Reino Unido/Governo
britânico prepara novos voos de deportação para o Rwanda
Bissau, 15 Jun 22 (ANG) - O Governo
britânico já começou preparativos para novos voos de deportação de migrantes ilegais para o
Rwanda, apesar de um primeiro voo ter sido cancelado por decisão do Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos, revelou hoje a ministra do Interior.
"Embora esta decisão do Tribunal de
Estrasburgo de intervir tenha sido decepcionante e surpreendente, dadas as
várias decisões ponderadas em contrário nos nossos tribunais nacionais,
continuamos empenhados nesta política", afirmou no Parlamento Priti Patel.
A ministra disse aos deputados que
acções judiciais para travar voos de deportação são normais, mas que acredita
que o Governo está a "respeitar plenamente os compromissos nacionais e
internacionais" e adiantou que "os preparativos para os próximos voos
já começaram".
"Somos um país generoso e acolhedor
(...) Mas a nossa capacidade de ajudar os necessitados está gravemente
comprometida por aqueles que vêm ilegalmente" vincou, alegando que a
despesa com migrantes ilegais ronda os cinco milhões de libras (seis milhões de
euros) por dia.
A deputada do Partido Trabalhista,
Yvette Cooper, replicou, alegando que o plano é "confuso e vergonhoso, e a
ministra do Interior não tem mais ninguém a culpar senão ela
própria".
No avião para o Rwanda, disse, iam
viajar "vítimas de tortura", país cujo regime é criticado devido à
falta de respeito da liberdade de expressão, direitos dos LGBT (Lésbicas, Gays,
Bissexuais e Transgénero) e violência contra civis.
"Se ela fosse séria no combate à
migração ilegal, estaria a trabalhar noite e dia para conseguir um melhor plano
conjunto com França para reprimir os bandos e impedir que os barcos entrem na
água. Mas não o faz porque a relação com os ministros franceses foi totalmente
quebrada", lamentou.
O deputado do SNP Stuart McDonald
considerou a medida do Governo uma "política impraticável, imoral e
ilegal" que "não faz nada para impedir os traficantes", causa
danos às vítimas e representa um desperdício de dinheiro dos contribuintes.
"Não foram os advogados que
causaram o cancelamento deste voo, ou qualquer tribunal", mas
"ilegalidade governamental", apontou.
O Reino Unido cancelou na terça-feira à
noite o seu primeiro voo de deportação para o Rwanda após uma intervenção de
última hora do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que considerou haver
"um risco real de danos irreversíveis" aos requerentes de asilo.
Nos últimos dias, advogados e activistas
dos direitos humanos conseguiram reduzir de 37 para sete um número de
passageiros graças a uma série de acções judiciais, apesar de os tribunais
britânicos terem por várias vezes recusado impedir a realização do primeiro
voo.
Uma avaliação mais ampla à política do
Governo será feita pelo Tribunal Superior [High Court] de Londres em Julho.
Organizações defensoras dos direitos
humanos, partidos da oposição e líderes religiosos condenaram a política do
executivo de Boris Johnson.
O jornal Daily Mirror calculou que o
custo do voo cancelado terá rondado entre as 200 mil e 500 mil libras (230 mil
e 580 mil euros).
O acordo com o Rwanda permite às
autoridades britânicas enviar para o país africano os migrantes ilegais que
atravessem o Canal da Mancha, onde ficarão enquanto os pedidos de asilo são
avaliados.
O Governo prometeu pagar 120 milhões de
libras (144 milhões de euros) ao Rwanda, que vai receber principalmente homens
solteiros que chegam ao Reino Unido através de embarcações ou camiões.
As sondagens mais recentes mostram que
os britânicos estão divididos quanto a esta política, tendo um estudo da YouGov
concluído que 44% apoiam e 40% são contra, enquanto outra sondagem da Savanta
ComRes indica que 41% são favoráveis e 28% são contra. ANG/Angop
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