RDC/ONU preocupada com violações generalizadas e execuções sumárias
Bissau, 31 Jan 25 (ANG) - As Nações Unidas manifestaram hoje preocupação com a violência no leste da República Democrática do Congo (RD Congo), onde o conflito entre o exército democrático-congolês e rebeldes do M23 tem sido marcado por violações generalizadas e execuções sumárias.
A conquista de maior parte de Goma, capital da província de Kivu do Norte, pelo Movimento 23 de Março (M23), no início da semana, marca uma escalada dramática numa região marcada por décadas de conflito envolvendo múltiplos grupos armados.
Desde o início da ofensiva, as bombas atingiram pelo menos dois
locais de abrigo para pessoas deslocadas internamente, "causando vítimas
civis", anunciou hoje o porta-voz do Gabinete dos Direitos Humanos da
ONU, Jeremy Laurence.
"Também documentámos execuções sumárias de pelo menos 12
pessoas pelo M23 entre 26 e 28 de janeiro", disse o porta-voz aos
jornalistas, em Genebra.
Em áreas sob o controlo do M23 no Kivu Sul, como Minova, o grupo
"ocupou escolas e hospitais, forçou pessoas deslocadas a abandonar campos
e submeteu a população civil a recrutamento forçado e trabalho forçado".
O gabinete dos direitos humanos documentou igualmente
"casos de violência sexual ligados ao conflito por parte do exército
democrático-congolês e dos combatentes aliados do Wazalendo no território
de Kalehe", acrescentou.
"Estamos a verificar relatos de que 52 mulheres foram
violadas por soldados congoleses no Kivu do Sul, incluindo alegações de
violação em grupo", acrescentou.
O porta-voz referiu-se também a relatos das autoridades da
RDCongo, país vizinho de Angola, de que pelo menos 165 mulheres foram
violadas por detidos do sexo masculino, depois de mais de 4.000 prisioneiros
terem fugido da prisão de Muzenze, em Goma, em 27 de janeiro, no momento
em que o M23 iniciou o seu ataque à cidade.
"A violência sexual relacionada com o conflito tem sido uma
característica terrível do conflito armado no leste da RDCongo durante
décadas", afirmou Jeremy Laurence.
O chefe dos direitos humanos da ONU, Volker Türk, "está
particularmente preocupado com o facto de esta última escalada poder aumentar
ainda mais o risco de violência sexual relacionada com conflitos",
acrescentou.
Do mesmo modo, "a atual proliferação generalizada de armas
em Goma agrava os riscos já significativos de violações e abusos graves",
afirmou, apelando à realização de investigações e a que os autores destes
crimes sejam levados à justiça.
Já na quinta-feira o porta-voz do secretário-geral da ONU
tinha dito que a organização estava "muito preocupada com a situação
volátil" no Kivu do Sul, e em particular com as informações
"credíveis" sobre o avanço do grupo armado M23 em direção a Bukavu.
Durante a manhã de quarta-feira, o M23 apoderou-se das aldeias
de Kiniezire e Mukwidja, situadas no território de Kalehe, na província de Kivu
do Sul, vizinha da província de Kivu do Norte.
Estas duas províncias, ricas em recursos naturais, estão
envolvidas há mais de 30 anos num conflito que envolve uma multiplicidade de
grupos armados, alguns dos quais apoiados por países vizinhos como o Ruanda, o
Burundi e o Uganda.
No Kivu do Sul, as forças armadas estabeleceram a sua principal
linha de defesa na cidade de Kavumu, que possui um aeródromo.
A guerra opõe o movimento rebelde M23, apoiado pelo Ruanda, ao
exército governamental.
Os rebeldes estão a ganhar terreno no leste da RDCongo, onde se
registaram numerosos surtos de doenças contagiosas e uma enorme escassez de
ajuda por parte da comunidade humanitária, que considera a situação muito
difícil.
"Estamos em Goma para ficar", disse quinta-feira o
chefe da plataforma político-militar a que pertence o M23, Corneille Nangaa,
numa conferência de imprensa em Goma, na qual garantiu: "vamos continuar a
marcha de libertação até Kinshasa".ANG/Lusa
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