quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Médio Oriente/Israel faz mais 40 mortos em Gaza e corta acesso da Cisjordânia à Jordânia

Bissau, 25 set 25(ANG) - Cerca de 40 pessoas foram mortas esta quarta-feira através de bombardeamentos israelitas na cidade de Gaza, mas também em Rafah e Khan Younès. Já na terça-feira, Israel anunciou que vai fechar a partir de hoje a fronteira de Allenby, principal ponto de passagem entre a Cisjodânia e a Jordânia.


Nem as críticas na Assembleia-Geral, nem o reconhecimento a larga escala do Estado da Palestina travam a guerra na Faixa de Gaza, com Israel a ter voltado a atacar nesta madrugada a cidade de Gaza, mas também Rafah e Khan Younès. Dezenas pessoas morreram nestes ataques aéreos, possivelmente 40, e outras 22 ficaram feridas, segundo a organização Defesa Civil.

Desde sexta-feira que as forças israelitas avisavam que iam atacar "de uma sem precedentes" a cidade de Gaza, levando à fuga de centenas de milhares de habitantes palestinianos. Embora não haja actualmente jornalistas internacionais em Gaza, os ataques desta madrugada podem ser verificados pelas enormes nuvens de fumaça que pairam em Gaza, segundo a Agência France Presse.

Na terça-feira, Israel anunciou que ia fechar a fronteira de Allenby, o principal ponto de passagem entre a Cisjordânia e a Jordânia e uma das principais portas de entrada da ajuda humanitária a Gaza. Este é um ponto que liga a Cisjordânia ao Mundo, já que não é necessário passar por Israel para aceder a este território, sendo um ponto nevrálgico desde 1967.

Ainda a caminho da Faixa de Gaza está a Flotilha por Gaza, que passa agora a ser vigiada por uma fragata italiana depois de na noite de terça para quarta-feira terem sido atacados ao largo da Grécia. Nesta flotilha, que pretende mostrar a solidariedade internacional ao povo palestiniano e romper o bloqueio israelita, há cerca de 60 italianos entre eles quatro deputados. A flotilha é composta por pessoas de 45 países diferentes.ANG/RFI

Portugal/ Nova versão da Lei de Estrangeiros mantém dois anos para reagrupamento familiar mas admite exceções

Bissau, 25 Set  25 (ANG) - A nova proposta de alteração à Lei de Estrangeiros mantém o prazo de dois anos de residência válida para pedir o reagrupamento familiar, mas admite várias exceções, incluindo para cônjuges, anunciou hoje o ministro da Presidência.

Em conferência de imprensa, António Leitão Amaro explicou que, embora se mantenha o prazo geral de dois anos indicado no diploma chumbado pelo Tribunal Constitucional, este passará para um ano quando se trate de cônjuges que coabitaram com o requerente do reagrupamento familiar no ano anterior a este ter imigrado para Portugal.

O governante disse ainda que a proposta, entregue hoje na Assembleia da República pelos grupos parlamentares de PSD e CDS-PP, alarga a solução de dispensa de prazo que já estava prevista para menores a maiores incapazes a cargo do imigrante e ao pai ou mãe do filho.ANG/Inforpress/Lusa 


     Filipinas/Novo balanço da maior tempestade do ano aponta para dez mortos

 Bissau, 25 set (ANG) - A passagem pelas Filipinas do supertufão Ragasa, a mais poderosa tempestade registada no planeta em 2025, causou pelo menos dez mortos, de acordo com um novo balanço divulgado hoje pelas autoridades do arquipélago.

O anterior balanço do Conselho Nacional de Redução e Gestão de Riscos de Desastres das Filipinas apontava para quatro vítimas mortais e 11 feridos devido a inundações e deslizamentos de terra no norte do país.

Sete pescadores afogaram-se depois de um barco ter virado, devido a ondas altas e ventos fortes, ao largo da cidade de Santa Ana, no norte da província de Cagayan (nordeste).

As autoridades provinciais reportaram a existência de outros cinco pescadores desaparecidos na sequência do incidente, ocorrido na segunda-feira.

Quase 700 mil pessoas foram afectadas pela passagem do supertufão Ragasa pela ilha de Luzon, incluindo 25 mil residentes que se protegeram em abrigos de emergência do governo.

Também hoje, o Centro de Resposta a Desastres de Taiwan informou que equipas de socorro estão a tentar estabelecer contacto com 124 pessoas desaparecidas no leste do país, após o transbordamento de um lago.

Uma torrente de água e lama inundou a cidade de Guangfu, na região de Hualien, na terça-feira, em consequência das intensas chuvas provocadas pelo supertufão Ragasa, que causou, pelo menos, 14 mortes.

Às 11:30 horas locais de hoje (04:30 em Lisboa), as autoridades de Hualien voltaram a emitir uma nova ordem de evacuação da cidade de Guangfu, por receio da barragem natural do afluente do riacho Matai'an voltar a ceder, avançou a imprensa de Taiwan.

Os tufões são fenómenos meteorológicos recorrentes nas Filipinas, sudeste da China e em Taiwan durante o Verão e o Outono, quando as águas quentes do Oceano Pacífico levam à formação de ciclones.

