Saúde Pública/“Doentes mentais na Guiné-Bissau ainda vivem níveis brutais de rejeição", diz presidente da FPDGB
Bissau,
15 Abr 25 (ANG) - A Guiné-Bissau conta apenas com um centro público de
saúde mental, o
Centro Osvaldo Vieira, integrado na Faculdade de Medicina.
Trata-se de um centro ambulatório, que não
tem serviço de internamento. Para além desse local, existem duas clínicas privadas, nos arredores de Bissau.
Sendo clínicas privadas, coloca-se
inevitavelmente a questão dos recursos financeiros que podem deixar de lado
grande parte da população, gerando ainda outro nível de desigualdade, desta vez no
acesso ao tratamento.
"Se
o guineense já luta diariamente para poder garantir o pão na mesa, como é que
podemos imaginar que o guineense seria capaz de investir num membro da
estrutura familiar que tenha problemas de saúde mental",
questiona Pedro Cabral.
Presidente da Federação das Pessoas com Deficiência na Guiné-Bissau(FPDGB),
é com ele que abordamos estas questões.
As estratégias
políticas para tratamento da saúde mental são "inexistentes" no país, até
porque "o próprio
Estado considera que as doenças mentais e deficiências físicas são
transmissíveis", aponta o também sociólogo.
Fora da esfera política, é no núcleo famíliar que a exclusão
agrava o percurso de vida do paciente.
"Certas
famílias consideram que uma pessoa com deficiência terá menos utilidade do que
uma pessoa sem deficiência. A família é a origem de tudo, a origem de
tudo. E os níveis de rejeição brutais que se vive na Guiné-Bissau enquanto
deficiente mental ou físico têm génese na estrutura familiar. O estereótipo
começa dentro da própria família", analisa Pedro Cabral.
Existe também influência
das práticas religiosas e culturais na percepção dos
guineenses relativamente à doença mental e física. Testemunhando com a sua
própria experiência, Pedro Cabral nota que se diz dos cegos "que, caso não morram cedo, são
feiticeiros ou têm bruxaria".
A pessoa com deficiência tem dupla limitação:
limitação natural decorrente da deficiência e limitação decorrente rejeição da
sociedade.
Ficam
no entanto algumas notas positivas: o
progresso tecnológico facilita a vida das pessoas em causa e, é verdade,
nota-se maior tolerância e compreensão do fenómeno graças ao trabalho dos
actores da sensibilização (associações, ONG, etc).
Por exemplo, Pedro Cabral com quem falámos,
portador de deficiência visual, tirou um curso na Universidade Lusófona de
Bissau e mestrado na Faculdade de Direito; responde às mensagens do telemóvel
graças a uma aplicação e é hoje um exemplo encorajador para muitos jovens na
mesma situação.
Falta agora a implementação de políticas a
nível do Estado para que o progresso dos direitos das pessoas com deficiência
seja efectivo. ANG/RFI
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