EUA/Trump-Putin reúnem-se no Alasca
Bissau, 14 Ago 25 (ANG) - O presidente norte-americano, Donald Trump, reúne-se com o homólogo russo, Vladimir Putin, na sexta-feira no Alasca, o primeiro encontro de ambos desde que o político republicano regressou à Casa Branca, com foco no conflito na Ucrânia.
Ao longo dos últimos oito meses, Trump expressou admiração pelo líder do Kremlin mas também fúria e até repugnância devido aos violentos bombardeamentos na Ucrânia, que lhe deram a ideia de que "talvez Putin não queira terminar a guerra".
No seguimento de uma referência a uma "troca de
territórios" entre a Rússia e Ucrânia, que mereceu uma contundente recusa
do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e dos seus aliados europeus, a
Casa Branca já baixou as expectativas sobre o encontro.
A cimeira terá lugar na Base Conjunta Elmendorf-Richardson, nos
arredores de Anchorage. O início da reunião está marcado para as 11:30 locais
(20:30 em Lisboa).
É a primeira viagem de Putin aos Estados Unidos desde que 2015
se deslocou à Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque.
No Alasca, Putin não corre o risco de ver executado o mandato de
detenção emitido em 2023 pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de
guerra, uma vez que os Estados Unidos, tal como a Rússia, não estão vinculados
à instância judicial.
A cimeira decorre onde o Oriente se encontra com o Ocidente, num
local familiar para ambos os países como uma linha da frente da Guerra Fria, de
defesa antimíssil, postos avançados de radar e recolha de informações.
O encontro prevê apenas as presenças de Trump e Putin, que só
aceitará encontrar-se com Zelensky com uma base de acordo para o fim das
hostilidades e sustenta que "ainda se está muito longe" desse
momento.
Kyiv e os aliados europeus já expressaram oposição a um acordo
sobre o conflito sem a participação de Kyiv.
Como antecedente da reunião, Trump mostrou ao longo das últimas
semanas sinais de exasperação com Putin pela sua recusa em travar os
bombardeamentos em grande escala na Ucrânia, bem como de um cessar-fogo de 30
dias, defendido por Kyiv como primeiro passo para a paz.
Em alternativa, Moscovo exige condições inaceitáveis para
Zelensky, como a retirada das suas tropas das quatro regiões que a Rússia
invadiu desde 2022 (Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson) e a interrupção das
entregas de armas ocidentais a Kyiv.
Para uma paz mais ampla, Putin pretende que Kyiv ceda as regiões
anexadas, embora não controle a totalidade de nenhuma delas, e que renuncie à
adesão à NATO e aos seus planos de fortalecimento militar, e ainda o
reconhecimento do russo como língua oficial, a par do ucraniano.
A Rússia ocupa cerca de 20% do território ucraniano, incluindo a
Crimeia, quase toda a região de Lugansk e praticamente dois terços de Donetsk,
que, em conjunto, compõem o Donbass (leste), o centro industrial estratégico do
país.
A Rússia controla também mais de metade da região de Kherson e
partes de Zaporijia, ambas no sul da Ucrânia, e mantém pequenas bolsas de
tropas em Kharkiv e Sumy, no nordeste.
O Presidente ucraniano mantém-se firme na posição de que
qualquer acordo de paz só acontecerá com a participação do seu país e deve
contemplar garantias de segurança robustas para evitar novas agressões russas.
Desde o início do conflito, Putin tem jogado com o tempo e
alertou a Ucrânia de que enfrentará condições negociais mais difíceis, à medida
que as tropas russas progridem com vista a atingir outras regiões do país, como
Dnipropetrovsk, no centro do país.
Alguns observadores sugerem que a Rússia poderia ceder estes
ganhos recentes por territórios sob controlo ucraniano nas quatro regiões
anexadas por Moscovo e o próprio líder da Casa Branca sugeriu "trocas
territoriais" como parte dos seus esforços para terminar o conflito.
O Presidente norte-americano deu ainda a entender que poderiam
ser adicionadas vastas áreas marítimas que Kyiv perdeu desde o início da
invasão russa.
"Haverá alguma troca de terras em curso. Sei disso pela
Rússia e através de conversas com todos. Para o bem da Ucrânia. Coisas boas,
não más. E também algumas coisas más para ambos", disse Trump na
segunda-feira.
