quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

França/Declarações "estrondosas" de Donald Trump podem pôr em causa cessar-fogo na Faixa de Gaza

Bissau, 06 fev 25 (ANG) - A ideia da tomada da Faixa de Gaza por parte dos Estados Unidos para aí criar uma estância balnear está a ter um impacto "estrondoso" no Médio Oriente, com os principais países da região a considerarem as declarações de Donald Trump como "inadmissíveis".

Declarações que podem contribuir ainda mais para a instabilidade na Faixa de Gaza, com as negociações de cessar-fogo ainda a decorrerem entre Hamas e Israel.

Após o Presidente Donald Trump ter dito que os Estados Unidos vão tomar conta da Faixa de Gaza, tendo em vista criar a Cote d’Azur do Médio Oriente, as reacções entre os países da região não se fizeram esperar. Perante a indignação de países como o Egipto, Jordânia ou Arábia Saudita, o Secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, veio dizer que a retirada de palestinianos do território seria temporária e que os Estados Unidos não pensam “por enquanto” enviar tropas para a Faixa de Gaza.

Estas declarações “estrondosas” de Donald Trump estão a ter um impacto por todo o Médio Oriente, como explicou Ivo Sobral, professor de Relações Internacionais na Universidade de Abu Dhabi, em declarações à RFI.

"As declarações de Donald Trump foram estrondosas aqui no Médio Oriente, inclusive dentro da política americana. Vários especialistas norte-americanos especializados em segurança e em particular zonas urbanas, declararam que era quase impossível existir uma operação americana para controlar Gaz. A primeira declaração de Donald Trump era que os Estados Unidos iriam encarregar-se de Gaza. E depois muitas outras pessoas aqui no Médio Oriente, muitos governos declararam que seria quase uma solução impensável, que basicamente iria romper com uma espécie de status quo que existia há muito tempo em relação à Palestina. A própria extrema direita israelita declarou que o plano de Donald Trump é uma boa ideia, mas que a sua implementação seria muito difícil", disse o especialista.

Entre os países que se manifestaram com mais veemência estão o Egipto e a Jordânia, que segundo Trump acolheriam os palestinianos, mas este plano também desagradou aos gigantes económicos da região como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e ao Qatar.

"Não há nenhuma voz que apoie abertamente este plano. Todos os países que contam no Médio Oriente, em particular estes cinco Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Egito, a Jordânia, o Qatar, as cinco potências árabes mais fortes, já declararam ontem que este plano era completamente inadmissível. O rei da Jordânia, estará hoje ou amanhã, nos Estados Unidos, para uma reunião de alto nível com Trump. Já declarou que a Jordânia não está disponível para receber mais palestinianos de Gaza. Neste caso, Jordânia é um país muito delicado, com um equilíbrio étnico muito, muito, muito delicado que, por possuir uma população maioritariamente palestiniana, já portanto mais palestinianos iriam alterar completamente este equilíbrio. Quanto ao Egipto, outro país apontado por Donald Trump para receber estes refugiados de Gaza, trata-se de uma zona extremamente delicada do ponto de vista de segurança. Existiram vários ataques contra as forças egípcias já no passado nesta zona, portanto, é uma zona instável, com presenças de coisas como o Daesh e com fundamentalismos islâmicos já a fazerem atentados contra as forças egípcias. Portanto, o próprio Presidente já disse que aceitar mais pessoas de Gaza é basicamente expor o Egipto a mais ataques. Portanto, temos aqui já estas dois nãos redundantes e com o apoio do Golfo da Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e Qatar, com os três a fazerem uma espécie de frente comum contra este plano de Donald Trump", indicou Ivo Sobral.

Estas declarações, mesmo que suavizadas na quarta-feira pelo Secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, podem vir a perturbar o frágil cessar-fogo entre o Hamas e Israel.

"Poderá afectar a segunda e terceira fase do acordo de reféns feitos entre o Hamas e Israel. Portanto, existem várias fases deste acordo e o Hamas aqui a ser pressionado e pode mesmo repensar se quer mesmo libertar os reféns. Há aqui um timing muito estranho que poucas pessoas ainda falaram sobre isto e que poderá colocar em risco ainda mais os reféns israelitas e todo este acordo que foi feito", concluiu o académico. ANG/RFI

 

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