Reino Unido/Deportados 600 brasileiros em voos secretos
Bissau, 02 Dez 24 (ANG) - Mais de
600 brasileiros, sendo 109 crianças, foram secretamente removidos do Reino
Unido - nos três maiores voos fretados de deportação da história do Home Office
- órgão inglês responsável pela imigração - desde que o governo trabalhista
chegou ao poder, segundo o Observer, em reportagem publicado pelo jornal
inglês The Guardian neste domingo (1°).
Os voos foram realizados entre 9 de agosto e 27 de setembro, quando 218 pessoas foram removidas de uma só vez.
Nunca antes o Reino Unido havia removido qualquer nacionalidade em um
número tão grande em voos fretados para deportação individuais. O número
recorde de deportados inclui crianças que podem ter passado a maior parte de
suas vidas no Reino Unido.
De acordo com dados de liberdade de informação acessados pelo Observer, os três voos foram realizados em 9 de agosto, quando 205 pessoas, incluindo 43 crianças, foram removidas; 23 de agosto, quando 206 pessoas foram removidas, incluindo 30 crianças; e 27 de setembro, quando 218 pessoas foram removidas, incluindo 36 crianças.
Todas as crianças deportadas estavam com suas famílias, estudavam em escolas inglesas, e teriam provavelmente passado a maior parte, se não toda a vida no reino Unido.
Os retornos foram classificados como voluntários e provavelmente incluíam pessoas que haviam ultrapassado o prazo de validade de seus vistos. O Home Office oferece incentivos para retornos voluntários de até £ 3 mil (quase R$ 23 mil), inclusive para bebês e crianças.
Os incentivos são fornecidos na forma de
cartões pré-carregados que podem ser ativados quando as pessoas aterrissam em
seu país de origem.
O governo britânico
revelou na quinta-feira 8.308 retornos forçados e voluntários entre julho e
setembro de 2024, um aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado.
A maioria - 6.247 - foram deportações voluntárias, um aumento de 12% em relação
a essa categoria de deportações durante o mesmo período em 2023.
Embora o governo esteja empenhado em promover
os números de deportados, não mencionou publicamente que o destino desses voos
históricos de deportação era para o Brasil.
As organizações de direitos dos latino-americanos levantaram preocupações
sobre como o Home Office conseguiu tirar do país um número tão grande
de pessoas de uma única nacionalidade, incluindo uma quantidade sem precedentes
de crianças que provavelmente estariam matriculadas em escolas,fora dos radares
oficiais, ou seja, de forma irregular.
A organização Coalizão de Latino-Americanos no Reino Unido expressou preocupação sobre as centenas de deportações secretas: “Estamos preocupados com o aumento acentuado de retornos voluntários de brasileiros no último ano. Como a maior comunidade latino-americana no Reino Unido, os brasileiros enfrentam barreiras significativas para ter acesso a informações de alta qualidade e assessoria jurídica credenciada, especialmente em seu próprio idioma. Muitos chegaram por meio de migração posterior de países da UE.
No entanto, as mudanças nas regras de imigração pós-Brexit deixaram centenas deles e seus familiares não pertencentes à UE sob o risco de terem seus direitos negados devido à desinformação e aos rigorosos requisitos de elegibilidade”, diz a nota.
A coalizão alertou que as mulheres brasileiras estão particularmente em risco com a iniciativa do Home Office de remover brasileiros do Reino Unido em massa, especialmente aquelas que sofrem violência de gênero.
“Essas mulheres são
frequentemente presas por parceiros abusivos que usam seus passaportes
britânicos ou da UE como ferramentas de controle, deixando-as sem nenhum
caminho viável para a segurança ou assentamento”, afirmam.
Em um caso, uma mulher estava sendo apoiada pela Latin American Women's
Aid, pois estava fugindo da violência com seus dois filhos, incluindo uma
criança com deficiência, com necessidades educacionais especiais. Eles foram
forçados a se deslocar entre três hotéis.
A mulher teve recusado o que é chamado de Concessão para Migrantes Vítimas de Abuso Doméstico, que permite que migrantes vítimas de violência doméstica permaneçam no Reino Unido, e não teve escolha a não ser retornar ao Brasil.
Não se sabe quantas
pessoas nos três voos não queriam retornar ao Brasil por temerem sua segurança,
mas sentiram que não tinham escolha a não ser embarcar nos aviões.ANG/RFI
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