No entanto, Zelensky alega que Putin "está a fazer
'bluff'" sobre o seu poderio militar e a ineficácia das sanções contra
Moscovo como forma de condicionar as negociações.
Em simultâneo, insiste que "os ucranianos não entregarão as
suas terras ao ocupante" e essa perspetiva representaria um desastre para
a sua presidência, motivando protestos em potência ao fim de mais de três anos
de derramamento de sangue.
Além disso, a alteração das fronteiras definidas em 1991 está
fora da sua autoridade, pois seria uma violação da Constituição, um argumento
que Trump não compreende.
"Quer dizer, ele obteve permissão para entrar em guerra e
matar toda a gente. Mas precisa de permissão para fazer uma troca de
território?", questionou o líder norte-americano.
Por outro lado, Zelensky considera que só o facto de a cimeira
acontecer já é uma vitória para Putin, numa forma de legitimação que quebra o
isolamento ocidental a que estava sujeito, apesar de Moscovo preservar o apoio
tácito de outras potências, a começar pela China.
A Ucrânia pretende também garantir que Moscovo pague os
bilionários prejuízos da destruição que causou e devolva cerca de 20 mil
menores deportados à força para a Rússia, um tema muito sensível entre os
ucranianos.
Após ter defendido que esta guerra nunca teria acontecido se
estivesse no seu início na Casa Branca e prometido acabar com ela em 24 horas,
Donald Trump foi revendo o seu discurso desde que iniciou o seu segundo
mandato, em 20 de janeiro.
Perante a intransigência das partes, o líder norte-americano evoluiu
para manifestações de impaciência com os dois lados e, mais do que uma vez,
suspendeu o apoio militar e informações a Kyiv e ameaçou Moscovo com o
agravamento de sanções e tarifas secundárias a países importadores de petróleo
russo.
Um ultimato nesse sentido expirou na passada sexta-feira, no
mesmo dia em que foi anunciada a cimeira com Putin, ainda que Donald Trump
mantenha a hipótese de "consequências muito graves" para a Rússia se
o diálogo com o homólogo russo não produzir resultados em relação à Ucrânia,
embora não sejam de descurar avanços no relançamento das relações entre
Washington e Moscovo.
No início do seu segundo mandato, o político republicano
posicionou-se como um "pacificador e unificador" e assumiu-se como
candidato a um Prémio Nobel pelo seu envolvimento na Ucrânia, no Médio Oriente,
ou mais recentemente no longo conflito entre a Arménia e o Azerbaijão.
No entanto, na terça-feira, a porta-voz da Casa Branca, Caroline
Leavitt, baixou as expectativas sobre a cimeira no Alasca e indicou que será
"um exercício de escuta", que servirá para Trump "obter uma
melhor compreensão" da forma de colocar fim à guerra, que evoluirá para
uma reunião alargada com o Presidente ucraniano se na sexta-feira houver
progressos.
Na sua torrente de declarações sobre a cimeira, o Presidente
norte-americano sinalizou no início da semana que se pode desligar deste
processo: "Talvez diga 'boa sorte, continuem a lutar'. Ou talvez diga
'Podemos chegar a um acordo'".
O chanceler alemão, Friedrich Merz, promoveu na quarta-feira
várias reuniões virtuais prévias de alto nível, que envolveram Trump e
Zelensky, mas também representantes da União Europeia, o secretário-geral da
NATO e vários destacados líderes europeus.
Como resultado, os dirigentes europeus transmitiram o seu apoio
ao líder da Casa Branca na obtenção de um cessar-fogo, ou caso contrário
Moscovo terá de se sujeitar a novas sanções.
Do mesmo modo, "os interesses fundamentais da segurança
europeia e ucraniana devem ser protegidos", advertiu Merz, falando ao lado
de Zelensky em Berlim.
O chanceler alemão defendeu também que, embora Kyiv esteja
disposta a discutir questões territoriais, a base deve ser a atual linha de
contacto na frente de combate e que "deve ser mantido o princípio de que
as fronteiras não podem ser alteradas pela força".
Como sinal da continuação do apoio europeu a Kyiv, a Alemanha
anunciou na quarta-feira o financiamento de um novo pacote de 500 milhões de
dólares em equipamento militar norte-americano para a Ucrânia, no âmbito de uma
iniciativa da NATO, o terceiro nas últimas semanas no mesmo valor, após os
compromissos assumidos pelos Países Baixos e por Dinamarca, Noruega e Suécia.ANG/Lusa

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