Rússia/Tropas forças de paz se retiram e
deixam controlo total ao Azerbaijão
Bissau, 23 Abr 24 (ANG) – As tropas russas
estão a retirar-se da região de Nagorno-Karabakh, no Azerbaijão, onde têm
estado estacionadas como forças de manutenção da paz desde o fim de uma guerra
em 2020, disseram hoje funcionários dos dois países.
Numa
videoconferência com jornalistas, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov,
confirmou relatos da retirada, mas não avançou mais pormenores.
Hikmet
Hajiyev, chefe da política externa da administração presidencial do Azerbaijão,
confirmou a retirada, dizendo que foi acordada por ambos os países, mas não
explicitou por que razão as forças russas estavam a sair do enclave, apesar de
ser reconhecido que a presença russa se tornou supérflua depois de o Azerbaijão
ter recuperado o controlo total da região no ano passado.
A
região de Nagorno-Karabakh esteve sob o controlo da etnia arménia até à guerra
de 2020, que resultou na recuperação do controlo de partes do enclave por Baku.
A
guerra terminou com um cessar-fogo mediado pela Rússia que previa a colocação
de cerca de 2.000 soldados de manutenção da paz nas partes de Karabakh que
ainda eram detidas pelos arménios.
Entre
os deveres destas forças estava o de assegurar a livre passagem na única
estrada que liga Nagorno-Karabakh à Arménia.
No
entanto, o Azerbaijão começou a bloquear a estrada no final de 2022, alegando
que os arménios a estavam a utilizar para o transporte de armas e contrabando
de minerais. Na altura, as forças russas não intervieram.
Devido
ao bloqueio, e após meses de uma escassez cada vez maior de alimentos e de
medicamentos em Nagorno-Karabakh, o Azerbaijão lançou um ataque fulminante em
setembro de 2023 que obrigou as autoridades arménias de Nagorno-Karabakh a
capitularem após um dia de negociações mediadas pelas forças russas.
Depois
de o Azerbaijão ter recuperado o controlo total do enclave, que tinha uma
população de cerca de 120.000 habitantes, mais de 100.000 arménios fugiram da
região, embora Baku tenha dito que eram bem-vindos a ficar e prometido que os
seus direitos humanos seriam garantidos.
Mas,
além da retirada das tropas russas, a Arménia e o Azerbaijão anunciaram hoje
terem começado a demarcar a fronteira comum, um passo importante para os dois
países do Cáucaso, que travaram várias guerras por questões territoriais,
apesar de, no terreno, a situação estar a complicar-se.
Num
comunicado, o Ministério do Interior do Azerbaijão declarou que grupos de
peritos estão "a clarificar as coordenadas com base num levantamento
geodésico do terreno".
O
Ministério do Interior arménio, que confirmou que estavam a ser realizados
"trabalhos de demarcação" na fronteira, excluiu "a transferência
de qualquer parte do território soberano da Arménia" para Baku na
sequência deste processo.
No
mês passado, o primeiro-ministro arménio, Nikol Pachinian, aceitou um pedido de
Baku para a devolução de quatro aldeias fronteiriças confiscadas pelas forças
de Erevan durante uma guerra na década de 1990.
A
decisão desencadeou manifestações de centenas de arménios da região
fronteiriça, que receiam ficar isolados e sob controlo de Baku.
Segunda-feira,
bloquearam brevemente a estrada que liga a Arménia à Geórgia, que passa nas
proximidades e representa para a população local a principal ligação ao mundo
exterior. Tentaram também impedir os trabalhos de desminagem.
Hoje,
entretanto, eclodiram novos protestos em vários locais da Arménia, nomeadamente
perto do lago Sevan e da cidade de Noyemberyan.
Na
semana passada, os dois países rivais anunciaram a sua intenção de demarcar a
sua fronteira com base em mapas que datam da era soviética.
Pachinian
sublinhou a necessidade de resolver os diferendos fronteiriços para
"evitar uma nova guerra" com o Azerbaijão.
As
duas ex-repúblicas soviéticas travaram duas guerras, a primeira na década de
1990, vencida pela Arménia e que provocou mais de 30.000 mortos, e a segunda em
2020, vencida pelo Azerbaijão e que deixou mais de 6.000 mortos.
Após a derrota arménia em 2020, Erevan foi forçada a ceder ao seu adversário um território significativo em Nagorno-Karabakh e arredores, um enclave que controlava há cerca de 30 anos. ANG/Lusa
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