França/Exilados sírios na Europa comemoram queda de Bashar al-Assad e planejam visitar o país
Bissau, 10 Dez 24 (ANG) - Diversas
manifestações de apoio à ofensiva rebelde na Síria, que culminou na queda de
Bashar al-Assad, foram registradas ,no domingo, na Europa.
Na segunda-feira (9), apesar das
incertezas que pairam sobre o futuro, relatos de exilados do regime sírio sobre
a saída de Assad levam esperança para os sírios que vivem fora do país.
Centenas de refugiados sírios na França se reuniram na Praça da República, no centro de Paris, para
celebrar a vitória contra o regime, com amigos ou familiares que se juntaram de
forma espontânea para exprimir a alegria pelo momento histórico.
Para muitos deles, a
“esperança vem acompanhada da angústia”, à espera dos próximos dias e semanas.
Para outros, o importante é manter viva a memória das prisões sírias, símbolos
dos piores abusos de Bashar al-Assad.
“Estou respirando
pela primeira vez em muito tempo, é um dia especial”, confidenciou uma
estudante durantes as manifestações em Paris. “Esta é a primeira vez
que podemos dizer 'Assad foi embora'”, declarou uma síria que acompanhava a
manifestação. “Não tenho como descrever esse dia. Pela primeira vez, podemos
dizer 'Assad não nos governa'. A família de Assad já não está mais no poder”,
comemoravam os sírios no centro da capital francesa.
O chefe de redação do Syria Report e pesquisador associado do Conselho Europeu
de Relações Externas (ECFR), Jihad Yazigi, reagiu com espanto à queda do
ditador sírio Bashar al-Assad.
“Hoje, podemos ver a esperança renascer, mesmo que haja muitas
preocupações. A queda de Bashar al-Assad é o melhor dia dos últimos 13 anos”,
afirmou em entrevista à RFI nesta
segunda-feira (9). “Eu pensei que nunca veria esse dia”, confessa.
De acordo com ele, há
também angústia pelo que pode vir pela frente.“Muitos amigos meus
desapareceram, muitos ainda esperam entes queridos saírem da prisão, mas não
sabem se estão mortos, em outro lugar ou foram enterrados pelo regime”, conta
Yazigi.
O cartunista Najah
Albukai é refugiado político e autor do livro “Tous témoins” (“Todas as
testemunhas”, em tradução livre). Ele descreveu à RFI o terror que presenciou quando foi capturado várias
vezes pelas forças de Damasco entre 2012 e 2015, acusado de envolvimento em
manifestações contra o regime e, posteriormente, acusado por apologia ao
terrorismo. Ele conta que sofreu violência física e que ficou detido em celas
que chegavam a comportar “80 pessoas dentro de espaços que nem chegavam a 10
metros quadrados”.
“Os interrogatórios
eram feitos em locais onde havia marcas dos golpes, de sangue, pessoas
eletrificadas. Cada vez que saíamos do corredor víamos pessoas penduradas pelas
mãos, sendo torturadas (...) Na saída, eu via cadáveres de prisioneiros mortos
pelas torturas ou pelas péssimas condições sanitárias”, detalhou Najah
Albukai.
O cartunista revelou
que os prisioneiros sobreviventes eram obrigados a transportar corpos para
valas comuns. “O primeiro corpo que carreguei tinha o número 5.535”, escrito a
caneta, se recorda. “Mais do que o regime, ele (Assad) construiu muitas
prisões e jamais imaginou que milhões de pessoas se manifestariam contra ele”,
conclui o cartunista.
Mesmo que não saibam
nada sobre o futuro que os espera, muitos sírios dizem agora que querem
regressar ao seu país para ajudar a reconstruí-lo.
“É um momento de
alegria, medo, ansiedade e a certeza de que há esperança, a esperança de
construir uma Síria democrática”, declarou Rudi, presidente da União dos
Estudantes Exilados, no domingo, em Paris.
A Alemanha acolheu um milhão de refugiados sírios desde
2015, quando Angela Merkel abriu as suas fronteiras. Milhares deles também
mostraram a sua alegria este domingo com a notícia da queda de Bashar, em todo
o país. Em Kreuzberg, no centro de Berlim, uma manifestação espontânea reuniu
milhares de pessoas. Dezenas de carros, com as capotas cobertas com as
cores da Síria percorreram as ruas da cidade, saudados pela multidão.
Sabah e as suas amigas conduziam com as
janelas abertas, os cabelos ao vento, cantando a plenos pulmões. “Não, eles não
são islâmicos, é apenas a população que está contra Assad! E a mídia alemã está
apresentando isso como se fossem soldados islâmicos...”, disse.
“Dois de nossos primos, que pensávamos
estarem mortos há doze anos, hoje encontramos seus nomes em uma lista de
pessoas vivas que acabaram de ser libertadas da prisão”, relatou um homem na
multidão.
Na capital grega, várias centenas de sírios
também foram à Praça Syntagma para comemorar. Mas, embora o clima fosse de
júbilo, alguns sírios estavam mais uma vez se perguntando sobre o futuro
político de seu país, preferindo ser cautelosos antes de considerar um retorno
imediato.
Foi em grego que um idoso sírio, vestindo um terno azul antigo, deu início às festividades. No entanto, na praça central de Atenas, assim como em Paris, foram principalmente homens jovens que cantaram e dançaram para celebrar com os conterrâneos. ANG/RFI
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