quinta-feira, 9 de abril de 2015

Caju



ANAG defende abertura da campanha em Março

Bissau, 09 Abr 15- (ANG) - O Presidente da Associação Nacional dos Agricultores da Guiné-Bissau (ANAG) afirmou hoje que vai propor ao Governo que fixe a data de primeiro de Março de cada ano para a abertura oficial da Campanha de comercialização da Castanha de Caju.

Jaime Boles Gomes em entrevista exclusiva à ANG, disse que a referida data facilita os agricultores em termos de obtenção de melhores rendimentos na venda dos seus produtos.

 “Se o governo concordar vai se confirmar que isso terá mais vantagens para os agricultores ”, disse salientando que, “quando a campanha iniciar tarde o processo fica comprometido e os agricultores acabam por se desencorajar”.

De acordo  com o Presidente da ANAG, os preparativos para a campanha da comercialização da castanha de caju deve ser antecedido sempre de  uma campanha de sensibilização e formaçâo dos produtores sobre as formas de conservação da castanha por forma a vender os seus produtos em melhores condições.

 “Ninguém faz negócio sem rendimentos. A sensibilização é um trabalho muito indispensável mas  a ANAG näo tem condições de a fazer a nível nacional. Apelo aos agricultores para   antes de mais limparem as suas hortas por causa do perigo de incêndios. Devem separar a castanha para depois secar e por último coloca-las nos sacos, de preferências, os denominados sacos brutos “ referiu o Presidente da ANAG.

Jaime Boles Gomes criticou os comerciantes que já estão a comprar a castanha sem no entanto o governo ter declarado a abertura oficial da campanha ou de ter fixado o preço mínimo .

Aconselha aos produtores a não venderem os seus produtos à preços especulativos e pede os a admitirem mais sacrifícios  até que haja um preço oficial ou um preço mais razoável.

O Presidente dos agricultores da Guiné -Bissau pediu  ao governo que  faça, doravante, a abertura da campanha logo que os cajueiros começarem a florescer.

“O governo deve fixar o preço indicativo através de um Decreto para que as pessoas que pretendem comprar a castanha saibam, a priori, qual o premo base da compra do produto, a fim de evitar a compra da castanha à preços especulativos “, disse.

A presente campanha de comercialização da castanha de caju deve ser aberta na próxima semana, disse a ANG um fonte do Ministério da Comércio.


ANG/MSC/PFC/SG    

Bubaque


Fundação Ricardo Sanha promete apoio ao Hospital” Marcelino Banca”

Bissau, 09 Abr 15 (ANG) – A Fundação Ricardo Sanha na pessoa do seu presidente prometeu ajudar ao hospital “Marcelino Banca”, do sector de Bubaque a colmatar algumas das suas dificuldades.

A promessa foi feita no último fim-de-semana ao director do hospital de Bubaque, José Nakutum no decurso de uma visita que uma delegação da fundação fez àquele serviço hospitalar.

Ricardo Sanha, presidente da fundação com o mesmo nome disse que a instituição que dirige vai satisfazer a solicitação da direcção do Hospital “Marcelino Banca” com disponibilização de medicamentos e encaminhamento de alguns pacientes para centros especializados.

O hospital de Bubaque se depara com dificuldades de varia ordem nomeadamente com a falta de materiais e de pessoal técnico, segundo revelou o seu director, que ainda pediu a capacitação dos técnicos ali afectados.

O hospital conta, apenas, com dois médicos, 52 camas para internamento e sem nenhuma parteira.

 “Os partos são realizados pelos dois médicos especializados em clínica geral”, disse Nakutum.

No hospital Marcelino Banca funcionam os serviços da maternidade, pediatria, oftalmologia, tisiologia e medicina, sendo que a maioria dos pacientes que recorrem a este centro apesentam-se com malária, diarreia e doenças respiratórias.

Bubaque é uma ilha turística situada no Sul da Guiné-Bissau.


ANG/JD/JAM/SG

Marinheiros abandonados


Governo disponibiliza mais de 1.5 milhões de CFA para retorno à casa

Bissau, 09 Abr 15 (ANG) - A Secretaria de Estados dos Transportes e Comunicações disponibilizou pouco mais de um milhão e meio de francos cfa para custear o regresso ao país dos cinco marinheiros guineenses abandonados há mais de dois anos na Guiné Equatorial pelo navio pesqueiro espanhol “SI GLOBAL”.