A agência meteorológica das Filipinas, PAGASA, disse, entretanto, que um novo ciclone tropical, o Bualoi, actualmente no sul do mar das Filipinas, deverá atingir o estatuto de tufão e atingir o arquipélago na sexta-feira.

O Bualoi evolui actualmente a 815 quilómetros a nordeste da ilha de Mindanau, com rajadas de vento até 105 quilómetros por hora, informou a agência.

A PAGASA disse que o ciclone continuará a intensificar-se" e "poderá atingir o estatuto de tufão antes de atingir a região de Bicol", no centro das Filipinas, na tarde de sexta-feira.

Depois de atravessar o arquipélago, o ciclone Opong, como é conhecido nas Filipinas, deverá seguir em direcção à capital, Manila, acrescentou a agência, no mais recente boletim.

Para já as autoridades das Filipinas emitiram apenas o aviso mínimo para ventos fortes na região central de Visayas.

As aulas presenciais continuaram hoje suspensas em várias províncias do norte do país, ainda devido ao impacto da passagem do supertufão Ragasa, na terça-feira.ANG/nforpress/Lusa

 

França/ Ex-PR Sarkozy condenado a cinco anos de prisão no caso do financiamento líbio

Bissau, 25 set 25(ANG) - O ex-Presidente Nicolas Sarkozy foi condenado a cinco anos de prisão no caso do financiamento líbio "com efeito diferido", ou seja, não vai cumprir a sua pena imediatamente. Sarkozy que dirigiu a França entre 2007 e 2012 foi hoje reconhecido culpado de associação criminosa no julgamento sobre o financiamento líbio à sua campanha presidencial de 2007. Uma sentença contra a qual já anunciou que iria apresentar recurso.

De acordo com a RFI,  significa que não deve cumprir imediatamente a pena, devendo ser convocado no prazo de um mês pela justiça no sentido de conhecer a data em que vai ser colocado em detenção. Para além disso, a justiça deu ordem de prisão com "execução provisória", ou seja, nenhum recurso terá efeito suspensivo sobre esta condenação.

"Dormirei na prisão de cabeça erguida" disse o antigo líder para quem "o que aconteceu hoje é de uma gravidade extrema para o Estado de direito, para a confiança que se pode ter na justiça". Ao denunciar "uma injustiça e um escândalo", Nicolas Sarkozy anunciou ainda que iria recorrer da sentença.

A presidente do tribunal, Nathalie Gavarino, apontou a "gravidade excepcional" das acusações que a seu ver "podiam alterar a confiança dos cidadãos". A juiza considerou ainda que "enquanto ministro e presidente dao partido UMP", Nicolas Sarkozy tinha "deixado os seus colaboradores mais próximos e apoiantes políticos - sobre os quais ele tinha autoridade e agiam em seu nome" dirigir-se às autoridades líbias "no intuito de obter ou tentar obter apoio financeiro na Líbia para obter financiamento da campanha" presidencial de 2007.

A investigação não conseguiu todavia comprovar que "o dinheiro oriundo da Líbia" tenha sido usado para um financiamento oculto da campanha presidencial de Nicolas Sarkozy, de acordo com a sentença."Para o tribunal, os elementos materiais da infracção de corrupção não são constituídos", argumentou a presidente do tribunal.

Desta feita, apesar de ter sido reconhecido culpado de associação criminosa, a justiça ilibou o ex-Presidente de 70 anos, das acusações de crime de desvio de fundos públicos líbios, corrupção passiva e financiamento ilegal da sua campanha eleitoral, sendo que outros dos co-acusados neste caso, o antigo ministro do Interior, Claude Guéant, 80 anos, e o ex-ministro da imigração, Brice Hortefeux, 67 anos, foram condenados.

O primeiro foi condenado a seis anos de prisão, com possibilidade de usar pulseira electrónica, após ser considerado culpado de corrupção passiva e falsificação. Por sua vez, Brice Hortefeux foi condenado a dois anos de detenção por associação criminosa, mas sem detenção imediata devido ao seu estado de saúde.

O antigo ministro das finanças, Eric Woerth, que foi tesoureiro da campanha presidencial de Sarkozy em 2007, foi ilibado.

Ao cabo de três meses de julgamento, em Março, a Procuradoria Nacional Financeira tinha reclamado em finais de Março, sete anos de prisão contra Nicolas Sarkozy, a pena mais pesada requerida contra qualquer dos réus neste caso, acusando-o de ter firmado um "Pacto de corrupção faustiano com um dos piores ditadores dos últimos 30 anos".

Na óptica dos procuradores, Nicolas Sarkozy, foi tanto um "patrocinador" como um beneficiário deste financiamento.

O sexto presidente da Quinta República Francesa (2007-2012) que ao longo dos mais de dez anos que durou todo o processo, clamou a sua inocência foi igualmente acusado de ter -a troco de dinheiro- favorecido o regresso da Líbia à cena internacional e de se ter comprometido a absolver o cunhado de Kadhafi, Abdallah Senoussi, condenado à prisão perpétua pelo seu papel no atentado do DC10 da UTA que custou a vida de 170 pessoas em 1989.

Por estas acusações, a Procuradoria tinha reclamado que Sarkozy pagasse uma multa de 300 mil euros e fosse condenado a cinco anos de inelegibilidade. Algo "infamante" segundo o interessado.

