Manuscritos de Amílcar Cabral na Fundaçao Mário Soares
vão ser devolvidos à Guiné-Bissau
Bissau,30 Jan 19(ANG) - Os manuscritos de Amílcar Cabral que se encontram
na Fundação Mário Soares, em Lisboa, vão regressar à Guiné Bissau com o apoio
de Cabo Verde, Portugal e da CPLP, afirmou terça-feir o embaixador guineense na
cidade da Praia.
No
final de um encontro com o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas
cabo-verdiano, Abraão Vicente, o embaixador guineense em Cabo Verde, M´Bala
Alfredo Fernandes afirmou aos jornalistas que esses documentos vão regressar à
Guiné-Bissau, porque era lá que se encontravam antes de serem resgatados e
preservados pela Fundação Mário Soares.
Trata-de
de manuscritos daquele que é considerado o pai fundador das nacionalidades
guineense e cabo-verdiana, originais, bem como alguns CD e livros importantes
que foram digitalizados pela fundação portuguesa.
Na
altura, recordou o diplomata, os arquivos “estavam totalmente estragados,
queimados pelas tropas senegalesas e desprezados nas ruas de Bissau”.
“Foram
as próprias autoridades guineenses de transição, na pessoa do primeiro-ministro
Francisco José Fadul, que chamaram, em tempo útil, a Fundação [Mário Soares] e
esta, na pessoa do administrador Alfredo Caldeira, seguiu para a Guiné numa
viagem clandestina para recuperar os arquivos. É uma grande obra de
solidariedade da Fundação Mário Soares para com a Guiné-Bissau”, afirmou.
O
encontro de hoje, na cidade da Praia, demonstrou que “a diplomacia funcionou”.
“Recebemos
do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde uma grande
mão de solidariedade em ajudar que esses arquivos voltem para a Guiné-Bissau em
todo o seu sentido, quer na ajuda do transporte, quer na ajuda da
digitalização”, comentou o diplomata.
Cabo
Verde, prosseguiu o embaixador, “vai pôr os técnicos do Arquivo Nacional a
ajudar para que [o arquivo de Cabral] seja transportado para a Guiné-Bissau”.
Sobre
o destino dos documentos, o diplomata disse que o mesmo nunca foi alvo de
discussão: “O espólio saiu da Guiné Bissau. Nunca o Governo de Cabo Verde se
intrometeu a dizer que vinha para cá ou iam para outro sítio”.
“Houve
uma preocupação, neste caso do comandante Pedro Pires”, antigo Presidente
cabo-verdiano e que preside a Fundação Amílcar Cabral, “que foi determinante
nesse aspeto”, disse, referindo que este sempre alertou que "o espólio
tinha de voltar para a Guiné-Bissau”.
O
regresso deste arquivo de Amílcar Cabral à Guiné-Bissau será sempre após as
eleições neste país, marcadas para 10 de março, e contará com a ajuda de
Portugal, Cabo Verde e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Para
o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente,
“a Guiné-Bissau e Cabo Verde têm de assumir a história comum e tudo o que tem a
ver com Amílcar Cabral tem de ser tratado com a máxima discrição e seriedade”.
“Os
arquivos têm de voltar à Guiné-Bissau, porque saíram da Guiné-Bissau. Só em
caso de a Guiné não ter as condições e o dizer explicitamente e formalmente à
Cabo Verde é que Cabo Verde poderá acolher os escritos e os arquivos”,
prosseguiu.
Do
encontro com o embaixador guineense
ficou acordado que Cabo Verde vai disponibilizar serviços e apoio técnico para
a preparação do espaço que irá receber o arquivo, bem como “algum tipo de apoio
financeiro, que não será avultado nunca, devido aos constrangimentos”.1
Nesta
conversa foi abordada a hipótese de uma visita ministerial de Cabo Verde à
Guiné-Bissau, também para depois das eleições, de modo a “preparar as
instituições culturais para um intercâmbio efetivo”.
Sobre
a candidatura dos escritos de Amílcar Cabral ao Registo Memória do Mundo da
UNESCO, Abraão Vicente disse que os trabalhos estão a decorrer.
“Ainda
não existe candidatura, porque ainda não existe comissão nacional de memória do
mundo, mas vamos ao longo dos próximos seis meses fechar este processo”,
afirmou o governante cabo-verdiano.ANG/Lusa
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