Hostilidade contra jornalistas torna exercício da
profissão mais perigoso no mundo
Bissau,
18 abr 19 (ANG) - O número de países seguros para os jornalistas continua a
cair no mundo, devido a uma hostilidade contra o exercício da profissão,
segundo o relatório anual da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), que aponta
que a maior deterioração ocorreu nas Américas do Norte e do Sul, com o
prenúncio de um período sombrio no Brasil, noticiou a AFP.
O país perdeu três posições (105 entre 180 países) no
Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa, e se aproxima da zona vermelha, com
quatro jornalistas assassinados.
A eleição de Jair Bolsonaro, após uma campanha marcada
pelo "discurso de ódio, a desinformação, a violência contra os jornalistas
e o desprezo aos direitos humanos, prenuncia um período sombrio para a
democracia e a liberdade de imprensa".
"A hostilidade contra os jornalistas e inclusive
o ódio do qual fazem eco dirigentes políticos em muitos países, acabou
provocando agressões mais graves e frequentes" contra estes profissionais,
o que suscita um "clima de medo inédito em alguns lugares", condenou
nesta quinta-feira (18) a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF).
A RSF lembra o papel primordial que o WhatsApp teve na
campanha eleitoral brasileira. Pelo aplicativo circularam, por exemplo,
informações falsas destinadas, sobretudo, a desacreditar o trabalho de
jornalistas críticos ao candidato Bolsonaro.
No ranking dos 180 países avaliados, apenas 24% (26%
em 2018) estão em situação boa ou relativamente boa.
A Noruega se mantém pelo terceiro ano consecutivo na
primeira posição, seguida de Finlândia e Suécia.
Fecham a lista o Turcomenistão, antecedido da Coreia
do Norte. Também na lanterna, a China perdeu uma posição (177), assim como a
Rússia (149), onde o Kremlin "acentuou a pressão" sobre os meios
independentes e a Internet, "com detenções, revistas arbitrárias e leis liberticidas".
Os Estados Unidos (48) perderam três posições e entram
na zona "problemática". Além das declarações do presidente Donald
Trump contra a mídia, "os jornalistas americanos nunca tinham sido alvo de
tantas ameaças de morte", nem recorrido de forma tal à segurança privada
para sua protecção pessoal, segundo a RSF.
A ONG, sediada em Paris, destaca ainda que a
perseguição de jornalistas que incomodam as autoridades "parece agora não
ter limites". Cita o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi no
consulado de seu país na Turquia, que "enviou uma mensagem assustadora aos
jornalistas para além das fronteiras da Arábia Saudita ".
A Espanha subiu duas posições no ranking (29) e a
França, uma (32).
O informe aponta que América do Norte e do Sul
registaram a maior deterioração regional.
A melhora sutil registada em 2018 na América Latina
"foi breve", visto que o ambiente em que trabalham os jornalistas é
"cada vez mais hostil". As eleições em países como México (144),
Brasil (105), Venezuela (148) e Colômbia (129) provocou um
"recrudescimento dos ataques contra jornalistas, praticados sobretudo pela
classe política, funcionários públicos e ciber militantes".
Estes incidentes "contribuíram para reforçar um
clima de desconfiança generalizada - às vezes de ódio - contra a
profissão".
A Nicarágua registou uma das quedas mais
significativas do mundo (114, perdendo 24 posições), segundo a RSF, que
denuncia que os jornalistas que cobrem as manifestações contra o governo do
presidente Daniel Ortega, considerados opositores, são frequentemente
agredidos. "Muitos se exilaram para evitar ser acusados de
terrorismo", indica o informe.
Embora a chegada ao poder do presidente Andrés Manuel
López Obrador "tenha acalmado um pouco" as relações entre o poder e a
imprensa, o México continua sendo o país mais perigoso do continente para os
jornalistas, com dez assassinatos em 2018.
A Venezuela perdeu cinco posições, aproximando-se da
zona negra do ranking. O viés autoritário do governo de Nicolás Maduro provocou
um aumento da repressão contra a imprensa independente, enquanto a RSF registou
um número recorde de prisões arbitrárias e actos de violência praticados por
forças de ordem e serviços de Inteligência. Muitos jornalistas tiveram que se
exilar, enquanto jornalistas estrangeiros foram detidos e, inclusive, expulsos.
Cuba se manteve como o pior colocado na região (169),
apesar de subir três posições, caminho pelo qual segue a Bolívia (113, perda de
três posições). Para a ONG, o presidente boliviano, Evo Morales, segue o
"modelo cubano", controlando a informação e censurando "as vozes
demasiadamente críticas ".
"Alvo frequente" de ataques armados à
imprensa, vítima ainda de pressões e de tentativas de intimidação de parte da
classe política, El Salvador perdeu 15 posições e ficou em 81º lugar. ANG/RFI
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