Este é apenas um dos casos em que o nome do ex-Presidente é citado. Condenado definitivamente a um ano de prisão por corrupção e tráfico de influência no chamado caso "das escutas", Nicolas Sarkozy já teve que usar uma pulseira electrónica no tornozelo entre Janeiro e Maio. Uma sanção inédita para um ex-chefe de Estado da qual recorreu junto do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

O Tribunal de última instância deve, entretanto, examinar a 8 de Outubro o recurso que ele apresentou no caso "Bygmalion", relativo às alegadas irregularidades no financiamento da sua campanha presidencial de 2012 e pelo qual ele foi condenado a um ano de prisão, dos quais seis meses firmes.ANG/RFI

Ucrânia/Zelensky avisa Europa que não pode perder a Moldova para a Rússia

Bissau, 25 Set (ANG) – O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, avisou quar-ta-feira que a Europa não deve “perder a Moldova para a Rússia”, como já perdeu Bielorrússia e Geórgia, e defendeu que os países em guerra se salvam com “amigos e armas”.

“Temos de nos lembrar como o mundo ignorou a necessidade de ajudar a Geórgia, após o ataque da Rússia, e como se perdeu a Bielorrússia. A Europa não pode perder a Moldova também”, disse Zelensky, na sua intervenção perante a Assembleia-Geral da ONU, num discurso em que acusou Moscovo de procurar repetir no território moldavo a mesma influência que o Irão exerce sobre o Líbano.

A Moldova, com um Governo e uma Presidente pró-europeístas, realiza no domingo eleições legislativas, vistas como cruciais para o futuro alinhamento político de Chisinau entre a União Europeia (UE) e Moscovo.

O chefe de Estado ucraniano afirmou que as instituições internacionais estão a falhar e que a realidade demonstra que o Direito internacional só funciona quando há aliados fortes e capacidade militar.

“É terrível, mas sem armas as coisas seriam ainda piores. Não há garantias de segurança sem amigos e sem armas”, explicou o líder ucraniano.ANG/Inforpress/Lusa

 

52º aniversário da Independência/ PR diz que Celebrar o “Dia da independência” é, também um momento de reflexão

 Bissau, 25 set 25 (ANG) – O Presidente da República disse que Celebrar o “Dia da Independência” é, também, um momento de reflexão em que interpela a todos sobre o que é que está a ser feito  para construir a Guiné-Bissau que “queremos” ter.

Em mensagem alusiva aos 52º  aniversário da Independência da Guiné-Bissau, proclamada no dia 24 de Setembro de 1973, pela Assembleia Nacional Popular, exprimindo a vontade soberana do povo guineense.

“O dia 24 de Setembro” é Dia da nossa Independência, é Dia de Unidade Nacional”, disse Umaro Sissoco Embalo.

Saudou,  em nome do Povo Guineense os Combatentes da Liberdade da Pátria que, das mais diversas formas, muitas vezes com o sacrifício da própria vida, deram tudo de si para a conquista da nossa Independência.

Manifestou a sua solidariedade aos guineenses, homens, mulheres e jovens, residentes no País. Mas também aos que vivem e trabalham no estrangeiro o abraço do Presidente da República. Um abraço de solidariedade, inspirado por sentimentos enraizados numa pertença comum, nos valores que juntos comungamos e que fazem de nós, um só povo, uma nação.

 O chefe de Estado afirmou que a tarefa de romper com esse legado negativo, passava pela redefinição das relações internacionais, para servir um projeto político que, ele próprio, como Chefe de Estado, decidiu encarnar.  

“No que diz respeito à situação em que se encontra o poder local na Guiné-Bissau, a falência dos sucessivos governos centrais das últimas décadas, parece ser uma evidência. Com a falta de um poder local legitimado por eleições diretas, as nossas cidades degradaram-se muito”, referiu na mensagem.

Disse que, cinco anos depois, o balanço não deixa nenhumas dúvidas. porque o país reforçou a sua  presença internacional é hoje, mais do que nunca, reconhecida e valorizada, com consolidação de relações com países amigos e instituições internacionais parceiras.

“Tivemos ocasião de presidir a CEDEAO. O  País acolheu a Décima Quinta Cimeira da CPLP, organização que estamos a presidir até 2027. Presidimos a Aliança dos Líderes Africanos Contra a Málaria (ALMA) e a OMVG, uma autoridade regional responsável pela produção e electrificação de quatro países da nossa sub-região: a Guiné Conacri, a Guiné-Bissau, o Senegal e a Gâmbia. A Guiné-Bissau é vice-presidente do Banco Oeste Africano de Desenvolvimento (BOAD)”, enalteceu Umaro Sissoco Embalo.

Por isso, afirmou que o desfecho das eleições, presidenciais e legislativas vai ser determinante para poder continuar, alargar e intensificar toda uma dinâmica de sucesso, já desencadeada desde o ano de 2020.

Prometeu consolidar o Estado de Direito Democrático, investir mais na Saúde, na Educação, na Justiça, combater o crime organizado e a corrupção,  aposta na Juventude, na promoção da cultura e o desporto.

Por outro lado, revelou que os resultados dos sucessos diplomáticos que foram alcançados, impactaram positivamente largos setores da governação do país, da economia e da sociedade, destacando  algumas realizações, tais como  construção de estradas nas regiões que melhoraram muito as condições de mobilidade e segurança dos cidadãos.

