Tratado UE-Mercosul/ Comissão Europeia anuncia conclusão de acordo histórico
Bissau, 06 Dez 24 (ANG) - O
Mercosul e a União Europeia concluíram “as negociações para um acordo de livre
comércio”, anunciou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em
Montevidéu, na sexta-feira (6).
“Concluímos as negociações para o acordo
UE-Mercosul. Este é o início de uma nova história. Agora estou ansiosa para
discuti-lo com os países europeus”, disse Ursula von der Leyen na rede social
X, às margens de uma coletiva de imprensa conjunta com os presidentes da
Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, na qual foi anunciado o acordo alcançado
após 25 anos de discussões.
O anúncio da Comissão Europeia suscitou uma
reação imediata da ministra do Comércio Exterior da França, Sophie Primas.
“Hoje, claramente, não é o fim da história. O que está acontecendo em
Montevidéu não é uma assinatura do acordo, mas simplesmente a conclusão
política das negociações", disse a representante de Paris, que se opõe ao
tratado de livre comércio.
"Isso é vinculativo apenas para a
Comissão, não para os Estados-membros”, insistiu a ministra em uma declaração
enviada às agências de notícias, acrescentando que "a Comissão está
assumindo suas responsabilidades como negociadora, mas isso é vinculativo
apenas para ela’.
A cúpula do Mercosul em Montevidéu, no Uruguai, reúne os membros do
grupo, além de contar com a presença da União Europeia, representada pela
presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. Em uma visita inesperada, ela
havia expressado logo na chegada sua intenção de impulsionar a assinatura do
acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, mesmo enfrentando forte
resistência de alguns países-membros, como a França.
A participação da líder europeia refletiu tanto uma estratégia política
quanto um gesto de afirmação de seu segundo mandato. Ao comparecer pessoalmente
à reunião, von der Leyen desafiou a oposição de França e Polônia, enquanto
defendia a visão alemã de que o acordo é vital para conter oa avanço da
influ~encia da China A decisão também carrega uma dimensão pessoal, uma
vez que von der Leyen busca reforçar sua imagem diplomática, conforme aponta o
correspondente da RFI em Bruxelas, Pierre Bénazet.
A postura da
presidente da Comissão Europeia evidencia as profundas divisões no bloco
europeu, especialmente entre França e Alemanha. O presidente francês, Emmanuel
Macron, reiterou sua posição contrária ao acordo, alegando que as condições
atuais são inaceitáveis. Macron reforçou a oposição em uma conversa telefônica
com von der Leyen na véspera do encontro desta sexta-feira. Apesar disso, a
líder europeia afirmou que “é hora de cruzar a linha de chegada”, deixando
margem para interpretações sobre suas intenções.
A resistência francesa é ecoada pelo premiê Michel Barnier, que acaba de
renunciar ao cargo, mas que alertou sobre os riscos de passar por cima dos
interesses da França.
Para que o acordo
entre UE e Mercosul seja implementado, é necessário que tenha sido ratificado
por todos os países-membros. Os opositores trabalharam para formar uma “minoria
de bloqueio” — quatro países que, juntos, representem pelo menos 35% da
população europeia.
Até esta sexta-feira,
França, Áustria e Polônia declaravam oposição à parceria intercontinental.
Países como Bélgica, Países Baixos e Itália ainda não haviam definido suas
posições, com a última sendo considerada um fator decisivo.
Em Roma, o governo
italiano afirmou mais cedo nesta sexta-feira que “as condições não estão
reunidas”, citando preocupações com o setor agrícola. Agricultores italianos
temem prejuízos devido à concorrência de produtos importados, e o governo exige
garantias adicionais para proteger a produção local.
A posição da
primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, foi crucial. Sem o apoio da Itália,
o acordo dificilmente teria avançado. Meloni tem usado essa influência para
negociar proteções ao setor agrícola, sabendo que sua anuência foi
indispensável tanto para Ursula von der Leyen quanto para os demais
países-membros.
Berlim também vinha
pressionando para a assinatura. A porta-voz do governo alemão, Christiane
Hoffmann, declarou que “o chanceler Olaf Scholz considera este um momento único
para concluir o acordo e acredita que não devemos deixar a oportunidade
escapar”.
O chanceler alemão
Olaf Scholz saudou a conclusão das negociações de um acordo comercial entre os
países do Mercosul e a UE. “O acordo político entre os países do Mercosul
e a UE chegou. Um grande obstáculo foi removido”, escreveu o chanceler no X.
“Mais de 700 milhões de pessoas poderão se beneficiar de um mercado livre, mais
crescimento e competitividade”, acrescentou. ANG/RFI
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