O anúncio foi feito hoje em conferência de imprensa pelo Secretário-geral da ONG “Amigos Irmãos dos Homens do Mar” (AIRHOMAR) que acrescentou que o dinheiro para aquisição de bilhetes de avião de Guiné Equatorial para Dakar foi transferido desde dia 02 do mês em curso.

 Januário José Biague esclareceu que 4 dos marítimos teriam manifestado a vontade de permanecer na Guiné-Equatorial, pelo menos, até final do mês, na esperança de verem suas dividas saldadas pelo armado que os deixou naquele pais da África central.

“Pelas informações que dispomos, o armador do navio infractor não é visto no seu escritório de trabalho e muito menos atende chamadas telefônicas”, explicou José Biague que exorta aos marinheiros a se optarem pelo regresso à “casa”.

 Biague disse que a sua organização irá desencadear uma operação diplomática junto do governo espanhol no sentido de conseguir o pagamento dos marinheiros guineenses abandonados, cuja divida, segundo revelou, rondam os 90 mil dólares.

Por outro lado, Januário Biague sugeriu que se criasse uma comissão de inquérito para identificar as anomalias existentes no sector das pescas, em particular, no processo de embarque dos marinheiros.

Apelou aos Marinheiros a se recusarem e, ao mesmo tempo, denunciar embarques clandestinos que ocorrem à margem de procedimentos legais de embarcações.

 “Só denunciando é que o governo poderá tomar medidas para pôr cobro a estas situações”, disse.

Januário Biague aproveitou essa ocasião para agradecer ao médico pediátrico guineense, Augusto Gomes Baldé, pela assistência que tem prestado aos cinco marinheiros retidos na Guiné-Equatorial.


ANG/LPG/JAM/SG 

Sector Privado


Braima Canté considera "viciada" Assembleia Geral da Câmara de Comércio

Bissau, 09 Abr 15(ANG) - O candidato a presidência da Câmara de Comercio Industria, Agricultura e Serviços da Guiné-Bissau(CCIAS), Braima Canté, qualificou de "viciada", a Assembleia Geral da organização realizada no passado dia 04 do corrente mês em Bissau.

Em conferência de imprensa realizada na quarta-Feira para pronunciar sobre o acto, Braima Canté, vulgo Soioio, disse que a sua candidatura não reconhece a referida Assembleia Geral, motivo pelo qual decidiu abandonar a sala onde decorria os trabalhos da Assembleia-geral.

"Vamos accionar os mecanismos de diálogo junto da Mesa da Assembleia Geral da CCIAS para que sejam alteradas as falsidades ocorridas durante a realização do evento", prometeu.

Afirmou que vão exigir entre outros para que a Assembleia Geral permita aos sócios pagarem as suas quotas normais para que possam participar na votação da nova direcção da CCIAS cuja eleição está prevista para o próximo dia 26 de Abril.

Braima Canté sublinhou que um dos pontos da discórdia da Assembleia Geral, tem a ver com a forma como foi apresentado o Relatório de Contas da organização.

"A Direcção cessante da CCIAS apresentou as suas contas através de Power Point, e foi uma confusão para a maioria dos associados presentes na sala porque desconhece as regras informáticas", informou.

Declarou que no Relatório de Contas, foi constatado que durante cinco anos de exercício da Direcção cessante todas as contas saldaram em negativo, razão pela qual considera que essa Direcção, por este motivo, não deve merecer uma nova confiança dos associados.

Aquele empresário disse ainda que a maioria dos associados que participava nos trabalhos da Assembleia Geral é desconhecida no meio empresarial guineense, “porque os verdadeiros homens de negócios foram impedidos de entrar com alegações de não terem quotas em dia”.

Braima Canté disse que apesar de tudo vai concorrer a presidência da CCIAS, frisando que esta convicto de que será o vencedor dessas eleições. 

A assembleia geral da CCIAS decorrida sábado para além de aprovar os relatórios de actividades e de contas da direcção cessante criou a comissão que deverá organizar as eleições de novo presidente desta organização do sector privado.