Acrescentou que o transporte marítimo melhorou bastante com a entrada em atividade de mais um navio – o “Centenário de Amílcar Cabral”, frisando que os impactos positivos – dessa maior mobilidade terrestre e marítima estão produzindo os efeitos esperados: quer na unificação do mercado nacional, quer no reforço da coesão territorial e social.

No que diz respeito à situação em que se encontra o ‘poder local ‘na Guiné-Bissau, disse que, tem a ver com  a falência dos sucessivos governos centrais das últimas décadas.

A titulo de  exemplo, disse que Bissau já tinha perdido muito da sua identidade como cidade-capital, mas com as obras de requalificação da cidade, Bissau voltou a constituir um motivo de orgulho para todos os guineenses.  

Acrescentou que outras duas importantes cidades do interior Bafatá e Gabú  beneficiaram de obras de requalificação urbana. É um processo que não vai parar. ANG/LPG/ÂC

 

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Justiça/Polícia Judiciária cria Brigada de Investigação de Crimes Ambientais e Contra Espécies Protegidas

Bissau, 23 Set 25 (ANG) – A Polícia Judiciaria(PJ) acaba de criar uma Brigada de Investigação de Crimes Ambientais e contra Espécies Protegidas(Biocrime), revelou um despacho tornado público pelo Gabinete de Comunicação da PJ.

 De acordo com o despacho à que a ANG teve acesso hoje, a nova estrutura da PJ passará a exercer jurisdição em todo o território nacional, incluindo áreas continentais, costeiras, marítimas e insolares, com especial atenção às zonas de reconhecidas sensibilidade ambiental, em particular o Arquipélago de Bijagós, Áreas Protegidas e Corredores Ecológicos.

O mesmo documento acrescenta que, a Brigada (Biocrime) tem por missão a prevenção, investigação e repressão de crimes ambientais e contra espécies protegidas, assegurando a defesa do património natural e da biodiversidade da República da Guiné-Bissau.

“Compete à (Biocrime) investigar crimes ambientais previstos na lei penal, incluindo a poluição, exploração ilegal de recursos, tráfico de espécies e destruição de habitats, e na prevenção e monotorização de áreas de risco”, lê-se na nota.

Recolher, analisar e difundir informações estratégicas sobre a criminalidade ambiental, execuções de operações policiais em articulação com outras unidades da polícia judiciária e forças de segurança, fazem parte da missão e responsabilidade para que a (Biocrime) foi criada.

Segundo o despacho, a Biocrime             será dirigida por um Inspetor, Coordenador Superior, designado pelo Diretor Nacional da Polícia Judiciária (PJ), conjugado por equipas técnicas e operacionais de investigação criminal.

ANG/LLA//SG   

 

 

 ONU/Guterres aponta "conflitos" no Sudão, Ucrânia e Gaza como fruto da impunidade

Bissau, 23 Set 25 (ANG) - O secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou hoje que vários países atuam alheios às regras internacionais e avaliou que essa impunidade gerou alguns dos conflitos "mais atrozes" da atualidade, referindo diretamente o Sudão, Ucrânia e Gaza.

"Em todo o mundo, vemos países a agir como se as regras não se lhes aplicassem. Vemos humanos tratados como menos que humanos. E precisamos de denunciar isso. A impunidade é a mãe do caos -- e gerou alguns dos conflitos mais atrozes dos nossos tempos", disse Guterres no arranque do debate de alto nível da Assembleia-Geral da ONU.

Começando pelo Sudão, o líder da ONU observou que os civis estão a ser massacrados, mortos à fome e silenciados, num conflito para o qual "não há solução militar".

Guterres exortou todas as partes, "incluindo as presentes" no salão da Assembleia-Geral da ONU, a acabar com o apoio externo que alimenta o derramamento de sangue no Sudão.

"Lutem pela proteção dos civis. O povo sudanês merece paz, dignidade e esperança", insistiu.

De seguida, Guterres direcionou as suas palavras para a guerra na Ucrânia, onde, frisou, a violência implacável continua a matar civis, a destruir infraestruturas civis e a ameaçar a paz e segurança globais.

O antigo primeiro-ministro português elogiou os recentes esforços diplomáticos dos Estados Unidos e de outros países em prol da paz na Ucrânia e apelou a um cessar-fogo total, que leve a uma paz justa e duradoura, em conformidade com a Carta das Nações Unidas, as resoluções da ONU e o direito internacional.

António Guterres mencionou depois a guerra em Gaza, "onde a escala de morte e destruição está além de qualquer outro conflito" que acompanhou ao longo dos seus dois mandatos como secretário-geral.

Em Gaza, "os horrores aproximam-se do seu monstruoso terceiro ano" e "são o resultado de decisões que desafiam a humanidade fundamental", lamentou.

O Tribunal Internacional de Justiça (o principal órgão jurisdicional das Nações Unidas) emitiu medidas provisórias, juridicamente vinculativas, no caso intitulado "Aplicação da Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio na Faixa de Gaza", recordou o líder da ONU, apelando a que as medidas sejam implementadas plena e imediatamente.

Contudo, afirmou o representante, o cenário só piorou desde então, frisando que foi declarado um período de fome e que as mortes intensificaram-se no território.

