Moçambique/MP admite envolvimento de "magistrados e polícias" em raptos
Bissau, 29 Abr 25 (ANG) - O Procurador-Geral da
República de Moçambique (PGR), Américo Letela, admitiu esta terça-feira
dificuldades para identificar e neutralizar os mandantes dos crimes de raptos
no país, denunciando o envolvimento de membros da polícia e de magistrados no
crime.
“Continuamos a registar situações de algumas
pessoas com responsabilidade na prevenção e combate deste crime, como por
exemplo alguns agentes da Polícia da República de Moçambique, que se envolvem
na preparação, facilitação e execução de raptos, bem como magistrados que,
motivados por esquemas de corrupção, garantem a impunidade ou favorecem os
infratores, por via das suas decisões", apontou Procurador-Geral, Américo
Letela.
Ao apresentar aos deputados a informação
anual do Ministério Público (MP) referente a 2024, Letela disse que os crimes
de rapto estão agora a ocorrer "com mais ousadia dos autores",
pedindo esforços adicionais do Estado e das comunidades, assim como a
cooperação com países da região.
"Persiste a dificuldade de identificação
e neutralização dos mandantes destes crimes, por um lado, devido ao modo altamente
sofisticado e complexo em que as redes operam, por outro, devido a alguns deles
atuarem estando fora do país", apontou o procurador.
Os dados apresentados pelo Ministério Público
indicam que em 2024 foram instaurados 32 processos relativos a este tipo de
crime, com o resgate de pelo menos 13 vítimas e detenção de 21 suspeitos,
apreensão de seis armas de fogo e desmantelamento de três cativeiros.
"Julgamos oportuna uma reflexão sobre a
adoção, no nosso ordenamento jurídico, dentre as várias medidas, as que
prevejam o congelamento de fundos e bens das vítimas, suas empresas e de
familiares próximos de modo a evitar pagamento de resgates para desencorajar o
crime", avançou o procurador-geral.
Em 10 de abril, o ministro do Interior de
Moçambique admitiu que o crime de rapto é complexo, organizado e transnacional,
e propicia a fuga de capitais, além de criar sentimentos de
"insegurança", apelando à sociedade para denunciar suspeitos de
envolvimento.
A polícia moçambicana registou desde 2011 a
março deste ano pelo menos 205 crimes de rapto, avançou o Governo, que admite
"desafios" para travar estes acontecimentos.
Em conexão com os casos, a polícia
moçambicana deteve pelo menos 302 pessoas, tendo sido desativados diversos
locais usados como cativeiros e apreendidas armas de fogo, incluindo bens
móveis e imóveis.
Desde 2011, uma onda de raptos afeta
Moçambique e as vítimas são, sobretudo, empresários e os seus familiares,
principalmente pessoas de ascendência asiática, um grupo que domina o comércio
nos centros urbanos das capitais provinciais no país.
Cerca de 150 empresários foram raptados em
Moçambique nos últimos 12 anos e uma centena deixou o país por receio, segundo
números divulgados em julho pela Confederação das Associações Económicas de
Moçambique, que defendeu que é tempo de o Governo tomar medidas para combater
este tipo de crime.ANG/Lusa

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