França/Salah Abdeslam condenado a
prisão perpétua pelos atentados de 13 de Novembro
Bissau, 30 Jun
22 (ANG) - Salah Abdeslam, considerado como o único elemento vivo do
comando que perpetrou os ataques de 13 de Novembro de 2015 de Paris e
Saint-Denis e que fizeram 130 mortos e centenas de feridos , foi ,quarta-feira,
condenado a prisão perpétua sem qualquer possibilidade de libertação
antecipada.
Foi o fim de uma maratona judicial de
quase dez meses, ao longo de 148 dias de audiências, e mais de seis anos depois
dos ataques terroristas em Paris e Saint-Denis que fizeram 130 mortos e
centenas de feridos. Vinte arguidos foram julgados, 14 presencialmente (cinco
presume-se terem morrido em bombardeamentos na Síria e outro está preso na
Turquia).
Salah Abdeslam, considerado como o único elemento vivo do
comando que perpetrou os ataques da noite 13 de Novembro de 2015, foi
condenado a prisão perpétua sem a possibilidade de libertação antecipada. Esta
é a pena mais pesada do código penal francês.
Antes do julgamento, durante a fase de
instrução, Salah Abdeslam tinha optado pelo silêncio, mas acabou por falar nas
audiências. Na primeira, a 8 de Setembro, apresentou-se como "combatente
do Estado islâmico" e meses mais tarde admitiu ter desistido de
rebentar o seu colete de explosivos num café do 18° bairro de Paris “por
humanidade”. Algo contrariado pelas conclusões do colectivo de
juízes que julgou o caso e que falou em provas de um "colete
defeituoso".
Na quarta-feira, a sala de audiências
estava sobrelotada. Centenas de vítimas e familiares, assim como dezenas de
advogados, marcaram presença na leitura da sentença, ao início da noite.
Sandrine sobreviveu ao
atentado ao Bataclan e testemunhou no julgamento , em Outubro, , numa tentativa de “fechar uma porta” e
ultrapassar o que viveu. Esteve presente quase todas as semanas no "Palais
de Justice" de Paris e agora quer “tentar
passar a outra coisa”. Porém, o que fica é a tristeza. “Estou triste. Houve justiça nesta
sala, mas a humanidade perdeu. Com o que se passou no 13 de Novembro, a
tristeza vai ficar”, contou à RFI.
Também presente
esteve Patrícia Correia, mãe de Precila Correia, uma jovem francesa com
origens portuguesas que morreu no Bataclan. A vice-presidente da Associação
13onze15 fala em alívio: “A
sentença é que Salah Abdeslam nunca vai sair de prisão e fico muito aliviada. É
uma coisa muito importante porque não posso imaginar que ele possa sair da
prisão. Pela memória da minha filha”.
Mohammed Abrini, descrito pela
procuradoria como "o
segundo sobrevivente dos comandos da morte" e que teria
voltado atrás na noite de 13 de Novembro e regressado à Bélgica, foi condenado
a prisão perpétua com um mínimo de 22 anos de detenção sem liberdade
condicional. O belga, conhecido como “o
homem do chapéu” dos atentados de Bruxelas, acompanhou até Paris,
na véspera, os autores dos ataques, teria participado no financiamento e
no fornecimento de armas e arrendado os apartamentos onde ficaram os
terroristas. Este amigo de infância de Salah Abdeslam também falou durante as
audiências e reconheceu que estava “previsto
para o 13 de Novembro”, mas sem explicar as causas de se ter
retirado do "comando da morte" horas antes.
O sueco Osama Krayem e
o tunisino Sofien Ayari foram condenados
a 30 anos de detenção, sem possibilidade de liberdade condicional antes de
cumpridos dois terços da pena. A procuradoria antiterrorista tinha
adiantado que eles preparavam outro ataque no aeroporto de Amesterdão na noite
de 13 de Novembro, algo corroborado pelo colectivo de juízes na leitura da
sentença. Ambos preferiram não prestar declarações durante o julgamento. A
advogada de Osama Krayem limitou-se a falar em nome do seu cliente, em Janeiro,
segundo o qual “este
processo é uma ilusão” e “ninguém
está aqui para tentar compreender o que se passou e ter respostas”.
Por sua vez, Sofien Ayari justificou o seu silêncio dizendo: “Para pessoas como eu, é perigoso ter esperança”.