Solicitado a opinar sobre a composição dessa comissão Canté disse estar de acordo com a indigitação do advogado Carlos Pinto Pereira para as funções de presidente da referida comissão eleitoral.

Para a presidência da eleição da CCIAS perfilam três candidatos, entre os quais o Presidente da Direcção cessante Braima Camará, Mama Saliu Lamba e Braima Canté.

Citado pela Rádio Nacional, Mama Saliu Lamba já declarou que vai mover uma “providência cautelar”, para impugnar os resultados da referida assembleia geral da CCIAS.

A assembleia geral da CCIAS decorreu sob protecção policial devido aos protestos de alguns empresários e associados que não tendo as quotas em dia foram impedidos de entrar na sala de reuniões.

ANG/AC/SG





   



  
  

   

Tempo



“Gotas de chuvas caídas são passageiras”, diz Director de Climatologia

Bissau, 09 Abr 15 (ANG) – O director dos serviços de Climatologia da Meteorologia Nacional disse que as pequenas gotas de chuvas que se verificaram na quarta-feira na capital Bissau podem ser consideradas de acidentais uma vez que ainda não entramos no período chuvoso.

Francisco Gomes que falava hoje em entrevista à ANG, disse que a situação de ameaça de chuvas que aparentemente se verifica não quer dizer que este ano a época chuvosa vai iniciar mais cedo. Gomes admite tratar-se de uma situação passageira.

Sublinhou que é muito prematuro falar da previsão pluviométrica porque ainda não receberam nenhuma indicação a propósito do Centro Regional.

.“Temos poucas informações sobre as causas das chuvas de ontem porque actualmente os serviços meteorológicos deixaram de fazer as previsões de tempo", explicou Francisco Gomes.

Gotas de água caíram quarta-feira a noite em Bissau fazendo prever que o pais pode ter as chuvas este ano mais cedo comparativamente aos anos anteriores, apesar das consequências que poderá ter para as culturas de caju, principal produto de exportação da Guiné-Bissau.


ANG/AALS

Pesca Artesanal


Autoridades da área relançam Centro de Pesca de Cacine

Bissau, 09 Abr 15 (ANG) - A Direcção Geral da Pesca Artesanal prepara o  relançamento do Centro de Pescas de Cacine (sul do país), onde já afectou quatro embarcações aos pescadores locais.
A informação foi dada à Agência de Notícias da Guiné - ANG pelo seu Director-geral,  Carlos Nélson Sanó .

 De acordo com este responsável, pretende-se que o centro funcione a título piloto, para depois, caso for bem sucedido, sejam criados centros idênticos nomeadamente em Cacheu (norte), Bafatá e Gabú (leste).
O Centro de Pescas de Cacine foi criado no âmbito da cooperação entre os governos da Guiné-Bissau e do Japão.

Segundo Nélson Sanó, devia iniciar os trabalhos em 2012, com a conclusão das obras mas tal não aconteceu devido ao golpe militar de Abril desse ano.
O centro foi criado para apoiar a  actividade piscatória naquela zona, e deve ter uma gestão autónoma, através de um comité que integra, um representante de associação de pescadores, uma representante das mulheres que vendem o pescado, um do poder local, do poder tradicional e um da Secretaria de Estado das Pescas.

“Neste momento, o comité já está constituído e estamos a trabalhar na elaboração de regulamentos, para permitir uma gestão mais justa, transparente e rentável do centro”, disse Sano.
A maioria dos pescadores daquela zona faz as suas actividades com canoas a remo.

“Se queremos rentabilizá-los, aumentar o emprego e fazer crescer a economia, temos que ajuda-los a sair desta situação”, defendeu.
O Director-geral da Pesca Artesanal referiu que para além das quatro embarcações “equipadas” concedidas ao centro, antes, os respectivos pescadores “identificados pelas próprias associações”, haviam recebido  treinamento em tecnologias modernas da pesca para se abdicar, nomeadamente, de práticas nefastas.

 “Quem conhece as novas tecnologias, vai ao mar a altura que quiser e consegue o peixe, sem nenhum preconceito de existir dias em que o “ mar não aceita a pesca”, conhecido tradicionalmente em crioulo como,” iago dana”.
Por isso,  segundo  Sano, a Administração das Pescas  pretende com o slogan” iagu nunca dana”, mostrar que os “homens do mar” podem, com conhecimento e materiais avançados, pescar a qualquer altura e com sucesso.

