Bastonário da Ordem dos Advogados
considera de “intolerável” sofrimento dos guineenses perante actual sistema
judicial
Bissau,18
Jan 19 (ANG) – O Bastonário da Ordem dos
Advogados da Guiné-Bissau, considerou de “inadmissível e intolerável” o
sofrimento que os cidadãos nacionais estão a ter em relação ao actual sistema
judicial do país.
Basílio
Sanca em entrevista exclusiva à ANG, em jeito de reacção ao relatório anual do
Procurador-Geral da República sobre o estado da justiça na Guiné-Bissau,
afirmou que a população sofre com a má prestação da justiça, qualificando-a de “insuportável”
num país que se diz ser de Direito.
O Bastonário
da Ordem de Advogados disse concordar com o Procurador-Geral no que tange ao estado
físico das instalações judiciais mas também revelou que para além da falta dos
tribunais, existe um outro componente do
sistema que é os recursos humanos que devem merecer uma atenção da parte do
Estado por ser indispensáveis para o bom exercício do sistema judicial.
Aquele
responsável indicou ainda a falta de fiscalidade, do funcionamento da inspecção
e da avaliação de conhecimentos como outros aspectos que não contribuíram para o
bom funcionamento do Ministério Público, e acresecenta:”como se não bastasse, o
Procurador-Geral age como um político que assaltou o poder judicial”.
“Numa perspectiva de quem comanda o sistema, eu
acho que neste momento estamos a assistir o pior momento do funcionamento de
Ministério Público na história do país. Já tivemos casos de desvio de
procedimentos, falta de rigor no controlo de trabalho dos magistrados do Ministério
Público mas que nunca atingiu esse nível”, lamentou Basílio Sanca.
Sanca exorta
o Procurador-Geral, enquanto titular de acção penal, a jurar com a fidelidade e
a legalidade perante o povo, “porque em relação a responsabilidade de combater
a corrupção e actos criminosos ele é primeiro a estar na linha de frente em
termos de transmitir a ideia de convicção e a independência necessária, bem
como da autonomia dos magistrados judiciais que só respondem dentro da carreira
hierarquia do Ministério Público”.
Por outro
lado, avisou que, se a escolha do Procurador-Geral continuar a ser de forma aleatória
sem respeitar os estatutos do próprio Ministério Público e o mérito, não será
possível a construção de um sistema judicial coeso e independente.
Por isso,
disse ser urgente a definição de critérios para nomeação do Procurador-Geral da
República e o seu mandato, respeitando o princípio da hierarquia que consta no
estatuto em vigor no Ministério Público, porque a forma como é escolhido, não contribui
para a coesão interna do sistema, na medida em haverá sempre guerrinhas, sobretudo para os
magistrados de categoria superior em relação a pessoa escolhida.
Contudo,
acha que a própria magistratura do Ministério Publico também não está
interessada em trabalhar para a consolidação de um sistema coerente, justo e
equilibrado.
Sustennta
que há muito que os magistrados têm
motivos para irem à greve, porque todas as escolhas feitas até aqui violaram o
Estatuto do Ministério Público.
Perguntado
sobre a prestação da justiça no ano passado, o Bastonário da Ordem de Advogados
relacionou a má prestação do sistema ao
assalto do poder político ao poder judicial e para além disso o Procurador não conseguiu
manter uma posição de equidade ao nível dos discursos que fez e aquilo que
chamou de “aberração total da justiça”, na investigação de algumas questões que
acha serem importantes e fundamentais para transmitir a confiança aos cidadãos no
sistema judicial.
Basílio
Sanca aconselha ao Procurador-Geral a valorizar o papel da inspecção daquela
instituição porque é com base nos seus relatórios que se fornece as
insuficiências do sistema, frisando que é urgente a sua correcção.
“Se a
situação se prevalecer haverá sempre promoção
de magistrados até ao Supremo Tribunal de Justiça sem devida preparação, por
não terem sido devidamente avaliados os seus desempenhos durante os seus
percursos profissionais”, referiu.
Procurador-Geral
apontou como motivo de fuga de quadros com competências para outras
instituições, Basílio Sanca disse ser um problema nacional, a título de exemplo,
indicou que um licenciado que ganha 100
mil francos, para já não consegue arrendar uma casa com luz e água, por isso
disse que o Ministério Público não deve continuar a pensar que é o único nessa
situação e que todos os outros funcionários estão bem. ANG/LPG/ÂC//SG
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