Brasil/Estudantes
brasileiros de medicina na Argentina abandonam país após aumento do preço das
faculdades
Bissau, 02 Dez 24 (ANG) - Milhares de estudantes brasileiros que foram morar na Argentina em busca do sonho de cursar faculdade de medicina a um custo razoável foram pegos de surpresa por aumentos acima da inflação anunciados pelo governo Milei.
Alguns são estudantes da faculdade privada mais procurada pelos brasileiros no país vizinho e que agora interrompem o sonho e voltam para o Brasil, outros recomeçam os estudos no Paraguai.Aos 22
anos, Amanda Mello está no terceiro ano de medicina, ela trocou Cuiabá por
Buenos Aires para seguir o sonho de ser médica, mas, na metade do caminho,
vieram os aumentos do custo de vida na Argentina e, sobretudo, da
mensalidade do ensino.
“Quando saí da minha cidade, eu tinha a
intenção de vir para a Argentina para me formar. Atualmente, com a situação que
está, a faculdade em particular e o custo de vida em geral, tive de refazer os
planos porque aqui não está dando mais para continuar. Tive de conversar muito
com a minha família e pensar em outras possibilidades para poder continuar com
meu sonho que infelizmente foi interrompido”, lamenta Amanda num desabafo
à RFI.
Amanda está de mudança para o Paraguai,
onde vai continuar seus estudos de medicina. “O Paraguai conseguiu abrir as
portas para mim do mesmo jeito que a Argentina abriu há dois anos, porém com um
custo de vida menor e com uma faculdade muito boa”, compara.
Segundo um relatório do Ministério do
Capital Humano da Argentina, com base nos números mais atualizados disponíveis
de 2022, existem 20.255 estudantes brasileiros de medicina no país, dos
quais 12.131 estão matriculados no sistema público de educação. Dos
restantes 8.124, cerca de 6 mil estão na universidade Barceló, onde os
brasileiros ocupam 75% das vagas, segundo o centro de estudantes da faculdade.
Numa das três sedes da universidade, a
situada em Santo Tomé, na fronteira com a cidade gaúcha de São Borja, a Barceló
já cobra 25% a mais se o estudante for de nacionalidade brasileira.
A situação chegou ao limite, e, com
isso, milhares de estudantes que habitam em Buenos Aires decidiram protestar.
O índice de preços ao consumidor desde
janeiro deste ano é 106,98% e deve fechar o ano abaixo de 120%, mas os aumentos
na Barceló quase triplicaram essa cifra (325%).
Para muitos, o sonho de ser médico ficou
para trás. É o caso do baiano Ario Santos, de 42 anos, que decidiu voltar
para Vitória da Conquista, sua cidade natal, depois de três anos de estudos na
Argentina.
“O que eu vou fazer agora é trancar
minha faculdade aqui, voltar para o Brasil, esperar um pouco mais para ver se
melhora a condição cambial daqui e, se isso acontecer, eu volto para continuar
a minha faculdade. Porque eu estou no terceiro ano, já é um pouco mais da
metade, eu não posso perder o que eu já investi”, explica Ario Santos à RFI.
“Hoje, com R$ 8 mil, está difícil você
conseguir pagar tudo. Então, eu creio que aumentou 300% ou até 350%. É uma
coisa incrível. Ninguém pode pagar isso. Por isso, a maioria dos brasileiros
está voltando”, acrescenta.
A paulista Mikaela Bessa, de 20 anos,
indica à RFI que "vai jogar no lixo os dois anos
investidos" na universidade privada Barceló, mas não vai desistir do
sonho. Como na Argentina, a universidade pública não reconhece o estudo da
privada, Mikaela vai recomeçar do zero.
“O impacto desse aumento na minha vida é
que eu terei de recomeçar. Vou ter de trancar, parar a faculdade no meu segundo
ano. Ou seja: são dois anos que paguei a faculdade, que eu me esforcei, jogados
no lixo. E vou recomeçar numa universidade pública aqui na Argentina para
continuar o meu sonho e não ter de desistir e voltar para o Brasil”,
resigna-se.
A também paulista Iasmin Riboski, de 21
anos, olha ao redor e vê como o sonho se tornou um pesadelo para os brasileiros
e para as suas famílias no Brasil que arcam com os custos.
“Eu tenho a minha família no Brasil. Os
meus avós, já aposentados, e os meus pais, que também estão dando todo o
esforço possível. É muito complicado porque a gente vem com um sonho e volta
com uma ilusão de que a vida é barata, de que a faculdade vai nos escutar, mas,
infelizmente, esse sentimento de frustração não é somente meu, mas de todos os
meus colegas e de todos os estudantes aqui”, aponta Iasmin sobre o caso de
brasileiros nas universidades privadas argentinas. ANG/RFI
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