RDC/HRW
acusa M23 e Ruanda de bombardear "indiscriminadamente" campos de
deslocados
Bissau,27 Set 24(ANG) - A
ONG Human Rights Watch (HRW) acusou nesta quinta-feira a
rebelião do M23 e o exército ruandês de "bombardearem
indiscriminadamente" desde o início do ano campos de deslocados perto de
Goma, no leste da República Democrática do Congo onde, segundo esta
organização, a população também é alvo de violências do exército congolês.
Depois de uma relativa
acalmia, a partir de Novembro de 2021, o M23 ("Movimento de 23
de Março"), grupo armado maioritariamente tutsi que Kinshasa
acusa dde ser apoiado pelo Ruanda, tomou o controlo de vastas
extensões de território no leste da RDC, região rica em minerais e palco
de contínuos confrontos há três décadas.
As violências protagonizadas
pelo M23 com o suposto apoio de forças ruandesas provocou uma crise
humanitária sem precedentes com quase 7 milhões de deslocados internos, muitos
dos quais encontraram refúgio em campos nos arredores de Goma, no leste
da RDC.
"Desde
o início de 2024, o exército ruandês e o grupo armado M23 bombardeiam
indiscriminadamente campos de deslocados e outras áreas densamente povoadas
perto de Goma", afirma em comunicado a
delegação da HRW no Quénia.
De acordo com esta ONG de
defesa dos Direitos Humanos, existem dados sobre cinco ataques "claramente ilegais", em
que bombardeamentos atingiram civis.
A Human Rights Watch menciona
nomeadamente um ataque que causou oficialmente 35 mortos no campo
de Mugunga no passado dia 3 de Maio.
Washington acusa "as forças armadas de Ruanda e
do M23" de estar na origem dos disparos, uma
acusação que Kigali qualificou de "ridícula" e "absurda".
A HRW aponta
também um dedo acusador sobre o exército congolês. Segundo a ONG, as tropas
congolesas e seus aliados "colocaram
os deslocados em maior risco ao colocar artilharia nas proximidades".
Por outro lado, esta
organização também denuncia ataques e abusos das tropas congolesas e seus
aliados nesses mesmos campos.
"Soldados
congoleses e uma coligação de milícias responsáveis por abusos conhecidos como
‘Wazalendo’ (os patriotas, em swahili) abriram fogo dentro de campos de
deslocados, matando e ferindo civis", refere
a HRW que também denuncia casos de violações de mulheres dentro e
fora dos campos de deslocados.
Já no passado mês de Agosto,
um estudo da Médicos Sem Fronteiras indicava que mais de uma em cada dez
mulheres jovens afirmava ter sido violadas nos campos de deslocados de Goma.
"Ambas
as partes mataram habitantes dos campos, cometeram violações, travaram o
fornecimento de ajuda humanitária e cometeram outros abusos",
resume a HRW.
Uma situação perante a qual
o Presidente congolês Félix Tshisekedi reclamou ontem na Assembleia
Geral da ONU "sanções
direccionadas" contra o Ruanda, evocando "uma
grave violação da soberania nacional" congolesa.
Muito embora Kinshasa, os
Estados Unidos e a França tenham acusado em diversas ocasiões o Ruanda de
apoiar o M23, o Conselho de Segurança da ONU limitou-se até agora a
condenar o "apoio militar
estrangeiro" dado ao M23.
Refira-se, por outro lado,
que estas acusações surgem numa altura em que Angola afirma que
a RDC e o Ruanda estão prestes a chegar a um consenso.
Na passada terça-feira, na
tribuna da Assembleia Geral da ONU, o Presidente angolano que está a mediar as
negociações entre os dois países afirmou que "foi colocada sobre a mesa uma proposta de um acordo de paz
formulada pela República de Angola, envolvendo a República Democrática do Congo
e a República do Ruanda, cujos termos vêm sendo discutidos pelas partes a nível
ministerial". Esta proposta de acordo, contudo, não envolve
os rebeldes do M23.ANG/RFI
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