segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Moçambique/"Isto não tem nada a ver com cor partidária, o povo é que está saturado"

Bissau, 30 Dez 24 (ANG) – Na véspera do anúncio de uma nova fase de protestos contra os resultados das eleições gerais de 9 de Outubro, a capital de Moçambique assiste a uma corrida aos supermercados e aos postos de combustível.

O clima de incerteza e apreensão tomou conta da cidade, com muitos cidadãos a apressarem-se para garantir alimentos antes de possíveis novas manifestações.

Cidadãos entrevistados à porta de supermercados partilham sentimentos comuns: de insegurança e falta de perspectiva. Para muitos, o futuro parece incerto, especialmente perante a expectativa do discurso de Venâncio Mondlane, candidato presidencial pelo partido PODEMOS, que promete anunciar mais protestos, em reacção aos resultados eleitorais que deram vitória ao partido FRELIMO e ao seu candidato Daniel Chapo, conforme declarado pelo Conselho Constitucional. 

A corrida aos supermercados é visível em cada esquina de Maputo. "Foi a última alternativa que tive, como hoje é um dia de livre trânsito, então não me restava outra coisa senão fazer compras hoje", afirmou uma moradora, revelando o esforço para garantir bens essenciais, como alimentos e combustíveis, caso haja uma escalada de violência.

A procura de alimentos não é exclusiva aos moradores da capital, muitos cidadãos vindos das províncias relatam situações de caos e destruição nas regiões: "Venho da província e praticamente não há nenhum supermercado. Já está tudo na desgraça, na destruição, então optei por esta alternativa, vir à cidade", disse outro morador.

À medida que o anúncio de mais protestos se aproxima, o descontentamento popular reflecte-se nas declarações de diversos cidadãos. "Isto para mim não tem nada a ver com cor partidária, não tem nada a ver com partido A ou B, tem a ver com o povo. O povo é que está saturado. O povo está-se a levantar cada vez mais por causa da justiça eleitoral", comentou uma cidadã, lembrando que o que está em jogo é a justiça nas eleições e a defesa de um processo eleitoral mais transparente.

O medo de novos conflitos é visível: "Estamos à esperar. Não sei qual vai ser o final porque dizem que vai falar na segunda-feira e o que vai falar? Com esses jovens que não conseguem entender que marcha e vandalização não é a mesma coisa", afirmou outra cidadã, que não esconde preocupação perante uma possível escalada de violência com rumos imprevisíveis. ANG/RFI

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