António Guterres voltou a insistir na solução de dois Estados como a única resposta viável para uma paz sustentável no Médio Oriente e pediu que sejam invertidas urgentemente as "tendências perigosas" no terreno, como a expansão dos colonatos e a ameaça iminente de anexação.

"Em todo o lado -- do Haiti ao Iémen, de Myanmar ao Sahel e mais além -- devemos escolher a paz ancorada no direito internacional", apelou.

Apesar de admitir alguns vislumbres de esperança no ano passado, incluindo o cessar-fogo entre o Camboja e a Tailândia e o acordo entre o Azerbaijão e a Arménia, mediado pelos Estados Unidos, Guterres reforçou que muitas crises continuam sem controlo.

"A impunidade impera. A ilegalidade é um contágio. Convida ao caos, acelera o terror e arrisca uma guerra nuclear sem limites. Quando a responsabilização diminui, os cemitérios aumentam", disse.

Nesse sentido, Guterres dirigiu-se àquele que é o órgão mais poderoso da ONU - o Conselho de Segurança -, cujas resoluções têm cariz vinculativo, para pedir que cumpra com as suas responsabilidades.

"Deve ser mais representativo, mais transparente e mais eficaz", insistiu, numa referência a este órgão que tem a responsabilidade primária pela manutenção da paz e segurança internacionais, mas que se vê frequentemente impedido de agir devido a vetos dos membros permanentes - China, Estados Unidos, França, Rússia e Reino Unido.

Neste que será o seu penúltimo discurso de abertura da Assembleia-geral da ONU enquanto secretário-geral, Guterres foi além das guerras e pediu que se combatam as injustiças que geram exclusão, desigualdade, corrupção e impunidade.

O chefe das Nações Unidas fez ainda uma ampla defesa dos direitos humanos, defendendo que não são um ornamento da paz, mas sim "o seu alicerce".ANG/Lusa

 

EUA/Trump acusa Índia e China de financiarem máquina de guerra russa

Bissau, 23 Set 25 (ANG) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou hoje a Índia e a China de serem os "principais financiadores da máquina de guerra russa" através da compra contínua de petróleo.

No discurso perante a Assembleia-Geral da ONU, por ocasião do debate geral de alto nível da 80.ª sessão, que arrancou hoje em Nova Iorque, Trump reiterou que o conflito na Ucrânia "nunca teria começado" se ele estivesse na Casa Branca em fevereiro de 2022.

"Era uma guerra que deveria ter durado três dias, mas já leva três anos e meio, com milhares de mortos semanalmente", afirmou o Presidente norte-americano.

Na intervenção, Trump sublinhou que Pequim e Nova Deli são "os pilares financeiros" de Moscovo e também apontou críticas aos aliados europeus.

"Estão a alimentar a guerra. E até países da NATO continuam a comprar energia russa. Estão a financiar o inimigo contra si próprios. Quem já ouviu falar em algo tão absurdo?", questionou o Presidente norte-americano.

"Europa, parem já com as compras. Caso contrário, estamos todos a perder tempo", insistiu Trump, garantindo que levantará o tema nas reuniões paralelas em Nova Iorque.

Numa questão que divide a Europa e os Estados Unidos, Trump apenas ameaçou impor tarifas de grande escala à Rússia caso o Kremlin (presidência russa) não aceite negociar a paz.

"Serão tarifas devastadoras. E, se os aliados europeus não se juntarem, de nada servirá. São vocês que estão ao lado de Moscovo, não nós", frisou Trump.

O Presidente acrescentou que o seu Governo está pronto para liderar uma coligação internacional de sanções comerciais, mas que o sucesso depende do envolvimento europeu.

Sobre o risco de novos conflitos armados, Trump apelou a um esforço global para travar o desenvolvimento de armas biológicas.

"Depois da pandemia, não podemos tolerar mais riscos. Vamos liderar um sistema de verificação com Inteligência Artificial, e espero que a ONU, pela primeira vez, consiga desempenhar um papel útil", anunciou o Presidente norte-americano, reforçando as críticas à ONU.ANG/Lusa

 

 Bélgica/Jornalistas palestinianos e Charlie Kirk nomeados para prémio Sakharov

Bissau, 23 Set 25 (ANG) - Jornalistas que cobrem a invasão israelita na Palestina, o movimento que luta pela democracia na Geórgia ou o ativista de extrema-direita norte-americano Charlie Kirk estão entre os nomeados para o prémio Sakharov, foi hoje anunciado.

De acordo com a informação divulgada durante a tarde de hoje, há oito candidaturas para o prémio Sakharov do Parlamento Europeu (PE), apresentadas pelos diferentes grupos políticos representados nos hemiciclos de Bruxelas (Bélgica) e Estrasburgo (França).

O grupo da Esquerda no PE nomeou os jornalistas Hamza e Wael Al-Dahdouh, Plestia Alaqad, Shireen Abu Akleh e o órgão de comunicação social Ain Media, em honra de Yasser Murtaja e Roshdi Sarraj, que morreram a fazer a cobertura da invasão de Israel ao enclave palestiniano da Faixa de Gaza desde outubro de 2023.

Também os Socialistas & Democratas (S&D) nomearam os jornalistas e trabalhadores humanitários em Gaza, representados pela Associação de Imprensa Palestiniana, o Crescente Vermelho Palestiniano e a Agência da Nações Unidas para Assistência aos Refugiados Palestinianos (UNRWA).

