu Lula da Silva.
A “segunda responsabilidade” elencada pelo Presidente do Brasil
visou a “responsabilidade comum” de “abrir caminhos diante dos novos riscos e
oportunidades”.
“O Pacto para o Futuro [adotado minutos antes nesta cimeira]
aponta a direção a seguir. O documento trata de forma inédita temas importantes
como a dívida de países em desenvolvimento e a tributação Internacional. A
criação de uma instância de diálogo entre os chefes de Estado e de Governo e
líderes de instituições financeiras internacionais promete recolocar a ONU no
centro do debate económico mundial”, assumiu.
Os Estados-membros da ONU comprometeram-se hoje a traçar “um
futuro melhor” para a humanidade afetada pelas guerras, pela pobreza e pelo
aquecimento global, apesar da oposição de alguns países, incluindo da Rússia, à
adoção do "Pacto para o Futuro".
Depois de duras negociações até ao último minuto, a Rússia
manifestou hoje a sua oposição ao texto do acordo, sem, no entanto, impedir a
sua adoção por consenso, antes da sessão de abertura da “Cimeira do Futuro”.
O “Pacto Global Digital”, também a adotar nesta cimeira,
reconheceu Lula da Silva, “é um ponto de partida para uma governança digital
inclusiva que reduza as assimetrias e uma economia baseada em dados e mitiga o
impacto de novas tecnologias, como a inteligência artificial”.
“Todos estes avanços serão louváveis e significativos, mas,
ainda assim, falta ambição e ousadia. A crise da governança global requer
transformações estruturais. A pandemia, os conflitos na Europa e no Médio
Oriente, a corrida armamentista e a mudança do clima escancaram as limitações
das instâncias multilaterais”, criticou.
Segundo Lula da Silva, a “maioria dos órgãos carece de
autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões”, a
Assembleia Geral das Nações Unidas “perdeu sua vitalidade”, enquanto a
“legitimidade” do Conselho de Segurança “encolhe a cada vez” que “aplica duplos
padrões” nas suas decisões.
Além de declarações de Estados-Membros da ONU, a "Cimeira
do Futuro" contará igualmente com diálogos interativos sobre temas como
transformar a governança global e impulsionar a implementação da Agenda 2030
para o Desenvolvimento Sustentável; ou reforçar o multilateralismo para a paz e
a segurança internacionais. ANG/Inforpress/Lusa
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