EUA/Donald Trump recebe Vladimir Putin no Alasca para discutir guerra na Ucrânia
Bissau, 15 Ago 25 (ANG) - Donald Trump e Vladimir Putin reúnem-se esta sexta-feira, em Anchorage, no Alasca, para discutir a guerra na Ucrânia.
O local, com forte simbolismo histórico, recebe pela
primeira vez um líder russo. Kiev rejeita trocas territoriais, enquanto
Washington tenta convencer aliados a aceitar um acordo parcial.
Vladimir Putin, visado pelo TPI, evita países que
poderiam detê-lo, mas não corre risco nos EUA.
Donald Trump e Vladimir Putin
encontram-se esta sexta-feira, 15 de Agosto, em Anchorage, no Alasca, para uma
reunião bilateral centrada na guerra na Ucrânia. O encontro acontece na Base
Militar Conjunta Elmendorf-Richardson, a maior instalação militar do estado e
um ponto estratégico para a defesa norte-americana no Ártico. As autoridades
norte-americanas confirmaram que a base norte-americana cumpre todos os
requisitos de segurança para receber a reunião de mais alto nível.
O Alasca, comprado pelos EUA à Rússia em
1867, tem ligações históricas ao antigo império czarista, desde a colonização
por comerciantes siberianos no século XVIII. Vizinho da Rússia através do
estreito de Bering, foi palco da única batalha em território norte-americano na
Segunda Guerra Mundial. Este passado, aliado à proximidade geográfica, levou
Moscovo a considerar “lógica” a escolha do local para a
cimeira, tornando Vladimir Putin o primeiro líder russo a visitar o estado.
Esta vai ser a primeira vez que os dois
líderes se encontram desde que Donald Trump fixou, sem sucesso, um prazo até 8
de Agosto para que Moscovo aceitasse um cessar-fogo imediato na guerra na
Ucrânia, sob pena de novas sanções. A reunião surge depois das
conversações “muito produtivas” em Moscovo entre o enviado
especial norte-americano, Steve Witkoff, e Vladimir Putin.
A Casa Branca classificou a cimeira como
um “exercício de escuta” e uma “reunião exploratória”, procurando
reduzir as expectativas de um acordo imediato. Donald Trump afirmou que
vai “pressionar” Vladimir Putin para terminar o conflito, mas
admitiu que podem ser necessários “ajustes territoriais”, uma
hipótese já rejeitada por Kiev.
O Presidente ucraniano, Volodymyr
Zelensky, não vai estar presente, a pedido de Vladimir Putin, mas teve reuniões
virtuais com Donald Trump e líderes europeus esta semana, antes do encontro.
Volodymyr Zelensky rejeitou a troca de territórios ocupados.
Segundo a CBS News, Washington tenta
persuadir os aliados europeus a aceitar um acordo que reconheça o controlo
russo sobre a Crimeia e o Donbass, em troca da retirada de Moscovo de Kherson e
Zaporíjia.
Desde o início da invasão russa, em
2022, as duas partes manifestaram interesse em negociar, mas mantêm posições
incompatíveis. Vladimir Putin insiste na neutralidade da Ucrânia e na
manutenção de parte dos territórios ocupados, enquanto Kiev exige a restituição
total das áreas sob controlo russo.
O encontro acontece num momento de
relações complexas entre os dois países, marcado por décadas de contactos,
interesses económicos e acusações de ingerência política. Donald Trump e
Vladimir Putin mantêm contactos antes da eleição de Donald Trump à presidência
em 2016. O primeiro encontro conhecido data de 1986, quando Donald Trump
participou num jantar em Nova Iorque com o embaixador soviético. No ano
seguinte, deslocou-se a Moscovo para discutir a construção de um hotel de luxo.
Nos anos 2000, os negócios de Donald
Trump receberam investimentos de origem russa. Em 2013, Donald Trump visitou
Moscovo no âmbito do concurso Miss Universo, do qual era proprietário. Nos anos
seguintes, o multimilionário fez declarações públicas e elogiou Vladimir Putin.
Durante a campanha presidencial de 2016,
os serviços de informações norte-americanos detectaram ingerência russa. A
investigação conduzida pelo procurador especial Robert Mueller confirmou a
ingerência, mas não provou uma conspiração entre a equipa de Trump e as
autoridades russas.
O Senado dos Estados Unidos publicou, em
2020, um relatório a confirmar que Vladimir Putin autorizou operações de
pirataria informática contra o Partido Democrata, com o objectivo de prejudicar
Hillary Clinton e favorecer Donald Trump.
No primeiro mandato (2017-2021), a Casa
Branca aplicou sanções à Rússia relacionadas com ingerências eleitorais e
outros incidentes, como o caso Skripal. Donald Trump manteve encontros
bilaterais com Vladimir Putin em cimeiras internacionais, incluindo Hamburgo,
em 2017, e Helsínquia, em 2018.
Com a invasão russa da Ucrânia, em
Fevereiro de 2022, Donald Trump criticou a política de apoio a Kiev e defendeu
uma reavaliação da ajuda militar. Em 2022, o Congresso norte-americano aprovou
o envio de armas à Ucrânia. Desde 2023, Donald Trump condiciona nova
assistência a investigações sobre alegados casos de corrupção envolvendo a
família do antigo Presidente Joe Biden.
Desde março de 2023, Vladimir Putin é
alvo de um mandado de detenção emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI),
que o acusa de deportação ilegal de crianças ucranianas, um crime de guerra.
Nem os Estados Unidos, nem a Rússia ratificaram o Estatuto de Roma, que criou o
TPI, e, por isso, não reconhecem a jurisdição nem têm obrigação legal de
executar o mandado.
Para evitar riscos, o líder russo
recusou convites para cimeiras dos BRICS na África do Sul e no Brasil, optando
por viajar apenas para países como a China e a Coreia do Norte, fora da alçada
do TPI. Desta forma, Vladimir Putin não corre perigo de ser detido ao visitar
os EUA, onde Donald Trump, no seu regresso à presidência, chegou mesmo a
sancionar o TPI por emitir mandados contra líderes israelitas. ANG/RFI

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