Os Verdes decidiram nomear a marcha Pride de Budapeste, pela liberdade sexual e de género, que se realizou na capital húngara sob a ameaça de repressão por parte das autoridades do país, uma vez que o Governo de Viktor Orbán tem aplicado políticas para restringir as liberdades da população que não é cisgénero e heterossexual.

Já a Europa das Nações Soberanas, o grupo político mais recente no hemiciclo europeu e composto por partidos de extrema-direita, nomeou o ativista nacionalista Charlie Kirk, dos Estados Unidos da América (EUA), morto a tiro a 10 de setembro, enquanto discursava numa Universidade no estado do Utah.

O ativista ficou conhecido pela difusão de ideias ultraconservadoras e por querer fazer avançar a agenda MAGA ("Make América Great Again", "Tornar os EUA Grandes de Novo", em português).

Os Conservadores e Reformistas Europeus nomearam Andrzej Poczobut, um jornalista, de 52 anos, de ascendência polaca e bielorrussa que é preso político do regime de Minsk.

Os Patriotas pela Europa querem que o galardão vá para Boualem Sansal, um escritor franco-argelino de 75 anos, enquanto os liberais escolheram os estudantes sérvios, que têm protestado por um futuro democrático.

Mzia Amaglobeli e o movimento pró-democracia na Geórgia receberam a nomeação da eurodeputada Rasa Jukneviciene (Lituânia) e de outros 60 europarlamentares.

Em outubro serão votados os três finalistas deste prémio, que homenageia pessoas e organizações/movimentos que se destacaram pela luta pela liberdade e democracia.ANG/Lusa

 

 ONU/Celebrações do 80  anos entre conflitos, pobreza crescente e alterações climáticas

Bissau, 23 Set 25 (ANG) - A presidente da Assembleia-geral que começa hoje oficialmente, Annalena Baerbock, antiga ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, na celbração dos 80 anos das Nações Unidas que decorreu na noite de segunda-feira, em Nova Iorque, disse que esta organização se encontra numa "encruzilhada" e que é preciso escolher "o bom caminho", um caminho de "união", ou pelo menos tentar.

Este é realmente, como também lembrou o português António Guterres, secretário-geral da ONU, um momento com muitos desafios, enumerando os conflitos em Gaza, na Ucrânia, no Sudão, acompanhados pela degradação das condições de vida de uma parte da população e do avanço das alterações climáticas, nomeadamente os recordes de calor registados um pouco por todo o Mundo, acompanhados por grandes fogos florestais.

A Assembleia-geral que começa hoje será também o regresso de Donald Trump às Nações Unidas, já que o Presidente dos Estados Unidos tomou posse do seu segundo mandato em Janeiro. Desde o seu regresso à Casa Branca, Donald Trump não só desmantelou a agência de ajuda internacional norte-americana, a USAID, como cortou o financimento à ONU saindo mesmo de algumas das suas agências.

Em Nova Iorque, Trump vai reunir-se com Volodymyr Zelensky, e também com o Presidente da Argentina, Javier Milei, um aliado ideológico que Washington pode vir a ajudar financeiramente.

João Lourenço, Presidente angolano e presidente em exercício da União Africana, já está também em Nova Iorque onde participará na Assembleia-geral, defendo que os países africanos devem ser incluídos como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com todos os direitos, incluindo o direito de veto.

A primeira pessoa a exprimir-se nesta assembleia será o Brasil, como é tradição, havendo pelo menos 89 chefes de Estado inscritos para falar, assim como mais de 40 chefes de Governo e mais de 45 ministros do Negócios Estrangeiros. A Assembleia-geral vai durar seis dias.ANG/RFI

 Sudão do Sul/ "O problema principal neste momento, são as milícias"

Bissau, 23 Set 25 (ANG) - O ex-vice-presidente do Sudão do Sul, Riek Machar, acusado de "crimes contra a Humanidade", comparece desde esta segunda-feira perante a justiça do seu país no âmbito de um julgamento cuja legalidade é contestada pelos seus advogados e pelos seus apoiantes que denunciam "motivações políticas", num contexto de eterna guerra fratricida com o seu mais directo adversário, o Presidente Salva Kiir.

Detido em regime de prisão domiciliar há mais de sete meses por estar alegadamente por detrás de um ataque cometido a 3 de Março por milícias chamadas de "Exército Branco" em Nasir, no nordeste do país, em que morreram mais de 250 militares, uma alta patente do exército assim como um piloto das Nações Unidas, Riek Machar enfrenta a justiça juntamente com sete outros réus acusados de "assassinato", "terrorismo" e "conspiração".

Este julgamento decorre numa altura em que se observa um aumento substancial da tensão num país que desde a sua independência em 2011, raramente conheceu momentos de serenidade, tendo sido palco de uma guerra civil que causou mais de 400 mil mortos entre 2013 e 2018.

Em 2020, a assinatura de um acordo de paz entre Riek Machar e o Presidente Salva Kiir para a partilha do poder, abriu uma página de esperança que parece agora estar a fechar-se, com os apoiantes de Riek Machar a lançar apelos para uma mobilização no sentido de se derrubar o regime, sendo que já se registam confrontos, com as Nações Unidas a contabilizarem em Junho mais de 165 mil deslocados.

