Índia/Deputados protestam contra maus-tratos dos EUA a deportados
Bissau, 06 Fev 25 (ANG) - A sessão de hoje do parlamento indiano foi
suspensa por protestos dos deputados contra os alegados maus-tratos infligidos
a 104 migrantes deportados pelos Estados Unidos e que chegaram na quarta-feira
ao país.
Os migrantes foram levados dos Estados Unidos para uma cidade do
norte da Índia num avião militar, no âmbito de uma vaga de deportações decidida
pelo novo presidente, Donald Trump, mas o tratamento a que foram sujeitos
indignou de tal forma os deputados indianos que hoje, muitos gritaram protestos
em pleno parlamento e exigiram um debate sobre as deportações.
De acordo com deputados e meios de comunicação social, os braços
e as pernas dos deportados foram algemados enquanto estavam no avião, apesar de
a viagem ter demorado mais de oito horas, e só foram libertados no aeroporto de
Amritsar, na Índia.
Um tratamento que os deputados consideraram degradante,
lembrando que "algemados e com as pernas acorrentadas [os migrantes]
tinham até dificuldade em usar a casa de banho".
O presidente do parlamento, Om Birla, tentou acalmar os
deputados, dizendo que o transporte dos deportados era uma questão de política
externa dos EUA e que os Estados Unidos "também têm as suas próprias
regras e regulamentos", mas não impediu as manifestações dentro e fora do
hemiciclo a exigir uma resposta do Governo.
Alguns dos deputados que protestaram na rua usaram algemas e
empunharam cartazes que diziam: "Humanos, não prisioneiros", enquanto
o líder do Congresso, Rahul Gandhi, escreveu na rede social X que "os
indianos merecem dignidade e humanidade, NÃO algemas".
A sua mensagem foi acompanhada de um vídeo que mostra um dos
deportados, Harvinder Singh, a dizer que todos foram algemados e tiveram os pés
acorrentados durante 40 horas.
"Não nos deixaram sair um centímetro dos nossos lugares. Foi
pior do que o inferno", contou.
Os EUA geralmente realizam deportações em voos comerciais e
fretados, mas a utilização do exército para devolver pessoas ao seu país de
origem é um método novo, iniciado na administração Trump.
O ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, Subrahmanyam
Jaishankar, avançou hoje à câmara alta do parlamento que os regulamentos dos
EUA permitem o uso de restrições desde 2012, tanto em voos militares como civis
e garantiu que as autoridades norte-americanas os informaram que as mulheres e
as crianças não são algemadas.
Jaishankar defendeu que, embora o Governo esteja a falar com as
autoridades norte-americanas para "garantir que os deportados que
regressam não são maltratados", o foco da Índia deve estar na repressão da
migração ilegal.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, visitará Washington
na próxima semana, mas o tema já foi abordado numa conversa telefónica entre
Trump e Modi realizada na semana passada.
Durante a conversa sobre migrantes e deportações, Donald Trump
sublinhou a importância de a Índia comprar mais equipamento de segurança
fabricado nos Estados Unidos e haver um comércio bilateral justo.
O Governo de Nova Deli afirmou que se opõe à imigração ilegal,
principalmente porque está ligada a várias formas de crime organizado, e não se
opôs à deportação de cidadãos pelos Estados Unidos.
A patrulha de fronteiras dos EUA deteve mais de 14.000 indianos
na fronteira canadiana entre o final de setembro de 2023 e o final do mesmo mês
do ano passado, o que representou 60% de todas as detenções ao longo da
fronteira e um número 10 vezes maior do que o registado há dois anos.
Os relatos dos meios de comunicação social indicam que os
indianos que vivem nos EUA sem documentos são principalmente dos estados de
Punjab e Gujarat e que os indianos foram responsáveis por cerca de 3% de todas
as travessias ilegais de fronteiras nos EUA em 2024.
Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, 15.668
cidadãos indianos foram deportados dos EUA desde 2009.
Um relatório do Pew Research Center dizia que, em 2022, a Índia
estava em terceiro lugar - depois do México e de El Salvador - na lista dos
países com o maior número de imigrantes não autorizados - 725 mil - a viver nos
EUA.ANG/Lusa
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