Ex-Primeiro-ministro dá até 27 de março
para Sissoco Embaló abandonar Presidência
Bissau, 10 mar 20 (ANG) - O antigo primeiro-ministro guineense Baciro Djá
deu segunda-feira até dia 27 para Umaro
Sissoco Embalo abandonar a presidência do país, acusando-o de ocupar a chefia
de Estado de forma ilegal e violenta, noticiou a Lusa.
"Vamos dizer a Umaro Sissoco Embalo que tem até o dia 27 deste mês
para abandonar o Palácio da República, se não o fizer, vou lá eu pessoalmente
tirá-lo", afirmou Baciro Djá, num encontro com as mulheres do seu partido,
a Frepasna, que hoje celebrou o segundo aniversário.
Para o líder da Frente Patriótica de
Salvação Nacional, Umaro Sissoco Embalo deve sentar-se à mesa das negociações
com a classe política guineense "para dialogar e buscar
compromissos".
Baciro Djá, de 47 anos, disse que se
Umaro Sissoco Embalo se autointitula de general das Forças Armadas, então ele,
Baciro Djá, é um marechal devido ao percurso que fez sempre ligado ao Exército
guineense.
"Há um autoproclamado Presidente da
República que está a dizer que é general. Se ele é general eu sou marechal,
porque eu comecei desde pequeno, com as Forças Armadas, fui presidente do Instituto
da Defesa Nacional, fui coordenador do programa de reforma do sector de Defesa
e Segurança, fui ministro dos Combatentes e da Defesa Nacional", disse
Baciro Djá.
O líder da Frepasna disse ainda que há
pessoas que estão nas Forças Armadas desde os 14 anos, hoje com 60 e 70 anos,
mas que "nem passam de capitães ou tenentes" e que é incompreensível
que Sissoco Embalo seja general.
"Assim sendo, eu também posso
autointitular-me de marechal. A partir de hoje passam a chamar-me de
marechal", sublinhou o antigo primeiro-ministro guineense, pedindo às
Forças Armadas que honrem o "seu passado glorioso" e toda a sua
formação académica.
Baciro Djá notou ainda que as Forças
Armadas não podem permitir nem apoiar o assalto ao poder, o Palácio da
República, às instituições do Estado "de forma anárquica e violenta",
numa acção que disse envergonhar a Guiné-Bissau.
"Estão a meter o país numa
vergonha, fazem de nós um país de gente sem cultura democrática, gente
incompetente, quando nós somos um país exemplo pelo nosso passado",
defendeu Djá.
O líder da Frepasna lembrou que o
próprio se demitiu do Governo que liderava em Agosto de 2015, considerado
inconstitucional pelo Supremo Tribunal, mesmo achando, na altura, que a decisão
era errada.
"O Supremo considerou o meu Governo
inconstitucional, não estava de acordo, mas por ser um politico democrático
aceitei a decisão", afirmou Djá, esperando que Sissoco Embaló adote a
mesma postura.
Baciro Djá frisou não estar a colocar em
causa que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) tenha dito que Embalo é o
vencedor da segunda volta das presidenciais, mas apenas o exorta a aguardar
pela decisão do Supremo sobre o contencioso.
A Guiné-Bissau vive mais um momento de
tensão política, depois de Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições
presidenciais pela CNE, ter tomado posse há mais de uma semana como Presidente
do país, quando ainda decorre um recurso no Supremo Tribunal de Justiça,
apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira, que alega graves
irregularidades no processo.
Na sequência da tomada de posse, Umaro
Sissoco Embaló demitiu Aristides Gomes, que lidera o Governo que saiu das
legislativas e que tem a maioria no parlamento do país, e nomeou Nuno Nabian
para o cargo.
Após estas decisões, os militares
guineenses ocuparam e encerraram as instituições do Estado guineense, impedindo
Aristides Gomes e o seu Governo de continuar em funções.
O presidente da Assembleia Nacional
Popular, Ciprinao Cassamá, que tinha tomado posse como Presidente interino, com
base no artigo da Constituição que prevê que a segunda figura do Estado tome
posse em caso de vacatura na chefia do Estado, renunciou no domingo ao cargo
por razões de segurança, referindo que recebeu ameaças de morte.
Umaro Sissoco Embaló afirmou que não há
nenhum golpe de Estado em curso no país e que não foi imposta nenhuma restrição
aos direitos e liberdades dos cidadãos.
Mediadora da crise guineense, a
Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) voltou a ameaçar
impor sanções a quem atente contra a ordem constitucional estabelecida na
Guiné-Bissau e acusou os militares de se imiscuírem nos assuntos políticos.
As Nações Unidas, a União Europeia e a
Comunidades dos Países de Língua Portuguesa apelaram ao diálogo e à resolução
da crise política com base no cumprimento das leis e da Constituição do país.
O Conselho de Segurança também já
ameaçou impor sanções.ANG/Angop