Esta situação, já por si delicada, é agravada, segundo um recente relatório da ONU, pelo fenómeno da corrupção generalizada nas elites políticas desse país que é rico em petróleo mas cuja população vive na miséria.

Em entrevista concedida à RFI, Ana Elisa Cascão, investigadora independente especialista do Corno de África, analisa o contexto em que decorre o julgamento e o antagonismo -até pessoal- que existe entre o Presidente Salva Kiir e o seu antigo vice-presidente Riek Machar.

RFI: Em que contexto em que decorre este julgamento?

Ana Elisa Cascão: Em termos de contexto, o Sudão do Sul é o país mais novo do mundo, que nasceu em 2011, depois de um parto muito complicado e que tinha um líder que era respeitado por todos, que era John Garang. Mas já na altura estavam o Salva Kiir e Riek Machar. Faziam parte dos que estavam no terreno a lutar pela independência do Sudão do Sul. Ele morreu num acidente trágico de helicóptero no Uganda. Toda a gente sabe que não foi por mero acaso e, portanto, o poder foi entregue a estas duas figuras que acontece serem de etnias diferentes. Mas isso deixou de ser propriamente importante, porque isto tem a ver com a partilha do poder e partilha de recursos financeiros, obviamente, porque o Sudão do Sul tem bastante petróleo. E, portanto, isso é um incentivo, obviamente, a conflitos no país, que é extremamente pobre. Mas a guerra civil começou logo passado dois anos da independência. Em 2013 já tínhamos estes senhores a batalhar. Mas nessa altura havia um oleoduto a atravessar o Sudão que era um país estável, se podemos dizer assim. E portanto havia bastantes influxos financeiros e dava para alimentar os dois corruptos. Neste momento com a situação no Sudão, o investimento está a diminuir no Sudão do Sul. Significa que existe um bolo mais pequeno para partilhar, mas mais corruptos a quererem ter acesso a esse dinheiro. Em 2018, houve um acordo de paz, mas como muitos acordos de paz nesta região e noutras regiões, é um bocadinho uma paz podre. Mas este ano, as questões vieram todas ao de cima. Aqui já não estamos a falar de um exército ou só dois exércitos. Nós estamos a falar de milícias de um país que é controlado por milícias. Conclusão: quando estamos a falar de milícias, é um bocadinho difícil atribuir causalidade, dizer A, B, C, D isto, aquilo, aqueloutro. Portanto, independentemente de Riek Machar, que de facto devia estar a ser julgado por muitos crimes, o Salva Kiir provavelmente também devia. Agora, a questão é o dispositivo legal, depende. Quem é que o vai julgar? Há juízes independentes no sul do Sudão do Sul? Este processo é uma caça às bruxas e, portanto, não vai resolver propriamente nada. E quanto mais não seja, porque -espero que isto não seja mal entendido- mas o Salva Kiir está numa situação geriátrica. É uma pessoa que não tem saúde física e sequer ainda discernimento para ser o Presidente de um país que, obviamente, quer ter um mínimo de paz.

RFI: Ainda antes de se começar o julgamento de Riek Machar por crimes contra a Humanidade, na semana passada, peritos da ONU divulgaram um relatório estabelecendo que existe uma corrupção generalizada na elite do Sudão do Sul e que desde praticamente a independência, essa elite está a açambarcar as receitas do petróleo e deixou basicamente a população sem quase nada. Como se vive no Sudão do Sul?

Ana Elisa Cascão: Mais uma vez, é uma situação complicada. Portanto, este relatório das Nações Unidas vem providenciar evidência daquilo que toda a gente sabe. Basta visitar a capital do Sudão do Sul, Juba. Eu fiz isto em 2011 e 2012. O que é importante é, obviamente, ter carros de alta cilindrada e relógios Rolex. É assim que se mede o poder. O Sudão do Sul não tem outro recurso, não tem diamantes ou gás ou qualquer coisa desse género, mas tem o petróleo, que continua a ser um dos recursos mais importantes na economia global. E, portanto, neste momento temos empresas chinesas, da Malásia, a fazer exploração de petróleo nessa área. Portanto, podemos ver que há aqui um contínuo. A independência veio porque havia petróleo e a comunidade internacional apoiou a independência do Sudão do Sul. O facto é que o país tem todo o potencial. Agora começaram do zero. E isso é que nós também temos que ver. Não havia nada. Não foi a guerra civil que destruiu o que lá estava. E, portanto, houve essa ideia que a partir de 2018, com o acordo de paz, começou a haver mais infra-estruturas, porque também havia mais dinheiro. E agora, neste momento, temos aqui todo um país que é perfeito para corrupção e, depois, é um país que não tem acesso ao mar. Está rodeado de países que estão eles próprios em conflitos. Portanto, isto dá azo a estes políticos quererem manter no poder para todo o sempre. Não chegam sequer a confiar na sua própria 'entourage' própria. Mas o que é que vai acontecer? Vai mudar de mão. Portanto, os contratos feitos com estas grandes companhias internacionais vão ser feitos através de outras pessoas. Com certeza não vai acabar na mão dos Sudaneses do Sul que há muitos, muitos anos, deviam ter mais do que o mínimo em termos de tudo. Habitação, escolas, sítios para viver. Portanto, o que podemos observar é que as pessoas estão outra vez a fazer exactamente aquilo que fizeram durante a guerra civil do Sudão, que é abandonar o país.

