Bissau, 25 Jan 18 (ANG) - O Jornal de Angola escreve, em editorial, que o Presidente angolano, João Lourenço, encontrou "cofres quase vazios" quando chegou ao poder e que o MPLA deve "assumir com clareza" o apoio ao atual Governo.
A posição surge no
habitual artigo de opinião assinado aos domingos pelo diretor do jornal detido
pelo Estado angolano, Victor Silva, nomeado para as funções em novembro pelo
chefe de Estado, João Lourenço.
Destacando a presença de
João Lourenço na Assembleia Nacional, na quinta-feira passada, para apresentar
e defender o Orçamento Geral do Estado para este ano - o que aconteceu pela
primeira vez na história do país -, o editorial afirma que o discurso do chefe
de Estado foi um "incentivo ao futuro".
"Face à realidade
de cofres quase vazios que encontrou, não hesitou em anunciar algumas medidas
corretivas, de equilíbrio macroeconómico, que se revelam duras no imediato, com
o agravamento das condições de vida das famílias, mas que trarão benefícios a
médio e longo prazos", refere o artigo, intitulado "No futuro, o
passado são migalhas!".
João Lourenço foi eleito
Presidente da República nas eleições gerais de agosto passado, pelo MPLA.
Rendeu no poder, ao fim de 38 anos, José Eduardo Eduardo dos Santos, que, no
entanto, continua presidente do partido, que suporta o Governo.
Desde que tomou posse,
no final de setembro, João Lourenço tem traçado uma política de combate à
corrupção e ao desvio de dinheiros públicos, criticando a impunidade do
passado. Afastou ainda vários filhos e outros elementos próximos do anterior
chefe de Estado da administração de várias empresas e instituições públicas,
granjeando um forte apoio popular interno.
O próprio diretor do
Jornal de Angola refere que o Governo, liderado por João Lourenço, enquanto
titular do poder executivo, vive um "estado de graça", que é "fruto
da coragem com que foi assumindo mudanças de vária índole".
Contudo, ressalva:
"Assistimos, também a coberto de algum anonimato vergonhoso, a um conjunto
de críticas pessoais à figura do Presidente da República, nomeadamente num
contexto de que este se estaria a afastar das determinações emanadas pelo
MPLA".
"A linguagem
desbragada de alguns comunicados a coberto do anonimato, o permanente
lançamento de insidiosos comentários em redes sociais, o denegrir constante de
pessoas do círculo pessoal e político do Presidente da República demonstra que
os tempos que aí vêm não serão apenas duros pelas circunstâncias económicas que
se conhecem, mas também pela insídia que certa gente quer perpetuar quando
sente os seus interesses pessoais ou familiares em causa", alerta.
Com José Eduardo dos
Santos na presidência do MPLA e João Lourenço na Presidência da República -
sendo ainda vice-presidente do partido -, a oposição angolana tem acusado a
atual estrutura no poder de bicefalia, acusação que é oficialmente desmentida.
"O MPLA está numa
encruzilhada, e se quiser manter o respeito, e futuramente a votação
maioritária dos angolanos, tem de assumir com clareza um apoio a este Governo e
unir esforços para que faça parte da solução e não seja um fator permanente de
promotor de problemas, dispensáveis nesta hora que se vive", alerta Victor
Silva, no editorial do Jornal de Angola de segunda-feira.
O Presidente da
República de Angola, João Lourenço, disse, a 08 de janeiro, que não sente
crispação com o ex-chefe de Estado José Eduardo dos Santos, mas aguarda que
cumpra o compromisso anteriormente assumido, de deixar a liderança do partido
em 2018.
"Só a ele compete dizer se o fará, se vai cumprir com esse compromisso. Quando isso vai acontecer, só a ele compete dizer", disse João Lourenço, que falava nos jardins do Palácio Presidencial, em Luanda, na sua primeira conferência de imprensa com mais de uma centena de jornalistas de órgãos nacionais e estrangeiros, quando passavam 100 dias após ter chegado à liderança no Governo.
ANG/DN
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