Israel/ Netanyahu começa a depor por Fraude, quebra
de confiança e suborno
Bissau, 10 Dez 24 (ANG) - O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, começa a ser ouvido como testemunha no julgamento que mobiliza a sociedade e também a política, a imprensa e o sistema judicial de Israel.
Netanyahu entra para a história do país como o primeiro
líder em exercício no cargo a ser peça-chave e testemunha em três casos:
Netanyahu é acusado de fraude, quebra de confiança e suborno. O premiê nega
todas as acusações.
O julgamento pretende
encerrar um ciclo de investigação que começou em 2017, apresentou uma acusação
em 2020, mas apenas em 2021 passou a ouvir testemunhas em virtude da pandemia
de Covid. Em meados de 2024, a promotoria concluiu o seu trabalho, cabendo
agora a Netanyahu ser interrogado.
Devido à guerra
atual, o processo sofreu inúmeros atrasos a pedido da defesa do
primeiro-ministro, que queria que ele fosse ouvido no tribunal em dias não
consecutivos e apenas duas vezes por semana entre 10h e 15h.
Apesar disso, em
conferência de imprensa na véspera, Netanyahu disse estar pronto para
testemunhar.
"Ouvi pessoas
dizerem que quero evitar o julgamento. Eu? Há oito anos espero apresentar a
verdade e finalmente explodir as acusações dirigidas contra mim",
disse.
O premiê vai depor
num tribunal subterrâneo em Tel Aviv porque o Shin Bet, o serviço de segurança
interno de Israel, considerou que não havia segurança suficiente na corte de
Jerusalém. Lembrando que durante a guerra atual um drone disparado pelo
Hezbollah conseguiu atingir a casa de Netanyahu em Cesareia, no norte de
Israel.
A juíza que preside o
Tribunal Distrital de Jerusalém, Rivkah Friedman Feldman, que condenou o
ex-primeiro-ministro Ehud Olmert por corrupção em 2014, rejeitou três pedidos
de adiamento por parte da defesa, que queria inclusive que Netanyahu fosse
testemunhar apenas em março de 2025. E assim ficou estabelecido que o premiê
deveria testemunhar em 10 de dezembro.
Importante lembrar
que, ao contrário de Netanyahu, Olmert renunciou ao cargo de primeiro-ministro
antes de sua acusação, depoimento, condenação e prisão. Ehud Olmert ficou preso
por 16 meses até ser solto em julho de 2017.
O Caso 1.000 marca a
primeira acusação; supostamente, o primeiro-ministro teria recebido do
empresário Arnon Milchan US$ 75.800 em charutos e US$ 52.300 em champanhe entre
2011 e 2016. A mulher de Netanyahu, Sara, também teria recebido US$ 3.100 em
joias, mas a acusação alega agora que este valor seria de US$ 45 mil. Outro
associado de Milchan, o australiano James Packer, também teria dado US$ 65 mil
em charutos e champanhe ao casal Netanyahu.
O premiê é acusado de
ajudar Milchan em questões relativas ao visto norte-americano e outros
interesses comerciais em troca de presentes caros.
A avaliação em Israel é de que este seja o caso no qual Netanyahu corre
maior risco de ser condenado.
No Caso 2.000, o
primeiro-ministro é acusado de buscar prejudicar o Israel Hayom, jornal
distribuído gratuitamente, para beneficiar outro veículo, o Yediot Ahronot. Em
troca, o jornal beneficiado deveria mudar a abordagem jornalística da cobertura
sobre o primeiro-ministro que ele considerava negativa .
Já o Caso 4.000,
também conhecido como caso Bezeq-Walla, tem como foco as alegações de que
Netanyahu teria aprovado decisões regulatórias que beneficiariam
financeiramente Shaul Elovitch, acionista da companhia de telecomunicações
Bezeq. A acusação é de que, em contrapartida, Netanyahu teria passado a receber
cobertura jornalística favorável do popular portal de notícias Walla, também de
propriedade de Elovitch.
Netanyahu vai testemunhar entre duas a três vezes por semana num processo
que deve durar semanas ou meses. Com a situação do país durante a guerra,
Netanyahu pode encontrar caminhos para se ausentar: a possibilidade de um novo
acordo para libertar os refens israelenses a partir de um cessar-fogo na
Faixa de Gaza; a situação de segurança no norte de Israel, e os acontecimentos
em curso na Síria são alguns dos exemplos de eventos que podem solicitar a
presença urgente do primeiro-ministro para tomar decisões.
A exposição da defesa
não deve se encerrar antes do final de 2025, podendo chegar até 2026. Há ainda
os argumentos finais e a possibilidade de recurso, o que pode empurrar ainda
mais a data da decisão.
Em entrevista ao
jornal Maariv, Sassy Gez, um dos principais advogados de Israel, acredita que
Netanyahu poderá ser absolvido da acusação de suborno no Caso 4.000, mas que
poderá ser condenado por quebra de confiança. Mas isso não resolve de todo a
situação do premiê, segundo o advogado.
"Se ele for
condenado por quebra de confiança, o tribunal deverá determinar se é um crime
que envolve difamação (das funções do cargo que ele ocupa). Se o tribunal
decidir que os crimes implicam difamação, Netanyahu não poderá continuar na sua
posição de primeiro-ministro", avalia.
Apesar das questões
internas em Israel, uma nova realidade na Síria também mobiliza as autoridades
do país, que tem dúvidas sobre as reais intenções do Hayat Tahrir Al-Sham
(HTS), grupo jihadista que protagonizou o rápido processo de tomada da Síria e
deposiçao do agora ex-presidente Bashar al-Assad.
O HTS foi formado em
2017 como uma espécie de versão 2.0 da Frente Nusra, um braço da Al-Qaeda. O
líder do grupo, Abu Mohammed al-Golani, procura passar a impressão de que
pretende adotar postura pragmática e deixou claro à CNN que o objetivo era
derrubar o regime de Assad. Não se sabe muito mais além disso.
Israel não sabe o
cenário que irá emergir do caos e da instabilidade na Síria. Se por um lado tem
a notícia positiva de derrota de Rússia, Irã e Hezbollah, por outro trabalha
com a possibilidade de que grupos vinculados no passado à rede al-Qaeda e ao
Estado Islâmico (EI) se estabeleçam próximos à fronteira israelense. Por isso,
as autoridades do país decidiram tomar a zona tampão entre Israel e Síria, uma
área de 235 quilômetros quadrados.
Israel corre contra o tempo para “limpar o terreno” a partir de um objetivo que considera prático e fundamental: impedir que o armamento deixado para trás pelo regime de Assad seja acessado pelos diferentes grupos que atuam neste momento no território.ANG/RFI
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