RFI: Os apoiantes de Riek Machar dizem que estas acusações de "crimes contra a Humanidade" são meramente "políticas". Na semana passada, os peritos da ONU também disseram, por meias palavras, que, no fundo, o que está em jogo é uma luta entre ambos os campos pelo controlo dos recursos naturais. Isto, de facto, é mais uma questão política, uma luta pelos recursos?

Ana Elisa Cascão: Eu acho que é assim que se pode definir. Há aqui duas coisas em paralelo. Uma é haver recursos, é haver luta por esses recursos, sabendo que este dinheiro não é imediato, tem de haver aqui contratos com uma série de instituições. E depois, é a rivalidade pessoal. Têm mais de 70 anos, de certeza. Estão nesta luta e são vistos como líderes da independência, ainda que nem os principais, há 30 ou 40 anos atrás. E, portanto, é muito difícil substituí-los. Mesmo quem faz parte de um grupo ou de outro, falando, por exemplo, em termos étnicos, porque há uma divisão claramente étnica. Portanto, mesmo outras figuras poderiam eventualmente ser importantes e trazer algum tipo de esperança. Tenho muitos amigos no Sudão do Sul que dizem que 'quem não tem sangue nas mãos no sentido de que não batalhou na guerra pela independência do Sudão do Sul, não pode governar'. Portanto, estamos aqui a fechar um capítulo muito grande. E então, quem é que vai substituir esta geração? Mas penso que a população quer que haja eleições. Seja quem forem os candidatos. Porque estamos na situação em que foram sempre estas duas pessoas, como Presidente, vice-presidente ou grupos armados a ter quase dois exércitos.

RFI: Nesta altura, dado tudo o que aconteceu, a destituição de Riek Machar, o julgamento, os apoiantes a apelarem para que haja uma acção decisiva para mudar o regime, julga que estamos a caminho de uma nova guerra civil aberta?

Ana Elisa Cascão: Eu acho que ela já está a acontecer. A questão é que quando nós pensamos em guerra civil, estamos sempre a pensar num grupo contra o outro. Aqui é muito mais do que isso. Foi o que aconteceu em Março. Riek Machar disse que não tinha dado ordens a essas milícias e que as milícias tinham agido por conta própria. Nós podemos não acreditar. Eu não acredito. Mas o facto é que isso pode acontecer. E, portanto, tem que haver aqui um tipo de política, nesse caso, da União Africana ou alguns dos países vizinhos que têm algum poder de influência dentro do Sudão do Sul, como por exemplo, o Uganda, o Quénia. O problema principal neste momento, são as milícias. Se as milícias não respondem a ninguém, seja lá quem for que está sentado em Juba, o conflito vai continuar. Pode haver eleições, porque isto foi sempre um problema do Sudão. Foi sempre isso que se disse: que se se tornasse independente, esse risco estava lá. Porque são pessoas que estiveram envolvidas na guerra e é isso que elas conhecem, as lutas pelo poder, a luta com o vizinho do outro lado do rio. Há que desmobilizar as milícias. Há, por exemplo, forças da União Africana ou do IGAD (Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento). Isso acontece na Somália. Também já aconteceu no Sudão do Sul, na verdade. Portanto, deve haver algum tipo de pressão a nível político do topo. Mas ao mesmo tempo, para perceber porque é que estas milícias estão a crescer, elas estão a crescer por causa da pobreza. A corrupção não é uma coisa que acontece no topo. Quando se define corrupção, ela vai do ponto mais baixo até ao ponto mais cima do poder. E, portanto, aqui já temos todo um 'setting' que tem que ser modificado.

RFI: Quais são as hipóteses de a comunidade internacional, a ONU ou a própria União Africana de facto intervirem, tendo em conta que temos não sei quantos conflitos abertos, considerados todos urgentes?

Ana Elisa Cascão: Temos um genocídio a acontecer em Gaza, temos guerra no Myanmar, temos tantas guerras a acontecer que obviamente o Sudão do Sul é uma coisa menor. Vamos só olhar para o mapa africano neste momento. O conflito da República Democrática do Congo e do Ruanda não está nada resolvido e tem ligações com estes conflitos também. Mas o Sudão em si é a maior crise humanitária. Não estamos a falar do mesmo tipo de conflito que em Gaza, obviamente. Estamos a falar de um país que está numa guerra civil, que é a maior crise humanitária da história moderna. Dado o número de pessoas que foram deslocadas inclusive para o Sudão, a Etiópia, para o Egipto e para o Chade, tem que haver uma resposta. E aí sim, está na agenda o Sudão, porque tem muita influência. O Sudão tem mar, tem uma fronteira com o Chade, há uma crise humanitária incrível e muita ajuda humanitária não entra no Sudão, portanto, está a ir para o Chade. Portanto, temos aqui tantos focos. O Sudão do Sul aparece aqui como uma coisa menor. Neste momento, o Sudão no espectro africano é a coisa mais importante a ser resolvida, porque envolve a comunidade internacional, Emirados, a Arábia Saudita, etc, também no conflito. O Sudão do Sul não está no final da lista mas não é -com certeza- considerada uma prioridade.ANG/RFI