Estado
Unidos/ Morreu Henry Kissinger: o diplomata do século
Bissau,30 Nov 23(ANG) - Henry
Kissinger, antigo secretário de Estado dos Presidentes americanos Richard Nixon
e Gerald Ford, morreu nesta quarta-feira, 30 de Novembro, aos 100 anos.
Actor incontornável da
diplomacia mundial, durante a Guerra Fria, Kissinger vê a imagem manchada
devidos às ligações com o golpe de estado de 1973 no Chile, a invasão de Timor
Leste em 1975 e à guerra no Vietname.
Henry Kissinger morreu em
casa, no Connecticut e para já não são conhecidas as circunstâncias da morte.
Em comunicado a família avança que Kissinger será sepultado numa cerimónia
privada da família, seguindo-se posteriormente uma cerimónia pública em Nova
Iorque.
Heinz Alfred Kissinger
nasceu em Furth, na Baviera, sul da Alemanha, a 27 de maio de 1923, e em 1938
mudou-se para os Estados Unidos com a família, antes da campanha nazi para
exterminar os judeus europeus.
Em 1943 naturalizou-se
cidadão americano, tendo mudado o nome para Henry. Mais tarde entra para o
serviço de contraespionagem e para o exército norte –americano, viajando depois
para Europa, durante a segunda Guerra Mundial, como intérprete alemão.
De regresso aos Estados
Unidos, inscreve-se em Relações Internacionais, na Universidade de Harvard,
antes de aí lecionar e de se tornar um dos seus diretores. É nessa altura que
os Presidentes democratas John Kennedy e Lyndon Johnson se começam a aconselhar
com Kissinger.
Nos anos 60, Kissinger
trabalha como consultor de agências governamentais, actuando como intermediário
do Departamento de Estado no Vietname. Utilizou as suas ligações com a
administração do presidente Lyndon Johnson para transmitir informações sobre as
negociações de paz ao campo de Nixon.
Em 1968, Richard Nixon
ganhas as eleições presidenciais com a promessa de acabar com a guerra no
Vietname e convida Henry Kissinger como conselheiro de segurança nacional.
Todavia, o processo de
transferir o peso da guerra das forças americanas de 500 mil soldados para os
sul-vietnamitas – fica marcado por episódios sangrentos e por
bombardeamentos maciços dos Estados Unidos contra o Vietname do Norte, a
exploração dos portos do norte e o bombardeamento do Camboja.
Em 1972, Henry Kissinger
declara que "a paz está próxima" no Vietname, mas os Acordos de Paz
de Paris alcançados em Janeiro de 1973 foram pouco mais do que um prelúdio para
a tomada final do sul pelos comunistas dois anos mais tarde.
Um ano mais tarde, para além
do seu papel de conselheiro para a segurança nacional, Kissinger foi nomeado
secretário de Estado - o que lhe conferiu uma autoridade incontestada na
diplomacia norte-americana.
É em 1973 que Henry Kissenger
recebe o Nobel da Paz - atribuído conjuntamente com LeDuc Tho, do
Vietname do Norte, que viria a recusá-lo. Na altura, dois membros
do Comité Nobel demitiram-se por causa da selecção, quando surgiram questões
sobre o bombardeamento secreto do Camboja pelos EUA.
O conflito israelo-árabe
implica Kissinger numa diplomacia pessoal, tendo realizado onze viagens entre
Israel, a Síria e o Egito até se chegar a um acordo.
Henry Kissinger estabeleceu
ainda relações com o principal rival comunista, a China, tendo efectuada duas
viagens ao país, incluindo uma secreta para se encontrar com o
primeiro-ministro Zhou Enlai. Os eforços diplomáticos acabaram com a
histórica cimeira de Nixon em Pequim com o Presidente Mao Tsé-Tung e a eventual
formalização das relações entre os dois países.
A história recorda ainda
Kissinger pelo apoio dado a ditaduras como as da Argentina, entre 1976 e 1983,
aos últimos anos do regime de Francisco Franco, em Espanha, e ao golpe de
Estado contra Salvador Allande, no Chile, em 1973.
Henry Kissinger deslocou-se
ainda a Portugal, a 12 de agosto de 1975, para se reunir na com embaixador dos
EUA em Lisboa, Frank Carlucci, e vários membros do Departamento de Estado, em
Washington, incluindo William Hyland, diretor do Departamento de Informações e
Pesquisa do Departamento de Estado.
A deslocação acontece um ano
depois do 25 de Abril que derrubou a ditadura e o Governo de Lisboa era
liderado por Vasco Gonçalves, o "inimigo número um" dos EUA. Frank
Carlucci e William Hyland concluíram que o maior risco para os objetivos
norte-americanos eram António de Spínola, o primeiro presidente pós-25 de Abril
e que liderou o 11 de março, e a extrema-direita. Na acta da reunião, o
ex-secretário de Estado norte-americano defendeu que não era assim "tão
contra" um golpe de estado de direita em Portugal durante o processo
revolucionário de 1975 e admitiu fornecer armas ao "grupo dos Nove".
Henry Kissinger abandona a
administração norte-americana em 1977, o que não o impediu de manter a sua
influência na diplomacia internacional. Em Julho de 2023, foi recebido pelo
Presidente Xi Jinping, numa altura de relações tensas entre a China e os
Estados Unidos. Henry Kissinger, presença habitual na Casa Branco, trabalhou
nos bastidores da diplomacia até ao fim.ANG/RFI
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