EUA / Administração Trump impõe tarifas de 50% ao Brasil
Bissau, 06 Ago 25 (ANG) – Entraram em vigor esta quarta-feira, 6 de Agosto, as novas tarifas alfandegárias impostas pelos Estados Unidos contra o Brasil.
O
decreto, assinado pelo Presidente Donald Trump no final de Julho, estabelece
uma sobretaxa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros exportados para
os EUA , o valor mais alto aplicado a qualquer país.
A medida representa um golpe económico para o
Brasil e é interpretada como um gesto político com motivações que vão além da
economia.
Para
o professor Emerson Cervi, do Departamento de Ciência Política da Universidade
Federal do Paraná, a decisão tem o peso e o alcance de uma verdadeira
sanção: “As tarifas são
sanções. O Presidente norte-americano resolveu sancionar o Brasil com essas
tarifas. E não tem como o país estar preparado para enfrentar sanções como
essas, se nós considerarmos que os Estados Unidos são o segundo país em
parceria comercial com o Brasil. Há um impacto, sim”.
No
entanto, nas últimas semanas houve algum alívio nos sectores político e
económico do Brasil. O decreto prevê uma lista de 694 produtos isentos da
sobretaxa, o que exclui sectores estratégicos como derivados do petróleo,
componentes aeronáuticos e produtos siderúrgicos.
“Esperava-se até um impacto maior, mas a lista de excepções
aliviou a maioria dos segmentos que seriam atingidos por essas sanções. Ficaram
alguns grandes segmentos apenas, mas os maiores não entraram. Foram incluídos
numa lista de exceções de quase 700 produtos”, descreve o analista.
No
entanto, o politólogo destaca que o problema está longe de estar
resolvido. “O Brasil
está a tentar preparar-se para enfrentar sanções do seu segundo maior parceiro
comercial, mas isso significa que não é algo que vai ser resolvido em curto
prazo”, alerta.
A
aplicação das tarifas acontece num momento de tensão política entre Washington
e Brasília. Donald Trump tem criticado a justiça brasileira pelo prosseguimento
das investigações contra o antigo Presidente Jair Bolsonaro, seu aliado
ideológico. O representante norte-americano ao Comércio, Jamieson Greer,
afirmou que o Presidente “constatou
no Brasil, como noutros países, um mau uso da lei e da democracia”, e
justificou as tarifas como uma ferramenta legítima de pressão geopolítica. “É normal usar esses
instrumentos tarifários em questões geopolíticas”, acrescentou.
Contudo,
para Emerson Cervi, a decisão não resulta de um diálogo directo entre os
líderes dos dois países: “Pelo
menos oficialmente, não houve esse diálogo entre Lula da Silva e Donald Trump.
Parece-me que houve mais pressão dos sectores nos Estados Unidos que sofreriam
com as tarifas de 50%, inclusive com impacto muito grande na inflação daquele
país”.
O
analista cita o caso da Embraer como um exemplo de pressão interna que levou à
criação da lista de excepções: “Seriam,
inicialmente, taxadas em 50% as aeronaves e peças da Embraer, que é a empresa
brasileira que fornece aviões para 80% da aviação regional dos Estados Unidos.
Imaginem o impacto que isso teria sobre o custo de operação das empresas
aéreas. Não são só os aviões novos, também sobre as peças de reposição dos
aviões que já estão em circulação”.
Outro
exemplo é o do sumo de laranja brasileiro, produto consumido nos EUA. “Se fosse aplicada a tarifa de 50%, o
sumo de laranja brasileiro teria um impacto gigantesco na inflação do cidadão
comum dos Estados Unidos. Isso fez com que Trump recuasse. Acho que foi mais
essa pressão interna do que capacidade de negociação diplomática”, sublinha.
Na
visão do politólogo, o estilo de Donald Trump é marcado pela imposição, e não
pela negociação: “Trump
é imposição. E a verdade é que poucos líderes mundiais conseguiram responder e
pressionar o presidente norte-americano desta forma. Basicamente, só a China e
o Brasil, e no caso brasileiro, muito mais por conta de pressões económicas
internas dos EUA do que por qualquer capacidade de articulação diplomática”.
Emerson
Cervi observa, ainda, que a diplomacia institucional foi deixada de lado por
Donald Trump: “A
diplomacia é especificamente algo que não existe no governo Trump. O Brasil não
conseguiu negociar directamente porque não houve espaço para isso. O que
funcionou foi a pressão de sectores norte-americanos prejudicados", concluiu.
O
representante comercial dos EUA afirmou que as tarifas são “quase definitivas” e
que não haverá negociações no imediato. A maioria das novas tarifas sobre
dezenas de países entra em vigor a 7 de Agosto, com variações que vão de 10% a
41%. Para países como a União Europeia, Japão ou Coreia do Sul, os direitos
aduaneiros ficam nos 15%; para o Reino Unido em 10%; Indonésia em 19% e
Vietname ou Taiwan em 20%. O Brasil foi atingido com a sobretaxa máxima de 50%.
ANG/RFI

Sem comentários:
Enviar um comentário