Sobre o Centro de Pesca Artesanal de Bubaque, Sanó disse que o mesmo foi privatizado mas que actualmente se encontra parado e com dezenas de trabalhadores desempregados.
Assegurou que estão em curso os planos para a sua operacionalização.

Outros projectos  existentes mas igualmente parados são os  contentores frigoríficos de Gabú, Canchungo, Bafatá e  Farim .
Sanó afirma que os mesmos estão a ser reabilitados para permitir que  estas localidades tenham acesso ao pescado em boas condições.

 Disse que o processo de “reparação total dos mesmos” se encontra numa  fase avançada,  estando o de  Canchungo já  pronto devendo os restantes ficarem igualmente concluidos  até ao final de Abril.
Para fazer face a crise do consumo do peixe no país, Nelson Sano disse que a Secretaria de Estado das Pescas tem em carteira, um projecto de instalação de novas câmaras frigoríficas ao nível do país, com vista a conservar o pesca

do, que será distribuído a partir de Bissau.

Este responsável garantiu que, segundo os planos deste pelouro governamental, o mesmo será implementado ainda este ano, para também contribuir para a redução do preço deste produto no mercado interno.
Para o efeito, Nelson Sanó acrescentou que já foi lançado  um concurso para a criação de fábricas de gelo em Uracan ( ilha no sul), em Bafatá e Gabú (zona leste) para assistir qos pescadores das respectivas áreas.

A ideia é, segundo o DGPA, incentivar o sector privado a investir neste sector.

Sano anunciou  nesta entrevista à ANG que brevemente, haverá um despacho que baliza, em termos concretos, o acesso à pesca artesanal.
Segundo a Lei que regula a pesca artesanal no país, uma embarcação não pode ultrapassar 18 metros de comprimento e o seu respectivo motor pode ter no máximo 60 cavalos. ANG/QC/SG

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Imigração clandestina






"As vítimas do deserto e do mar", por Braima Camará

Bissau, 08 Abr 15 (ANG) -Todos os dias há milhares de histórias sobre a travessia do Mar Mediterrâneo e a tentativa de chegar à Europa. Histórias que não são
histórias: são vidas de pessoas.
Marrocos faz fronteira com o Mar Mediterrâneo e corresponde à última
escala em África antes de se chegar à Europa. Dentro de Marrocos duas·cidades – Ceuta e Melilla – já são Europa, o que faz com que·diariamente haja imigrantes a tentarem entrar no seu perímetro. Ceuta


está rodeada pelo mar e por uma grelha de arame farpado. Se antes esta
barreira tinha três metros agora e para dificultar a entrada no espaço
geopolítico da União Europeia, tem seis. A primeira imagem da grelha é
absolutamente brutal: grades por toda a montanha,
dividindo uma vila dos seus habitantes, e patrulhamento militar permanente. Se de um
lado o ambiente faz lembrar as guerras coloniais, com trincheiras
escavadas e soldados de 30 em 30 metros. Do lado espanhol faz pensar
numa guerra futurista. Normalmente a acção marroquina evita que as
mãos europeias se encham de sangue.

Perto de Ceuta fica o bosque de Beliunes, onde até dois
meses atras, acampavam mais de um milhar de indivíduos à espera do
momento oportuno para passar a fronteira. Regra geral estes
acampamentos têm comunidades de origens diferentes e organizam-se em
assembleias. São acampamentos clandestinos ou semi-clandestinos que
perduram até que a polícia marroquina ou a falta de abastecimentos e o
alastrar de doenças, os obrigue a se auto-dissolverem. Nestes
acampamentos – entre os mais famosos, o bosque de Beliunes em Ceuta,
El Pilar de Rostrogordo e o monte Gurugu em Melilla – a situação
humana é difícil e perigosa uma vez que, os clandestinos ficam à
mercê de toda a espécie de abusos, não só da polícia marroquina e
espanhola, como da arbitrariedade de
especuladores que se aproveitam para fazer negócio.