Mohamed Bakkali, considerado um dos
responsáveis logísticos do comando, também foi condenado a 30 anos de prisão,
sem possibilidade de liberdade condicional antes de cumpridos dois terços
da pena. Ao longo do julgamento, Mohamed Bakkali preferiu não fazer declarações
e justificou que a sua palavra “não
tinha valor” por estar “numa
situação onde tudo é desfavorável”.
Muhammad Usman e Adel Haddadi, descritos pelo Ministério Público como
"operacionais
contrariados" por não terem chegado a tempo dos atentados
quando saíram da Síria, foram condenados a 18 anos de prisão, tendo de cumprir
dois terços da detenção sem libertação condicional. Muhammad Usman,
paquistanês de 28 anos, e Adel Haddadi, argelino de 34 anos, foram presos em
Dezembro de 2015, um mês depois dos ataques, num refúgio de migrantes na
Áustria. Os dois tinham deixado a Síria rumo à Europa na rota dos migrantes,
juntamente com dois kamikazes do Stade de France. Foram recrutados por Oussama
Atar para realizarem um atentado em França. Estão presos desde 2016.
Ahmed Dahmani, actualmente detido na
Turquia e julgado à revelia em Paris, foi condenado a 30 anos de prisão, com
dois terços do tempo sem possibilidade de redução de pena.
Os cinco responsáveis do autoproclamado Estado Islâmico que
se pensa terem morrido em bombardeamentos na Síria - ainda que o
presidente do colectivo de juízes tenha precisado que “a morte deles não foi
oficialmente provada” - foram condenados a prisão perpétua incompressível,
ou seja, sem possibilidade de libertação antecipada. Trata-se de Oussama Atar, considerado como o comandante dos
atentados, Obeida Aref Dibo, Fabien Clain e Jean-Michel Clain, autores da mensagem
áudio a reivindicar os ataques e Ahmad Alkhald (ou Omar Darif), cujo
ADN foi encontrado em coletes de explosivos em Paris.
Mohammed Amri foi condenado a oito
anos de cadeia, tendo de cumprir no mínimo dois terços da pena. O
belgo-marroquino, de 33 anos, próximo dos irmãos Abdeslam, teria ido buscar de
carro Salah Abdeslam depois dos atentados para o levar para a Bélgica. Detido
na Bélgica a 14 de Novembro, foi extraditado em Julho de 2016 para França, onde
estava preso.
Ali Oulkadi foi condenado a
cinco anos de prisão, dois de prisão efectiva e três com pena suspensa. O
francês de 37 anos, próximo de Brahim Abdeslam, teria ajudado Salah Abdeslam a
esconder-se quando chegou a Bruxelas a 14 de Novembro, mas sempre negou ter
tido conhecimento dos planos terroristas. Detido na Bélgica a 22 de Novembro de
2015 e entregue à França em Abril de 2016, acabou por sair em liberdade sob
supervisão judicial em Junho de 2018.
Hamza Attou foi condenado a quatro
anos de prisão, dois de prisão efectiva e dois com pena suspensa. Ele tinha
sido detido na Bélgica no dia seguinte aos atentados por ter acompanhado
Mohammed Amri quando este foi buscar Salah Abdeslam a Paris. Hamza Attou
acabaria por ficar sob controlo judicial e compareceu livre ao julgamento.
Abdellah Chouaa foi condenado a
quatro anos de prisão, apenas um de prisão efectiva e três com pena suspensa. O
cidadão de nacionalidades belga e marroquina, com 40 anos, era suspeito de ter
dado apoio aos terroristas. Filho de um imã do distrito de Molenbeek em
Bruxelas, ficou em liberdade sob controlo judicial. Também compareceu livre ao
julgamento.
Ali El Haddad Asufi, de 36 anos e
nacionalidades belga e marroquina, foi condenado a 10 anos de prisão, sendo
obrigado a cumprir o mínimo de dois terços do tempo na cadeia. Ele era suspeito
de ter ajudado no fornecimento de armas e está preso desde Junho de 2019.
Farid Kharkhach foi o único que o
colectivo de juízes não considerou culpado de associação terrorista e foi
condenado a dois anos de prisão. O cidadão de nacionalidades belga e
marroquina, com 39 anos, foi considerado culpado por ter fornecido documentos
falsos à célula jihadista, mas sem ter sido provado que ele sabia para o que
serviriam os documentos. Farid Kharkhach foi detido na Bélgica em Janeiro de
2017 e estava preso em França desde Junho de 2017. Saiu, por isso, em liberdade
na noite de quarta-feira. ANG/RFI
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