Cooperação/Costa do Marfim justifica retirada de tropas francesas com "soberania africana"
Bissau, 03 jan 25 (ANG) – A Costa do Marfim anunciou que
cerca de 600 soldados franceses vão começar a sair do país ainda este mês,
tornando-se o mais recente país africano a cortar relações com a França.
O historiador e investigador
guineense, João Paulo Pinto Có, acredita que a decisão do Presidente Alassane
Ouattara reflecte o "anseio de um movimento crescente" no
continente, especialmente entre os jovens, que querem ver implementadas novas
relações diplomáticas "mais horizontais".
O Presidente da Costa do Marfim,
Alassane Ouattara, anunciou a decisão no discurso de fim de ano. A medida é
descrita como um reflexo da modernização das forças armadas do país, que,
segundo Ouattara, têm a capacidade de garantir a segurança sem precisar do
apoio militar francês.
O Presidente Alassane Ouattara adiantou
que o quartel militar francês em Port-Bouët vai ser transferido para o comando
do exército da Costa do Marfim ainda durante este mês de Janeiro, marcando
o início de uma retirada organizada e coordenada. Este movimento marca a
tendência registada em vários países da África Ocidental e Central, onde a
presença militar francesa tem sido progressivamente afastada. A França, que
historicamente manteve uma forte presença militar no continente, vive um
momento de reconfiguração.
O historiador, antropólogo, João Paulo
Pinto Có, comenta a decisão do Presidente da Costa do Marfim, descrevendo
que "a decisão do
Presidente Ouattara acompanha o anseio de um movimento muito grande e forte no
continente africano, nomeadamente para uma juventude e de novas relações
diplomáticas mais horizontais com os antigos colonizadores".
Para o também investigador permanente do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau este anúncio não foi
uma surpresa, tratando-se de uma decisão que visa "reclamar a soberania do povo e
do próprio país".
O historiador acrescenta que o continente
africano vive um momento de transformação com novos "actores que procuram criar relações e
cooperações internacionais para o desenvolvimento de países africanos,
nomeadamente a China, a Rússia, a Turquia", oferecendo "novos moldes de cooperação".
Para o investigador João Paulo Pinto Có, o continente africano atravessa um
momento de "procura
de uma nova cooperação", tentando "traçar uma nova meta e quebrando
paradigmas".
O afastamento de Paris acontece após decisões
idênticas por parte do Mali, Burkina Faso, Níger e Chade. A decisão do Chade,
tomada a 28 de Novembro de 2024, foi surpreendente, uma vez que a França era
vista como uma aliada fundamental na luta contra o jihadismo no Sahel. O
Presidente chadiano, Mahamat Idriss Déby Itno, anunciou a rescisão dos acordos
de cooperação em matéria de defesa com a França, alegando questões de
soberania.
A retirada das tropas francesas não tem sido
justificada apenas por questões de soberania nacional, mas também como uma
resposta ao neocolonialismo.
O Presidente do Senegal, Bassirou Diomaye Faye, também se manifestou contra a
presença militar francesa no país, sugerindo que a França vai ter de fechar as
suas bases militares no Senegal. Embora não tenha estipulado uma data para a
retirada das forças francesas, Bassirou Diomaye Faye garantiu que a questão
está a ser pensada pelas autoridades senegalesas.
A França, que já perdeu mais de 70% das suas bases militares em África desde a década de 1960, está a repensar a sua estratégia militar no continente. Com a redução do número de soldados e o encerramento de várias bases, Paris está a tentar redefinir a sua abordagem para com os países africanos, optando por uma parceria mais equilibrada e menos dependente da presença militar permanente. Este processo tem sido acompanhar por novos desafios como a crescente influência de potências como a Rússia e a China, que têm estado a expandir a presença militar e económica no continente africano.ANG/RFI
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