Cabo Verde/ Ministério Público vai investigar Presidência
da República
Bissau, 11 Dez 24 (ANG) A
Procuradoria-Geral da República de Cabo Verde anunciou a abertura de instrução
para averiguar “indícios” de “ilícitos criminais” após ter recebido um
“relatório de auditoria financeira e de conformidade à Presidência da
República”.
Em causa está a eventual prática
de crimes de abuso de poder, participação ilícita em negócios, peculato e
recebimento indevido de vantagem, segundo o comunicado da PGR.
O processo de investigação aberto pelo
Ministério Público está relacionado com o pagamento de salários pela
Presidência da República à primeira-dama, Débora Carvalho, e outros pagamentos
considerados ilegais. De acordo com o comunicado do Ministério Público, o
relatório aponta indícios de práticas ilícitas que podem configurar crimes como
abuso de poder, participação ilícita em negócios, peculato e recebimento
indevido de vantagens, previstos no Código Penal.
A PGR anunciou também anunciou que deduziu
acusação contra um funcionário da Presidência da República por um crime de
desvio de dados, “na sequência de divulgações nas redes sociais e nos órgãos de
comunicação social da ordem de pagamento de salários” à primeira-dama. Na
instrução, o Ministério Público contou com “um relatório de inquérito realizado
pela Comissão Nacional de Proteção de Dados, dando conta de factos suscetíveis
de indiciarem a prática de ilícito criminal”.
A polémica sobre o salário da primeira-dama
começou em Dezembro do ano passado após a circulação nas redes sociais de
informações indicando que Débora Carvalho recebia na Presidência da República
um salário mensal de 310 mil escudos, cerca de 3 mil euros. A auditoria
financeira teria detectado outros pagamentos considerados ilegais.
José Maria Neves anunciou, há dois meses, a
substituição do chefe da Casa Civil da Presidência, Jorge Tolentino Araújo, na
sequência das polémicas com o salário da primeira-dama.Os casos levaram o chefe
de Estado a pedir auditorias por parte do Tribunal de Contas e da Inspeção
Geral das Finanças.
O conselho de administração da Presidência da
República defendeu, em Outubro, que há despesas irregulares detectadas pelo
Tribunal de Contas herdadas de gestões anteriores.
Em Agosto, um outro relatório, da Inspeção
Geral de Finanças (IGF), tinha concluído que o salário de 7,4 milhões de
escudos ilíquidos (67,6 mil euros) pagos durante dois anos à primeira-dama era
irregular. Entretanto, o Presidente cabo-verdiano assegurou que os montantes
apurados já foram devolvidos aos cofres do Estado.
A Presidência também acusou o Governo de ter
quebrado uma "longa tradição" de lealdade e cooperação institucionais
ao "barrar" um anteprojeto de lei - apresentado em Maio de 2022 - com
dispositivos para regular questões sobre o estatuto da primeira-dama.ANG/RFI