Justiça/Cidadão impedido de viajar de Bissau para o exterior sem conhecer motivo
Bissau, 18 Jun
21 (ANG) - A situação de Veríssimo Nancassa, empresário guineense que se viu
impedido de viajar na segunda-feira de Bissau rumo a Dacar onde reside continua
por esclarecer.
Segundo a RFI, depois
de já ter efectuado todos os procedimentos antes de apanhar o seu voo, foi-lhe
retirado o cartão de embarque sem que lhe tenha sido apresentado algum motivo
legal.
"Fiz o check-in, fui fazer as formalidades da emigração, depois de
me terem carimbado o passaporte, fui à sala de embarque. Da sala de embarque,
fui convocado por uma senhora fardada que me pediu para lhe acompanhar.
Apresentei-lhe o meu passaporte e o meu cartão de embarque. Ela pediu-me para
aguardar. Entretanto, veio um senhor que recebeu o passaporte e o cartão de
embarque das mãos dela. O senhor disse-me para aguardar. Quando voltou, o
senhor disse-me que eu não podia viajar", contou à RFI na terça-feira Veríssimo Nancassa.
"Perguntei-lhe
se estava detido, ele disse-me que não e ficou com o meu cartão de embarque. Eu
disse-lhe que 'se eu não estou detido, não fiz nada, não tenho nenhum documento
que prove que eu fiz alguma coisa, há algum processo, há algo contra mim', ele
disse-me que não", relatou o
empresário ao sublinhar que "o
próprio senhor que o interpelou, disse claramente que recebeu instruções por
telefone de que não podia viajar".
Casos semelhantes envolvendo
designadamente responsáveis políticos continuam presentes nas memórias.
No ano passado, o antigo
Primeiro-ministro, Aristides Gomes, chegou a ser impedido de viajar, no âmbito
de uma medida de coação aplicada pelo Ministério Público. Também em 2020, a
antiga Ministra da Justiça, Ruth Monteiro, chegou igualmente a ser
impossibilitada de sair do país, em virtude de um termo de identidade e
residência imposto na altura pelo Ministério Público.
Neste caso concreto, para já, não se
conhecem os elementos que poderiam explicar esta situação, segundo refere
a defesa de Veríssimo Nancassa.
Em declarações a RFI quinta-feira, o
advogado do empresário e também deputado do APU-PDGB, Armando Mango, deu conta
da sua incompreensão e ao confirmar que o seu cliente permanece impossibilitado
de sair do país sem que lhe tenham sido notificados os motivos, Armando Mango
refere que "tentou contactar
as instituições susceptíveis de impedir um cidadão de viajar" para
saber "se
há alguma suspeita, algum documento legal que pudesse impedir a viagem".
O advogado conta "ter ido à
procuradoria, à polícia judiciária, ao Ministério da Justiça, ao Ministério do
Interior" mas que nenhuma destas entidades
referiu ter conhecimento desta situação. "Não há nenhum papel, nenhuma nota que
tenha mandado impedir que Veríssimo Nancassa viajasse", relata.
Questionado sobre uma informação que
circula nas redes sociais sobre a alegada existência de uma lista contendo os
nomes de pessoas que não podem sair do país, Armando Mango afirma "não ter
visto lista, não saber se há, nem quem a fez".
Ao dar conta da dificuldade em levar este
caso para os tribunais "porque não há nada, Veríssimo Nancassa é
impedido de viajar" por alguém que "abusou da sua autoridade",
Armando Mango garante que vai continuar a denunciar esta situação e considera
que "há
uma mão oculta que está a fazer isso, nós é que não conseguimos saber, porque
ninguém fala". ANG/RFI
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