quarta-feira, 24 de abril de 2024

Nova Iorque/Cerca de 281,6 milhões de pessoas em elevado nível de insegurança alimentar em 2023

Bissau, 24 Abr 24 (ANG) - Cerca de 281,6 milhões de pessoas enfrentavam elevados níveis de insegurança alimentar aguda em 2023, ano em que as crises alimentares aumentaram drasticamente em zonas de conflito como em Gaza e no Sudão, segundo um relatório hoje divulgado.

Os dados constam da mais recente edição do Relatório Global sobre Crises Alimentares (GRFC, na sigla em inglês) produzido pela Rede de Informação sobre Segurança Alimentar (FSIN, na sigla em inglês) e que analisou 59 países/territórios em crise alimentar.

Embora a percentagem global da população analisada que enfrenta níveis elevados de insegurança alimentar aguda tenha sido ligeiramente inferior à de 2022, permaneceu superior face aos níveis anteriores à pandemia de covid-19.

Os conflitos iniciados no ano passado na Faixa de Gaza e no Sudão provocaram um rápido aumento da insegurança alimentar aguda e de desnutrição dessas populações.

"A grave escalada do conflito no Sudão a partir de abril de 2023 e na Faixa de Gaza a partir de outubro de 2023 conduziu a crises alimentares devastadoras", aponta o relatório.

Para avaliar uma situação de insegurança alimentar aguda, as agências internacionais recorrem a uma ferramenta técnica: o Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), que se baseia numa escala de padrões científicos internacionais

A classificação "Fome" representa a fase de maior gravidade da escala de insegurança alimentar aguda do IPC, que possui cinco estágios: fase 1 (mínima), fase 2 (stress), fase 3 (crise), fase 4 (emergência) e, finalmente, fase 5 (catástrofe/fome).

O Sudão tem o maior número de pessoas no mundo a enfrentar níveis de Emergência (IPC Fase 4) de insegurança alimentar aguda, de acordo com o relatório.

Já a Faixa de Gaza tornou-se na crise alimentar mais grave na história do IPC e do GRFC, com toda a sua população de 2,2 milhões na Fase 3 do IPC ou num nível ainda mais grave.

A análise realizada em dezembro do ano passado identificou mais de um quarto da população do enclave palestiniano a enfrentar a fase de catástrofe (IPC Fase 5) e risco de fome.

No mês passado, a fome era iminente no norte de Gaza, região sob intensos bombardeamentos israelitas desde 07 de outubro de 2023, em retaliação pelo ataque sem precedentes do grupo islamita Hamas.

Ainda de acordo com o relatório, até julho próximo prevê-se que metade da população do enclave (cerca de 1,1 milhões de pessoas) sofra níveis de catástrofe (IPC Fase 5) de insegurança alimentar aguda, atingindo os 70% nas províncias do norte.

Estima-se ainda que quase um terço das crianças sofra de desnutrição aguda, no meio de hostilidades em curso e da falta de acesso a ajuda humanitária e a serviços essenciais.

Mais de 700 mil pessoas em cinco países enfrentaram catástrofe/fome (IPC Fase 5) em 2023 – o número mais elevado nos relatórios do GRFC e quase o dobro do registado em 2022.

"Nesta fase de insegurança alimentar aguda, as pessoas enfrentam uma extrema falta de alimentos e o esgotamento das capacidades de sobrevivência, o que leva à inanição, à desnutrição aguda e à morte", explica o levantamento, frisando que este nível requer medidas urgentes para evitar resultados extremos mais generalizados.

Choques recorrentes e cada vez mais intensos estão interligados e sobrepostos a crises alimentares, assinalada o documento, sublinhando que, no ano passado, os conflitos foram o principal fator em 20 países/territórios, levando 135 milhões de pessoas a enfrentar elevados níveis de insegurança alimentar aguda.

"Foi o principal impulsionador da maioria das dez maiores crises alimentares - em número ou percentagem", realça ainda o relatório, que acrescenta ainda choques na economia e eventos climáticos extremos como fatores que elevaram a insegurança alimentar em 2023.

No panorama global, em países com dados comparáveis entre 2022 e 2023, o relatório elaborado pela FSIN sublinha que a insegurança alimentar aguda deteriorou-se em 12 deles, onde mais 13,5 milhões de pessoas necessitavam urgentemente de assistência alimentar e de subsistência.

 Entretanto, a segurança alimentar melhorou em 17 países, resultando em menos 7,2 milhões de pessoas que enfrentam níveis elevados de insegurança alimentar aguda.

O Relatório Global sobre Crises Alimentares é resultado de uma parceria única e de um processo técnico que reúne a experiência de 16 das principais organizações de segurança alimentar e nutricional do mundo. ANG/Lusa

 


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