Vaticano/Papa comenta acusações de abuso sexual e renúncia de Ximenes Belo
Bissau, 26 Jan 23 (ANG) - O papa Francisco abordou as alegações de abuso sexual contra o bispo timorense Ximenes Belo, sugerindo numa entrevista que o vencedor do Prémio Nobel da Paz teve permissão para se aposentar mais cedo, ao invés de enfrentar um processo.
Depois de uma revista
neerlandesa ter divulgado o caso em Setembro, o Vaticano anunciou ter imposto
sanções disciplinares ao bispo timorense Ximenes Belo nos últimos dois anos,
após alegações de que o Nobel da Paz teria abusado sexualmente de menores no
seu país nos anos 1990.
Estas sanções incluem
limites aos movimentos do bispo e ao exercício do seu ministério, bem como a
proibição de manter contactos voluntários com menores ou com Timor-Leste.
No entanto, o Vaticano
não forneceu informações se os superiores de Ximenes Belo sabiam de qualquer
reclamação e não forneceu nenhuma explicação sobre a razão de João Paulo II ter
permitido que o bispo timorense renunciasse duas décadas mais cedo, no início
de 2002.
Em entrevista à
Associated Press (AP) terça-feira, Francisco sugeriu que foi esse o caso,
argumentando que era assim que tais assuntos eram tratados no passado.
"Isto é uma coisa
muito antiga, onde não existia a consciência de hoje", referiu Francisco.
"E quando foi
divulgado (em Setembro) sobre o bispo de Timor-Leste, eu disse: 'Sim, deixem
isso em aberto.' (...) Não vou encobrir, mas foram decisões tomadas há 25 anos,
quando não havia essa consciência", acrescentou.
O jornal neerlandês
explicou que as primeiras investigações a este alegado abuso remontam a 2002,
quando um timorense denunciou que o seu irmão era vítima de abusos.
Também em 2002, Ximenes
afastou-se repentinamente do cargo de chefe da Igreja Católica em Timor-Leste,
aos 54 anos, duas décadas antes da idade normal de reforma para os bispos,
alegando motivos de saúde.
Actualmente, Ximenes
Belo está em Portugal, onde os salesianos disseram que o acolheram a pedido dos
seus superiores.
Francisco reconheceu
também, durante a entrevista, que a Igreja Católica ainda tem um longo caminho
a percorrer para lidar com o problema, referindo que é necessária mais
transparência e que os líderes da Igreja devem falar mais sobre o abuso de
"adultos vulneráveis".
O sumo pontífice
confessou que teve uma curva de aprendizagem sobre os abusos, admitindo que o
seu momento de "conversão" ocorreu durante uma viagem ao Chile em
2018, quando desacreditou as vítimas do padre predador mais notório daquele
país.
Fazendo um gesto que
indicava que sua cabeça havia explodido, o papa continuou: "Foi quando a
bomba explodiu, quando vi a corrupção de muitos bispos".
Mais recentemente, o
papa tem lidado com casos de "adultos vulneráveis" que foram vítimas
de abuso sexual e que o código legal do Vaticano considera menores em processos
internos.
"Você pode ser
vulnerável porque está doente, pode ser vulnerável porque tem incapacidades psicológicas
e pode ser vulnerável por causa da dependência", realçou.
Acrescentou que "às vezes há sedução. Uma personalidade que seduz, que maneja a sua consciência, isso cria uma relação de vulnerabilidade, e aí você fica preso", agarrando os pulsos como se estivesse algemado.
ANG/Angop
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