Em finais de Outubro de 2014, a situação agudizou-se em Beliunes; o
acampamento estava a braços com uma epidemia de coceira e os militares
marroquinos andavam a varrer o local sob pressão do Governo Espanhol.
As várias comunidades de sub-saharianos reunidas na floresta decidiram
fazer dois assaltos colectivos à fronteira. Cada um deles teve a
participação de 500 pessoas, das quais cerca de cem, em cada assalto,
conseguiram passar. Houve centenas de feridos.

Saltar a rede implica alguma organização: ter escadas de pelo menos 6
metros; estar atento aos polícias e estar disposto a morrer e
a ver os corpos dos outros ficarem para trás –, uma vez que, se a
Guarda Civil electrifica o arame farpado e usa balas de borracha, o
exército marroquino dispara balas e transporta as pessoas capturadas
em camiões até ao deserto.

O assalto à rede foi uma nova batalha de uma guerra interminável e
representou uma mudança na fronteira sul da Europa. A profusão de
imagens que circularam no Ocidente acabou por suscitar uma mudança de
atitude por parte do governo marroquino, encorajado pelo apoio
financeiro da União Europeia. Em menos de dois anos atrás, mais de 4
mil “sub-saharianos” foram expulsos do território marroquino ou detidos
em acampamentos militares perto da fronteira com a Argélia..

Quando um “sem-papel” consegue chegar a Ceuta tem de se apresentar na
esquadra. Aí é registado, cabendo às autoridades
locais decidir o que fazer com ele. A sorte pode variar entre a
deportação e a recepção de um documento provisório, que permite ao
indivíduo deslocar-se em território europeu (sem, no entanto, ter
documentos que lhe permitam assinar um contrato de trabalho). Muitas
vezes, à porta das esquadras, elementos da Guarda Civil impedem aos clandestinos de
se apresentarem às autoridades, entregando-os aos militares marroquinos.
Se conseguiram o documento provisório são “depositados” no CETI –
Centro de Estância Temporária de Imigrantes –, um centro para 450
pessoas que chega a acolher 3.000. Provêem na sua maioria de países
marcados pela fome, miséria e guerra: Sudão, Costa do Marfim, Nigéria
ou Guiné-Bissau assim como Índia e Paquistão. Nos terrenos em volta do
centro, o ambiente é o de uma torre de Babel onde costumes, culturas e
hábitos coexistem em nichos. No entanto, mesmo em Ceuta ou Melilla,
estas pessoas deparam-se com a hostilidade racista dos árabes do Norte
de África, que não se consideram africanos e que acham que aquela
“sua” terra não é para os africanos. Com a brutalidade da polícia, que
não hesita em rasgar os papéis de um “ refugiados” ou com o desprezo
de comerciantes que se recusam a vender-lhes comida.


Relatos diferentes de uma mesma guerra, estas “micro-geografias” estão
todas profundamente interligadas e reflectem dimensões globais que as
as relacionam com a vida na Europa.

“Norma, Justiça e Direito”
assentam assim na existência de zonas de excepção em que a vida, como
a do imigrante sub-sahariano em Ceuta e Melilla, é passível de ser
morta, sem que tal constitua assassínio.

As migrações de pessoas e a circulação de conhecimentos fazem parte de
um mesmo processo que se faz sentir em ambos os lados do estreito e
obriga cada vez mais a repensar a própria noção de território. Os
enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla, situados em território
marroquino formam excepções na linha da fronteira que – caso estes
enclaves não existissem, acompanharia a linha da costa.

Através do financiamento da União Europeia, a administração espanhola
reactiva diariamente o processo de construção de uma outra fortaleza
na forma de zonas de compras (tax free zone) e ocidentais
praias turísticas, símbolos últimos da prosperidade e vigor da Europa
ali representada. As próprias cidades marroquinas incluem enclaves
arquitectónicos europeus (ou europeizados) numa interligação material
que nos leva a pensar que construir realidade apenas pode dar forma ao
que já existe em potência nas mentalidades e nos discursos

Há toda uma tecnologia do controlo que vive da existência de lugares
de excepção como estes, em que a polícia se militariza e o exército
entra na esfera civil. Corpo, espaço e tecnologia produzem e mantêm as
fronteiras que, em simultâneo, são transgredidas e atravessadas vezes
ao dia através de e-mails, sms, home-videos, televisão e rádio. ANG

(Braima Camará- colaborador da ANG em Madrid, Espanha)