CEDEAO/Presidente denuncia “dimensão internacional” após recentes golpes de Estado em África
Bissau, 17 Mar 22(ANG) – O presidente da CEDEAO denunciou quarta-feira a “dimensão internacional” do aumento do número de golpes de Estado em África nos últimos anos e defendeu que “algumas entidades estrangeiras os vêem como forma de impulsionar as suas ambições regionais”.
“Embora
os catalisadores sejam sobretudo internos, a dimensão internacional não pode
ser ignorada. A intervenção externa no fomento de mudanças anticonstitucionais,
muitas vezes a favor de governos repressivos, interesses económicos
estrangeiros e outros possíveis ganhos geopolíticos, são factores que também
ajudam”, acrescentou o chefe de Estado ganês e presidente em exercício da
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Nana Akufo-Addo.
O
dirigente, que intervinha numa conferência promovida pela União Africana (UA)
em Acra, considerou que as “entidades estrangeiras” participam em “todo o tipo
de campanhas de desinformação para difamar a autoridade de governos
democraticamente eleitos e instigar protestos da oposição contra aqueles que
ocupam cargos”.
O
Presidente ganês também salientou que “o ressurgimento de golpes de Estado em
África em todas as suas formas e manifestações deve ser condenado por todos,
pois mina seriamente o esforço colectivo para eliminar a ameaça da
instabilidade e mudanças inconstitucionais de Governo”.
“Mudanças
inconstitucionais de regime atrasam o crescimento de um país”, considerou, e
defendeu que “a unidade e a determinação devem enviar uma mensagem clara aos
que urdem golpes de Estado, que os motins nunca foram e nunca serão soluções
duradouras para os desafios políticos, económicos e de segurança em África”.
“Comunicados
que simplesmente condenam os golpes sem uma acção correspondente pouco ou nada
alcançam, como se viu nos últimos tempos. Esse problema exige concertação
colectiva, dissuasão efectiva, acção firme e, igualmente importante, medidas
preventivas adequadas”, argumentou.
Neste
sentido, sublinhou que “já passou muito tempo para um consenso no Gana e em
África sobre qual a forma democrática de governação preferível”.
“Percorremos
um longo caminho, mas não devemos dar como certo que todos aceitaram a
democracia como forma preferida de Governo”, alertou, porque, destacou: “Há
quem procure um mandato autoritário e pessoal porque diz que África é
subdesenvolvida e a democracia é incómoda”.
“Há quem
procure atalhos para exercer o poder sem limites e quem não respeite a
liberdade livre e soberana do povo porque não concorda com as suas preferências
ideológicas”, denunciou.
Nana
Akufo-Addo sublinhou que “tem-se de trabalhar para convencer essas pessoas de
que estamos todos mais seguros em democracia”.
A
este propósito, o presidente em exercício da CEDEAO recordou que o Centro
Africano de Estudos Estratégicos revelou que 18 líderes africanos alteraram ou
eliminaram nos últimos 20 anos o limite de mandatos previstos nas Constituições
dos seus países e que oito resistiram ao cumprimento dessa limitação, o que
equivale a quase metade do continente.
Akufo-Addo
lamentou ainda que “processos eleitorais para estabelecer a extensão ou
eliminação dos limites de mandatos em África têm sido muitas vezes marcados por
acusações de irregularidades generalizadas”, antes de sublinhar que “os povos
africanos pagaram um alto preço pelos esforços dos seus líderes para violar os
limites de prazo estabelecidos pela Constituição”.
Com
base nesta situação, referiu-se aos “efeitos devastadores” dos golpes e
tentativas de golpe na região, após os motins registados desde 2020 no Mali, na
Guiné-Conacri e no Burkina Faso, além da tentativa na Guiné-Bissau.
“Embora
sejamos rápidos em sancionar os líderes militares golpistas, os civis, que
atingem fins semelhantes manipulando Constituições para permanecer no poder,
não são sancionados, embora as suas acções sejam claramente proibidas nos
nossos instrumentos legais. Isto quer dizer que as estruturas existentes devem
ser fortalecidas para lidar com esses infractores”, concluiu.
ANG/Inforpress/Lusa
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